Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 28/05/2015
Com a prisão
de sete dirigentes da Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria
Marín, o vento virou a favor de Romário, que fez um gol de placa: vai investigar os cartolas do futebol.
O senador Romário conseguiu criar no
Senado a CPI da CBF, antiga promessa de campanha que nunca fora à frente
porque a bancada da bola, cujo principal representante é o deputado
Vicente Cândido (PT-SP), diretor de relações internacionais da entidade,
sempre teve muita força na Câmara. Quando deputado, o ex-craque não
conseguiu emplacar a CPI porque a Copa do Mundo de 2014 era o grande
circo preparado para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Romário,
que manifestou o desejo de ser o relator da comissão, afirmou que serão
investigadas as gestões dos três últimos presidentes da entidade,
incluindo a gestão de Ricardo Teixeira.
Mas agora, com a prisão
de sete dirigentes da Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria
Marín, o vento virou a favor de Romário, que fez um gol de placa com a
CPI da CBF. Ontem, a presidente Dilma Rousseff deu uma espécie de sinal
verde para a CPI: “Acredito que toda investigação sobre essa questão é
muito importante. Acho que ela vai permitir uma maior profissionalização
do futebol. Não vejo como isso pode prejudicar o futebol brasileiro.
Acho que só vai beneficiar o Brasil. E acho que, se tiver de investigar,
que investigue todas as Copas, todas as atividades”, disse, durante
entrevista na Cidade do México.
A prisão de Marin e outros
dirigentes da FIFA foi a notícia do dia em todo o mundo. A polícia Suíça
prendeu-os num hotel em Zurique, às vésperas do congresso da entidade, a
pedido das autoridades norte-americanas. Quatorze pessoas – nove
dirigentes da Fifa e cinco executivos de marketing esportivo – são
acusados de crimes como extorsão e lavagem de dinheiro. A reeleição do
presidente da Fifa, Joseph Blatter, à frente da entidade desde 1998,
subiu no telhado. Ele disputa o quinto mandato.
A investigação
americana é conduzida pelo FBI e abrange casos de corrupção nos últimos
vinte anos. O esquema teria movimentado mais de US$ 150 milhões. Todos
os presos serão extraditados para os Estados Unidos. Eles são acusados
de recebimento de propina dos organizadores das copas da Rússia, em
2018, e do Catar, em 2022, a dirigentes da Fifa, para garantir que os
países fossem escolhidos como sedes; de superfaturamento do contrato da
CBF com uma empresa de fornecimento de material esportivo; e da compra
de direitos de transmissão por agências de marketing esportivo dos
seguintes campeonatos: Copa América Centenária, edições da Copa América,
Libertadores da América e Copa do Brasil (torneio de clubes
brasileiros). O esquema Blatter entrou em colapso porque começou a
operar no novo e já milionário soccer (futebol) norte-americano,
despertando a atenção do FBI.
Segundo o Departamento de Justiça
americano, seis acusados já se declararam culpados. Um deles é figurinha
carimbada no Brasil: José Hawilla, que já está condenado, fez uma
espécie de acordo de delação premiada. Ele é dono da empresa de
marketing esportivo Traffic, que negocia direitos de competições com a
Conmebol, Concacaf e a CBF. Hawilla é também acionista da TV Tem, uma
das afiliadas da TV Globo. Ontem, a Polícia Federal brasileira fez uma
operação de busca e apreensão na agência de marketing esportivo Klefer,
do ex-presidente do Flamengo Kleber Leite. A empresa é a responsável
pela venda dos direitos de transmissão das eliminatórias da Copa de 2018
e da Copa do Brasil. Ou seja, estão seguindo o dinheiro.
Marta livre
O
Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem derrubar uma regra do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que determinava a perda do mandato de
um político eleito pelo sistema majoritário – senadores, prefeitos,
governadores e presidente – que mudasse de partido. Por maioria de
votos, os ministros entenderam que esses cargos pertencem à pessoa
eleita e não ao partido pelo qual foi eleita. A decisão beneficia a
senadora Marta Suplicy (SP), que deixou o PT e estava ameaçada de perder
o mandato pela cúpula da legenda, que pretendia exigir na Justiça
Eleitoral a sua substituição por um suplente filiado à legenda. Essa
possibilidade existirá apenas para cargos do sistema proporcional –
vereadores e deputados estaduais e federais. Marta pretende disputar a
Prefeitura de São Paulo, possivelmente pelo PSB.
Bateu no teto
O
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), perdeu o rumo com a
derrota da proposta de distritão, na terça-feira à noite. Mesmo com o
apoio do PCdoB e do Solidariedade, a proposta de mudança do sistema
eleitoral obteve apenas 210 votos, quando precisava de 308. A forma
açodada como conduziu a votação da reforma política desgastou Cunha, que
até então parecia imbatível em plenário. Acabou derrotado pela própria
Casa que preside. Como a votação da reforma estava organizada em função
de aprovação do distritão, e isso não aconteceu, as demais votações,
ontem, foram arrastadas e tumultuadas.
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