Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 13/05/2015
Quase sempre
a votação da reforma política resulta em mudanças cosméticas no sistema
eleitoral e na legislação partidária, uma maneira de mudar para manter
tudo como está
O deputado Marcelo Castro
(PMDB-PI) apresentou ontem seu relatório sobre a reforma política, no
qual defende propostas que vão do fim da reeleição à substituição do
voto proporcional pelo chamado “distritão”. A discussão da reforma
política na Câmara dos Deputados, com suas idas e vindas, porém, costuma
ser mitigada pela síndrome do peru às vésperas do Natal, que costuma
atacar a maioria dos deputados nessa questão. Como se sabe, não adianta
convidar esse galiforme para a ceia porque sabe que vai morrer.
É
que a maioria dos deputados teme mexer no sistema que garantiu a
eleição deles. Isso gera uma força de inércia nas votações. Quase sempre
a votação da reforma política resulta em mudanças cosméticas no sistema
eleitoral e na legislação partidária, uma maneira de mudar para manter
tudo como está. No parecer apresentado à comissão especial da reforma
política na Câmara, Marcelo Castro propõe o estabelecimento de eleições
unificadas, o fim da reeleição para cargos do Executivo e estabelece que
os prefeitos eleitos em 2016 ficarão apenas dois anos no poder.
Castro
mudou de posição e adotou o “distritão”, sistema defendido pelo
vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), e pelo presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O parlamentar defendia o sistema
distrital misto, que combina o voto proporcional e o voto majoritário.
Nesse caso, os eleitores votam duas vezes, uma para candidatos no
distrito e outra para a legenda dos partidos. O “distritão” acaba com as
tradicionais eleições proporcionais para deputados, que distribui as
vagas na Câmara de acordo com a votação dos partidos ou coligações.
Seriam eleitos os candidatos mais votados em cada unidade da Federação.
Outra
novidade é a unificação das eleições e a duração dos mandatos, a partir
de 2018: todos teriam cinco anos. Os prefeitos eleitos em 2016 teriam
um mandato de apenas dois anos, mas poderiam tentar a reeleição pela
última vez. Os atuais prefeitos, assim, poderiam chegar a 11 anos no
cargo. Cada estado elegeria os três senadores mais bem votados, os três
seguintes com maior número de votos seriam eleitos suplentes. Cada
partido poderia lançar até três candidatos.
A comissão deve
adotar o modelo misto para financiamento de campanha, com doações de
pessoas físicas e jurídicas para os partidos, com um teto para doação, a
ser regulamentado por projeto de lei. Os programas de tevê seriam
protagonizados única e exclusivamente por candidatos, sem efeitos
especiais e outros recursos de marketing. O relatório também acaba com
as coligações proporcionais, limita o acesso à tevê e radio e ao Fundo
Partidário às legendas com mais de 3% de votos no país e 2% nos estados.
Engessamento
A reforma proposta por Castro
foi elaborada sob medida para consolidar o poder do PMDB no Congresso,
pois pega o PT no pelourinho e o PSDB na oposição. Também engessa o
quadro partidário, embora force um realinhamento de forças políticas,
com fusões e incorporações de siglas. Para se tornar mais palatável às
bancadas, permite a formação de federações de partidos, de caráter
nacional e permanente, e abre um prazo para o troca-troca de agremiação
sem risco de perda de mandato. É nesse sentido que a mudança na
legislação ocorre para manter o controle político do país nas mãos de
quem já o detém, tanto em nível nacional como em âmbito regional.
Não
há espaço para o surgimento de novos partidos e candidaturas
competitivas à Presidência da República a partir dos novos atores
políticos, como ocorre na Europa. Para movimentos sociais, como o Vem
Pra Rua e o Passe Livre, protagonistas das manifestações de março
passado e de junho de 2013, respectivamente, a possibilidade de haver
alternativa de poder simplesmente não existirá. Candidaturas avulsas de
personalidades, como o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim
Barbosa, também estão fora de cogitação.
O PT discorda do
projeto, ao defender o voto em lista e o financiamento público de
campanha. O PSDB propõe o voto distrital e o financiamento misto. O
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pretende marcar a votação da
reforma tão logo a proposta seja aprovada na comissão especial, o que
pode ocorrer na quinta-feira. A prioridade dele é aprovar o “distritão” e
o fim das coligações.
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