Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 21/05/2015
Diante do
agravamento da crise econômica, da desagregação da base política do
governo e dos escândalos de corrupção, o PSDB reivindica a condição de
única alternativa real de poder ao atual governo.
Foram fortes as bicadas tucanas durante o programa do PSDB de rádio e
tevê de terça-feira à noite: atacou frontalmente o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e bateu duro no “estelionato eleitoral” da
presidente Dilma Rousseff, ao mostrar suas promessas de campanha
eleitoral e confrontá-las com as medidas adotadas pelo governo depois
das eleições.
Mas a grande surpresa mesmo foi a oposição sem
subterfúgios ao pacote de ajuste fiscal que o governo tenta aprovar no
Congresso. Como se sabe, Dilma vem fazendo tudo o que dizia que o PSDB
faria se ganhasse as eleições. Aécio, porém, chamou de “injusto” o
pacote de ajuste fiscal e defendeu a redução de ministérios, proposta
defendida pela bancada do PMDB na Câmara.
Em cadeia nacional de tevê,
estrelaram o programa o candidato tucano nas eleições passadas e o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que promoveu o mais duro
ataque. “Nunca antes na história desse país se errou tanto e se roubou
tanto em nome de uma causa”, disse. Foi uma espécie de ajuste de contas:
“Os enganos e desvios começaram no governo Lula”.
O programa não ficou
apenas na mídia tradicional, houve intensa atuação do PSDB nas redes
sociais, num duelo com os petistas, que convocaram um “tuitaço” para
responder aos tucanos. As imagens mais fortes do programa foram as do
“panelaço” contra a presidente Dilma Rousseff, logo na abertura. Com o
slogan “Oposição a favor do Brasil”, o PSDB procurou se ligar às
recentes manifestações populares e carimbar os governos Lula e Dilma
como responsáveis pelo “petrolão”.
Polarizações
Na
oposição desde 2002, o PSDB quer manter a polarização que vem pautando a
política brasileira desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi
eleito presidente pela primeira vez, derrotando Lula. Diante do
agravamento da crise econômica, da desagregação da base política do
governo e dos escândalos de corrupção, o PSDB reivindica a condição de
única alternativa real de poder ao atual governo.
Teve início, porém, um
grande realinhamento de forças, cujo catalisador será a reforma
política em discussão no Congresso. O mundo político anda inquieto com o
surgimento de uma oposição de massas independente, via redes sociais,
que não tem uma liderança de visibilidade, mas está organizada em todo
território nacional. Protagonistas das manifestações de 15 de março, que
surpreenderam políticos e analistas, o movimento aparentemente refluiu,
mas organiza uma quixotesca marcha a Brasília, que deve culminar com
uma manifestação em 27 de maio defronte ao Congresso.
As últimas
eleições presidenciais revelaram os limites dessa polarização PT versus
PSDB, que se manteve no segundo turno, mas abriu espaço para a
candidatura de Marina Silva, tanto em 2010 quanto em 2014. A ex-senadora
acriana, porém, não conseguiu até hoje consolidar um partido próprio, a
Rede. Continua filiada ao PSB, que atraiu o PPS para uma fusão e mantém
um bloco parlamentar com o Partido Verde e o Solidariedade no
Congresso.
A movimentação mais surpreendente, entretanto, ocorre no
campo governista. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva emite sinais
de que pode se descolar do governo Dilma Rousseff e já busca construir
uma candidatura em 2018 alavancada pelos movimentos sociais com os quais
mantém relações intensas, principalmente a CUT e o MST. De outro lado, o
ex-governador Tarso Genro, a partir do Rio de Janeiro, articula uma
dissidência petista que se aproxima do PSOL e mantém-se leal à
presidente Dilma Rousseff.
Mas o grande jogo, no momento, está sendo
feito pelo PMDB, com o vice-presidente Michel Temer no comando das
articulações políticas. O cacique peemedebista tanto pode vir a ser o
futuro candidato da legenda em 2018, como protagonizar a afirmação
radical da vocação parlamentarista do partido, dependendo dos
desdobramentos políticos da crise e dos resultados das eleições do ano
que vem. É o que se fala nos bastidores do Congresso.
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