Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 24/03/2014
Uma "faxina" na Petrobras pode ser uma maneira de a presidente Dilma
preservar a velha bandeira nacionalista, mas é um jogo de alto risco
Ícone do nacionalismo brasileiro desde 1953, quando foi criada por
Getúlio Vargas, a Petrobras é uma espécie de mito intocável da política
brasileira, graças à campanha “O petróleo é nosso”, iniciada em 1946,
logo após a redemocratização. Esse foi o primeiro grande movimento de
massas de caráter suprapartidário do país, liderado pelo general
Felicíssimo Cardoso, que encabeçou uma aliança entre comunistas,
trabalhistas e militares nacionalistas durante o governo Dutra.
A
Petrobras se tornou uma potência econômica, mas manteve-se como
bandeira de luta nacionalista, brandida com vigor até hoje, sempre que
alguém ameaça os interesses da empresa. Com o escândalo da compra da
refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, por US$ 1,19 bilhão, a
presidente Dilma Rousseff deixou essa bandeira cair e talvez não consiga
empunhá-la novamente nas eleições. O mau negócio ocorreu quando
presidia o conselho de administração da empresa. Somam-se ao episódio o
leilão do poço de Libra da camada pré-sal, que petroleiros e uma parte
da esquerda consideram, com exagero, uma atitude lesa-pátria; e o
suposto recebimento de propina por funcionários da empresa na Holanda,
que está sendo investigada pelo Congresso, a Polícia Federal e a própria
empresa.
Há outros investimentos duvidosos, como a construção da
refinaria Abreu e Lima, em parceria com a venezuelana PDVSA, que
abandonou a empreitada. Custaria US$ 2,3 bilhões e já está em US$ 20
bilhões. Novas refinarias no Maranhão, Ceará e Rio de Janeiro não saíram
do papel. A refinaria de Nansei, no Japão, que custou US$ 71 milhões,
também é considerada um mau negócio, endossado por Dilma Rousseff quando
presidia o conselho. Além disso, o governo segura o preço da gasolina
para controlar a inflação. Assim, as ações da empresa se desvalorizaram em mais
de 50% nos últimos oito anos.
Campanhas eleitorais
Nas
eleições de 2002 e de 2006, porém, a Petrobras foi um troféu nas mãos do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusou os tucanos de
tentar vender a empresa. O PT criticou duramente a quebra do monopólio
estatal e a adoção do regime de concessões para exploração de petróleo,
embora o modelo tenha sido muito bem-sucedido do ponto de vista do
aumento de investimentos e da produção. A mudança do modelo de
exploração para o regime de partilha, por causa do pré-sal, patrocinada
por Lula, porém, foi um ponto de inflexão no desempenho do setor, muito
embora o discurso nacionalista se mantivesse de pé. Depois do leilão de
Libra, que somente não fracassou por que o governo jogou pesado para
atrair os chineses e outras empresas que já operam no Brasil, tudo
mudou. O que não falta é notícia ruim sobre a Petrobras.
Pré-candidato
do PSDB à Presidência da República, o senador Aécio Neves (MG) cita o
exemplo da Petrobras para dizer que a presidente Dilma Rousseff não está
“capacitada” para governar o país. Aécio pretende mobilizar forças para
a abertura de uma CPI no Congresso para investigar a empresa. Com isso,
o ex-governador mineiro quer neutralizar um ponto franco dos
tucanos nas eleições passadas. Outro que aproveita a oportunidade para
atacar Dilma Rousseff é o pré-candidato do PSB à Presidência, o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que levantou suspeitas de
desvalorização proposital no valor de mercado da empresa.
Há mais
coisas entre o continente e as plataformas de petróleo, porém. A presidente
Dilma Rousseff admitiu que avalizou a compra da refinaria de Pasadena
com base em parecer técnico “falho” para se antecipar à condenação da
operação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que considera a compra
de Pasadena prejudicial ao Tesouro. E mandou demitir o ex-diretor da
área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, responsável pela
operação, do cargo que ocupava na diretoria da BR Distribuidora. Na
véspera dessa demissão, o ex-diretor de operações da Petrobras Paulo
Roberto Costa foi preso, acusado de envolvimento com lavagem de
dinheiro. Ele também participou da compra de Pasadena.
Uma
“faxina” na Petrobras pode ser uma maneira de a presidente Dilma
preservar a velha bandeira nacionalista, mas é um jogo de alto risco.
Envolve políticos aliados e alguns apadrinhados do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, como o ex-presidente da Petrobras Sérgio
Gabrielli. A próxima cabeça a rolar seria a do presidente da Transpetro,
Sérgio Machado, um velho desejo de Dilma Rousseff.
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