Correio Braziliense - 10/03/2014
A forma como a bancada do PMDB na Câmara faz política não é muito diferente da dos demais partidos. A diferença está na contrapartida que vem do outro lado da Praça dos Três Poderes
A
presidente Dilma Rousseff joga para a arquibancada as negociações com o
PMDB sobre a reforma ministerial. A rigor, a reforma é chinfrim, não
agrega grandes coisas à gestão governamental, cuja avaliação está muito
abaixo da imagem de Dilma Rousseff nas pesquisas de opinião. Quando faz
jogo duro com os caciques do PMDB, que são tratados como chantagistas e
fisiológicos, Dilma melhora a própria imagem, às custas do aliado
principal, mas joga pra baixo a do governo, ainda mais porque nele
pretende manter os peemedebistas. É um jogo perigoso. Não é tão fácil
resgatar a vassoura que ficou escondida atrás da porta desde quando a
“faxina”, iniciada logo após a posse, foi interrompida por um “alto lá”
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa dos remanescentes
de sua administração. A situação do Ministério do Trabalho é a prova
disso.
Tereza Cruvinel relatou ontem, em sua coluna aqui no Correio, como o PMDB comportou-se eleitoralmente ao longo dos anos, desde a “cristianização” de Ulysses Guimarães, nas eleições presidenciais de 1989. Também registrou que, desde então, ninguém governa sem o apoio do PMDB. O exemplo mais acabado dos riscos de se ter o PMDB na oposição foi a campanha pró-impeachment do ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), hoje senador e aliado de Dilma Rousseff, que renunciou à Presidência. O primeiro mandato de Lula também serve de exemplo: provavelmente não haveria a crise do mensalão, que defenestrou a cúpula petista do governo e levou-a à cadeia, se o PMDB tivesse sido incorporado à coalizão de governo logo após as eleições de 2002.
Dilma Rousseff não gosta do PMDB, tem dificuldades para lidar com seus caciques, inclusive aquele que hoje é a mão na roda para acalmá-los, o vice-presidente Michel Temer. Mas tem de engolir a presença de seus líderes na administração, como aconteceu com o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco. Herdeiro do velho pessedismo fluminense, hoje é figura importante na gestão de um dos maiores abacaxis do governo: os preparativos da Copa do Mundo. Essa má vontade de Dilma com o PMDB não é fruto de intriga, é consequência de uma concepção de poder e do modo de fazer política “castilhista”, adquirida durante os anos em que viveu no Rio Grande do Sul. Centralizadora e sabedora do poder de uma caneta cheia de tinta, Dilma quer obrigar o PMDB a aceitar seis por meia dúzia na reforma ministerial. Acontece que os setores do PMDB, que não se sentem representados no poder, querem mais participação no governo, da mesma forma como o querem os petistas insatisfeitos que conspiram dia e noite para que o ex-presidente Lula seja o candidato da legenda no lugar de Dilma.
Quem é o inimigo?
Tereza Cruvinel relatou ontem, em sua coluna aqui no Correio, como o PMDB comportou-se eleitoralmente ao longo dos anos, desde a “cristianização” de Ulysses Guimarães, nas eleições presidenciais de 1989. Também registrou que, desde então, ninguém governa sem o apoio do PMDB. O exemplo mais acabado dos riscos de se ter o PMDB na oposição foi a campanha pró-impeachment do ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), hoje senador e aliado de Dilma Rousseff, que renunciou à Presidência. O primeiro mandato de Lula também serve de exemplo: provavelmente não haveria a crise do mensalão, que defenestrou a cúpula petista do governo e levou-a à cadeia, se o PMDB tivesse sido incorporado à coalizão de governo logo após as eleições de 2002.
Dilma Rousseff não gosta do PMDB, tem dificuldades para lidar com seus caciques, inclusive aquele que hoje é a mão na roda para acalmá-los, o vice-presidente Michel Temer. Mas tem de engolir a presença de seus líderes na administração, como aconteceu com o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco. Herdeiro do velho pessedismo fluminense, hoje é figura importante na gestão de um dos maiores abacaxis do governo: os preparativos da Copa do Mundo. Essa má vontade de Dilma com o PMDB não é fruto de intriga, é consequência de uma concepção de poder e do modo de fazer política “castilhista”, adquirida durante os anos em que viveu no Rio Grande do Sul. Centralizadora e sabedora do poder de uma caneta cheia de tinta, Dilma quer obrigar o PMDB a aceitar seis por meia dúzia na reforma ministerial. Acontece que os setores do PMDB, que não se sentem representados no poder, querem mais participação no governo, da mesma forma como o querem os petistas insatisfeitos que conspiram dia e noite para que o ex-presidente Lula seja o candidato da legenda no lugar de Dilma.
Quem é o inimigo?
A maior dificuldade da presidente da República no seu modus operandi com o PMDB é a absoluta falta de experiência parlamentar, ao contrário de Lula, que compensou com as manhas de sindicalista o fato de ter sido parlamentar apenas na Constituinte eleita em 1986. Lula conhecia aqueles que um dia chamou de os “trezentos picaretas” do Congresso e a primeira coisa que fez, quando viu o circo pegar fogo na CPI dos Correios, foi buscar um acordo com eles. Graças a isso, sobreviveu ao escândalo e conseguiu se reeleger. É preciso destacar que não contou com a moleza que é hoje a relação do Palácio do Planalto com o Senado. Teve que tourear uma oposição com muito poder de barganha naquela Casa. Além disso, a situação na Câmara também era ainda mais complexa do que é hoje.
A questão central para Dilma Rousseff é chegar à conclusão de que o PMDB é mais solução do que problema para o governo. Não do ponto de vista da retórica, porque isso não resolve a situação, mas de forma prática. No momento, a situação é ambígua: o PMDB no Senado é visto como solução e precisa ser agraciado com mais um ministério; o da Câmara, é o problema, deve ser isolado e mantido a pão e água. Não é uma coisa nem outra. Nem o PMDB no Senado é tão dócil como aparenta, nem o PMDB na Câmara pode ser isolado pelo Palácio do Planalto. Por uma razão até simplória: a forma como a bancada do PMDB na Câmara faz política não é muito diferente da dos demais partidos da base governista, inclusive a bancada petista. A diferença hoje está mais é na contrapartida que vem do outro lado da Praça dos Três Poderes.
Mas há outra questão em jogo na tensa relação entre Dilma e o PMDB. Do ponto de vista eleitoral, em tese, o principal adversário do PT é o PSDB, cujo candidato a presidente da República é o senador Aécio Neves (MG). Ocorre que, na disputa pela hegemonia no Congresso, tanto na Câmara como no Senado, o PMDB virou o “inimigo principal”. Não porque o PT fez uma declaração de guerra, longe disso, mas por causa da disputa entre os dois partidos pelos governos estaduais, que são o grande lastro para eleição das bancadas de senadores e de deputados. É por isso, por exemplo, que a situação no Senado pode não ser tão tranquila quanto aparenta. Ali o estrago costuma ser maior do que na Câmara, como foi, por exemplo, no caso do fim da CPMF. A diferença é que senadores votam contra o governo sem muito blá-blá-blá, basta o líder do PMDB coçar a gravata.
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