Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 16/04/2015
A
prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ontem surpreendeu o Palácio do Planalto e a cúpula do
PT. Acreditava-se que ele responderia às acusações em liberdade no caso Lava Jato
Na manhã de
15 de janeiro de 1975, Elson Costa, de 61 anos, responsável pelo setor
de agitação e propaganda do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB),
tomava café num bar ao lado de sua casa quando foi sequestrado por seis
agentes dos órgãos de segurança do regime militar.
Alguns
vizinhos tentaram protestar contra a ordem de prisão, pois, para eles,
quem estava sendo preso era o aposentado Manoel de Souza Gomes, que
vivia na Rua Timbiras,199, bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Era o
nome que usava na clandestinidade, conforme registro de ocorrência
policial que fizeram na 11ª DP.
Elson Costa nunca mais apareceu,
como outros dirigentes do antigo Partidão, entre eles o diretor do
jornal Voz Operária, Orlando Bonfim Junior, 60 anos. Ele foi sequestrado
em Vila Isabel, em 8 de outubro de 1975, quando ainda tentava
reorganizar o aparelho de propaganda comunista. Desde 1973, o regime
militar executava uma operação de cerco e aniquilamento do Comitê
Central do PCB.
A direção do Partidão havia entrado em colapso
depois que duas gráficas clandestinas foram localizadas e desmanteladas,
uma em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em dezembro do ano anterior
(funcionava desde 1966), e outra no Cambuci, em São Paulo, em fevereiro
de 1975.
Na onda de prisões que se seguiu, morreram na tortura
em São Paulo o primeiro-tenente da PM-SP José Ferreira Almeida, o
jornalista Vladmir Herzog e operário Manoel Fiel Filho, cujo assassinato
levou ao afastamento do general Ednardo D’Ávilla Mello do comando do II
Exército.
Atitude suspeitaEm plena
democracia, no poder há 12 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) corre o
risco de ver a sua direção entrar em colapso por causa de uma gráfica
de São Paulo, localizada pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato e
que prestou serviços para o Palácio do Planalto e ministérios.
Não
se trata de um aparelho clandestino para publicar um jornal, que era o
que faziam os dois jornalistas que constam da lista oficial de
desaparecidos da Comissão da Verdade. O PT sequer tem um jornal, embora
critique muito a imprensa. Segundo o juiz federal Sérgio Moro, de
Curitiba, a Editora Gráfica Atitude, de CNPJ 08.787.393/0001-37, era
utilizada para lavar dinheiro de propina destinado às campanhas do PT,
em 2010, 2011 e 2013.
“A utilização por João Vaccari da Editora
Gráfica Atitude para recebimento e lavagem de ativos ilícitos destinados
ao Partido dos Trabalhadores (PT)” é uma das principais acusações do
pedido de previsão preventiva do tesoureiro do PT, que foi detido ontem
quando fazia sua caminhada matinal em São Paulo e está preso na
carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Segundo a delação
premiada do executivo Augusto Mendonça, mediante indicações do
ex-diretor da Petrobras Renato Duque e Vaccari, foram feitos pagamentos à
gráfica no montante de R$ 2,5 milhões, dos quais a Polícia Federal
conseguiu comprovar a efetivação de 14 pagamentos, no valor total de R$
1,5 milhão.
Constam como proprietários da gráfica o
Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC. Juvândia Moreira Leite, presidente do primeiro, é a suposta administradora
da empresa. Para complicar a situação, segundo a denúncia, a gráfica
teria sido utilizada também para a realização de propaganda oficial
ilícita em favor do Partido dos Trabalhadores na campanha eleitoral de
2010, de sua então candidata a presidente da República, Dilma Rousseff.
A
prisão de Vaccari ontem surpreendeu o Palácio do Planalto e a cúpula do
PT. Acreditava-se que ele responderia às acusações em liberdade, devido
à inexistência de provas materiais que corroborassem as delações
premiadas que o acusam de receber propina para as campanhas do PT.
Era
sua palavra contra a do doleiro Alberto Yousseff, a do ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto da Costa e a do ex-gerente da Petrobras Pedro
Barusco, todos réus confessos. A cúpula do PT decidiu mantê-lo no cargo
por achar que isso “politizaria” as denúncias contra a legenda e que sua
defesa seria também a do partido. Esse entendimento prevaleceu quanto
ao seu depoimento na CPI da Petrobras, na semana passada.
Foi um
crasso erro. A presidente Dilma Rousseff ontem estava à beira de um
ataque de nervos por causa da prisão de Vaccari. Desde o fim do ano
passado, Dilma defendia o afastamento do cargo do tesoureiro do PT, mas o
presidente da legenda, Rui Falcão, resistia. A ordem de Dilma Rousseff é
jogar Vaccari ao mar, mas a Executiva do partido e seus líderes no
Congresso saíram em defesa do tesoureiro, que só pediu afastamento
do cargo quando foi pra cadeia. Argumentam que ele é vítima de
perseguição política, com objetivo de incriminar o PT e criminalizar as
doações eleitorais que a legenda recebeu “legalmente” das empreiteiras
investigadas na Lava-Jato.
2 comentários:
Lembro de ter visto no Jornal Nacional em 1975 esta notícia da gráfica. Era um adolescente ainda. E o PT construiu-se na crítica à reforma do Estado e aos reformistas. Caramba! que papelão está fazendo o PT!
Acho que o comentário acima está equivocado. A gráfica citada para o ano de 1975 era do PCB e a motivação foi apenas perseguição da ditadura militar.
O PT foi fundado em 1980.
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