Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 26/03/2014
Dificilmente, a CPI será instalada com os votos do PMDB. A Petrobras, na
prática, está reaproximando o partido ao PT e ao governo.
Vitorino Freire foi um político pernambucano que, após a Revolução de
1930, fez carreira no Maranhão, estado pelo qual foi eleito senador três
vezes e onde exerceu forte influência, até a ascensão do ex-presidente
José Sarney. Era um dos líderes do antigo PSD, apoiou o golpe militar de
1964 e terminou a carreira política na Arena. É dele a célebre frase
sobre o jabuti em cima da árvore, segundo a qual é melhor não mexer no
quelônio: se não foi enchente, foi mão de gente que o pôs no galho.
Foi
exumado com ironia pelo líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira
(SP), a propósito dos escândalos envolvendo operações da Petrobras, dos
quais a presidente Dilma Rousseff tenta se afastar. “Jabuti, sozinho,
não sobe em árvore. Quem colocou os jabutis Paulo Roberto Costa e Nestor
Cerveró na cúpula da Petrobras tem muita força no Congresso, e de tudo
fará para impedir investigações parlamentares, sobretudo a CPI sobre a
negociata de Pasadena.”
O tucano mira o PT e o PMDB, que
controlam os cargos da direção da empresa desde o governo de Luiz Inácio
Lula da Silva. Líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR) tenta recolher
assinaturas para a instalação de uma CPI mista para investigar a
Petrobras, aproveitando o racha na base do governo, mas o líder do PMDB
na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que anda às turras com Dilma Rousseff, já
mandou recado para o Palácio do Planalto de que não porá mais lenha no
fogaréu. Ou seja, dificilmente a CPI será instalada com os votos do
PMDB. A Petrobras, na prática, está reaproximando o partido ao PT e ao
governo, embora o escândalo tenha provocando estranhamento entre o
senador petista Delcídio do Amaral (MS) e o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), por conta dos ex-diretores da empresa que estão
enrolados.
Como as borboletas
Paulo Roberto
Costa, ex-diretor da estatal preso pela Polícia Federal (PF) na semana
passada, durante a Operação Lava Jato, é o jabuti que mais assusta o
governo. Suspeito de participação em esquema de lavagem de dinheiro num
caso aparentemente sem relação com a compra da refinaria de Pasadena,
nos Estados Unidos, grampos da investigação revelariam um propinoduto
que supostamente o ligaria à empresa. Costa era um dos diretores mais
importantes da Petrobras na gestão de Sérgio Gabrielli, época em que
Dilma, por ser ministra da Casa Civil, presidia o conselho de
administração que aprovou as operações. O caso de Cerveró, responsável
pela análise técnica da compra de Pasadena, é café pequeno diante do
indigesto envolvimento de Costa com um doleiro que operava o esquema.
Ontem,
a presidenta da Petrobras, Graça Foster, foi convocada pelo Senado a
prestar esclarecimentos sobre a aquisição da refinaria de Pasadena.
Houve um acordo entre parlamentares governistas e de oposição para que o
convite fosse aprovado pelas comissões de Meio Ambiente, Defesa do
Consumidor e de Fiscalização e Controle (CMA) e de Assuntos Econômicos
(CAE). Quem conhece os rituais da Casa, sabe que isso significa água na
fervura da CPI, por mais constrangedor que seja. Em se tratado do
escândalo, porém, não custa nada lembrar outro político famoso, o
ex-governador mineiro Magalhães Pinto, para quem a política é como uma
nuvem: você olha, está de um jeito; olha de novo, está de outro. Reza a
lenda que um jabuti, quando cai da árvore, pode provocar uma tempestade —
como as borboletas.
Meia-volta, volver
A
pedido do ex-presidente Lula, Dilma deve deslocar a ministra Ideli
Salvatti da Secretaria de Relações Institucionais para a Secretaria de
Direitos Humanos, no lugar de Maria do Rosário (PT-RS), e convocar para a
missão um dos integrantes do grupo de petistas descontentes com o
Palácio do Planalto, o deputado Ricardo Berzoini (SP). É apoiado pelos
deputados Marco Maia (RS), Devanir Ribeiro (SP), José Mentor (SP),
Carlos Zarattini (SP), Cândido Vaccarezza (SP) e André Vargas (PR).
Todos jantaram com o líder do PMDB, Eduardo Cunha, na casa do presidente
da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), na semana passada,
inclusive o provável novo ministro.
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