Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 17/04/2015
Após a redemocratização,
virou palavrão ser de direita. Agora, a mesma coisa pode a acontecer
com os partidos de esquerda, inclusive os que estão na oposição
Inverteram-se as
situações. Antes, era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que
estava evitando aparições públicas ao lado da presidente Dilma Rousseff.
Agora, a criatura é que já não faz questão de posar ao lado do criador.
Lula temia ser contaminado pela crescente impopularidade do governo,
agora é Dilma que teme ser contaminada pela desgastada imagem do PT, que
Lula tenta salvar como quem puxa um afogado pelos cabelos.
Na
verdade, do ponto de vista das pesquisas de opinião, já não faz tanta
diferença se vão aparecer juntos ou separados. A imagem dos dois foi
atingida pela crise econômica e o escândalo de corrupção na Petrobras.
Não estão rompidos, mas as reclamações mútuas só crescem, como ocorre
com os casais cujo casamento entrou em crise. Resultado: cada um adotou a
própria estratégia de sobrevivência.
Lula faz movimentos
contraditórios: defende a execução do ajuste fiscal com a maior
brevidade possível nos bastidores, principalmente com os empresários.
Publicamente, porém, atua no sentido de mobilizar os movimentos sociais
organizados — CUT, UNE, MST etc. — em defesa das “conquistas”. Mira as
eleições de 2018, pois somente sua candidatura pode representar uma
alternativa de poder para o PT.
Ontem, na posse do novo ministro
da Educação, Renato Janine Ribeiro, Dilma vestiu o manto protetor do
patriotismo. “Eu tenho certeza de que a luta pela recuperação da
Petrobras que está em curso é minha, é do meu governo, e eu tenho
certeza que interessa a todo o povo brasileiro. O que está em jogo é a
nossa soberania, o futuro do nosso país e da educação”, disse. Para
Dilma, a exploração de petróleo nas áreas do pré-sal vai assegurar
recursos permanentes para a educação.
Aparentemente, a presidente
da República segue a cartilha do marqueteiro João Santana, que criou o
slogan “Brasil, pátria educadora” para ser a marca do segundo mandato de
Dilma. “A fonte das riquezas que planejamos para sustentar a educação
já está em atividade. Mais do que isso, vai garantir uma renda
sistemática para os próximos anos”, afirmou.
Ao se posicionar
como salvadora da Petrobras e do pré-sal, porém, Dilma joga no colo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a responsabilidade pelos
desmandos na estatal, que é a principal causa de desgaste eleitoral do
ex-presidente.
No ventilador da Operação Lava-Jato, o discurso
de que a oposição é golpista e conspira para derrubar Dilma porque ela
defende os mais pobres se mistura com as denúncias de envolvimento do PT
no esquema de desvio de dinheiro da estatal. O resultado disso é um
desastre para a imagem do governo e do próprio partido perante s
parcelas mais pobres da população, nas quais a queda de popularidade de
Dilma é vertiginosa, e a rejeição ao PT só aumenta.
Não é só
isso: o desgaste político causado pelo mensalão, pela Operação Lava-Jato
e por outros escândalos já é semelhante à herança deixada pelo regime
militar para as forças conservadoras do país. Após a redemocratização,
virou palavrão ser de direita. Agora, a mesma coisa começa a acontecer
com os partidos de esquerda, inclusive os que estão na oposição.
Sangue na floresta
A
pesquisa Ibope/CNI divulgada na semana passada estimulou os predadores.
Seu efeito foi devastador na base do governo no Congresso,
principalmente no Nordeste, onde Dilma passou, pela primeira vez, a ter
seu governo avaliado como “ruim ou péssimo” pela maioria da população
(55%).
A CPI da Petrobras é outro fator complicador. Não é à toa
que o assessor especial Marco Aurélio Garcia abriu as baterias contra o
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que prestará depoimento na CPI na
quinta-feira. Ele se recusa a sair. O Palácio do Planalto teme que o
depoimento funcione como combustível para as manifestações de protesto
programadas para 12 de abril, domingo.
Ontem, a presidente
convidou o ex-deputado e ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha
(PMDB), para ser o novo titular das Relações Institucionais, abrindo uma
vaga para o ex-deputado Henrique Eduardo Alves na Aviação Civil. Mas
aguarda uma consulta do vice-presidente Michel Temer aos presidentes do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
para confirmar a indicação.
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