Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 08/04/2015
Desgastada pela crise
econômica e pelos escândalos na Petrobras, com a popularidade em baixa,
Dilma é obrigada a conviver com uma espécie de parlamentarismo velado
A Presidência da
República, por meio de nota oficial, informou que o ministro Pepe Vargas
deixou o comando da Secretaria de Relações Institucionais e que o
vice-presidente da República, Michel Temer, que preside o PMDB nacional,
assumirá a articulação política do Palácio do Planalto.
Marisco
na luta entre o mar e o rochedo, o petista encerrou sua melancólica
passagem pelo cargo como o último a saber. Dilma, porém, pagou o mico da
frustrada indicação para o cargo, na segunda-feira, do ministro da
Aviação Civil, Eliseu Padilha, que ontem anunciou que não aceitaria o
posto por razões familiares.
Desde que comandou a operação
política para emplacar o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) na
presidência da Câmara, Pepe Vargas era alvo constante dos ataques de
integrantes da base governista, especialmente dos parlamentares do PMDB.
Dilma tentou manter o velho companheiro de lidas gaúchas no
posto, já que ele nada mais fez do que cumprir a orientação dela, mas,
finalmente, jogou a toalha. A escolha de Padilha, veterano peemedebista
gaúcho, foi outra grande patacoada. A emenda, porém, pode ter saído
melhor do que o soneto.
Ao extinguir a pasta e entregar a
coordenação política do governo a Michel Temer, Dilma finalmente deixou
de lado o jogo de canastra no Palácio do Planalto, no qual dava as
cartas, e entrou na roda de pôquer dos caciques do PMDB no Congresso.
São outros quinhentos se vai conseguir fazer um Royal Straight Flush
(uma sequência de 10 ao As, a melhor mão de cartas possível no pôquer
texano).
Grande política
Depois de uma
incrível sucessão de erros políticos, pode ser que a escolha de Temer
seja um grande acerto. Dilma talvez tenha a intenção de manter o
vice-presidente da República como seu principal articulador político
pelas mesmas razões que a levaram a mantê-lo afastado do chamado “núcleo
duro” do Palácio do Planalto: a desconfiança.
Como dizia
Maquiavel, é melhor manter o possível inimigo por perto para
controlá-lo. A missão dada a Temer equivale, na crise política, ao papel
desempenhado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na economia. Os
dois já vinham protagonizando as negociações do ajuste fiscal. Resta a Dilma o
enorme poder administrativo centralizado na Casa Civil para controlar os
dois.
Pode ser que isso crie condições mais favoráveis para a
aprovação do ajuste e a rearticulação da base do governo no
Congresso, mas a indicação de Temer não resolve a queda de braços com os
presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), que foram surpreendidos pela decisão.
O que
querem os dois caciques do PMDB no Congresso? Não é descascar o abacaxi
da descoordenação política do governo nem salvar Dilma, é ocupar o
centro do poder. É a partir daí que poderemos ter desdobramentos
importantes. Um deles, é a saída de Aloizio Mercadante da Casa Civil.
Renan
e Cunha dizem querer uma reforma ministerial que reduza o número de
pastas na Esplanada e corte pela metade os cargos comissionados, a
maioria ocupada por petistas. Mas querem a cabeça de Mercadante. Dilma
acredita que removê-lo do posto seria uma demonstração de fraqueza.
O
ministro da Casa Civil é apontado como autor intelectual de tudo o que
deu errado no Palácio do Planalto também pelos petistas, inclusive pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gostaria de ver em seu
lugar o ministro da Defesa, Jaques Wagner.
Desgastada pela crise
econômica e pelos escândalos na Petrobras, com a popularidade em baixa,
Dilma é obrigada a conviver com uma espécie de parlamentarismo velado,
no qual a agenda política é estabelecida pelo Congresso. É para o
Legislativo que convergem as grandes negociações nacionais, como ocorre
com o indexador das dívidas dos estados, no Senado, e a votação da lei
da tercerização, na Câmara.
É ou não a volta da grande política ao Congresso por linhas tortas?
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