quinta-feira, 7 de março de 2013

A chave do dissenso

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 07/03/2013

O falecido professor baiano Milton Santos, uma espécie de papa da geografia humana, dizia que a maior demonstração de fracasso das políticas neoliberais nos países dependentes estava estampada no que chamava de “vida banal”, ou seja, no dia a dia dos moradores dos centros urbanos das periferias do capitalismo globalizado. Com perdão para o trocadilho, talvez seja essa a chave para compreender o fenômeno Hugo Chávez.
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O embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, vai nessa direção ao afirmar, no Valor Econômico de ontem, que Chávez passará à história como “afirmação de um ator político novo na América Latina: as periferias das metrópoles nascidas da urbanização explosiva das últimas décadas. Ele foi um dos primeiros a intuir que essas periferias não se sentiam representadas pelos partidos tradicionais dado o fracasso destes em melhorar a vida das maiorias”.
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Seu populismo de viés nacionalista e socializante deu voz às periferias e liquidou com os desacreditados partidos das oligarquias. Com o fim da guerra fria, após a fracassada tentativa de golpe conservador de 2002, Chávez foi beneficiado por um pacto entre o ex-presidente George Bush, atolado no Oriente Médio, e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recém-eleito para o primeiro mandato. A Venezuela passou a ser um a problema a ser administrado pelo Brasil, que assim estreitou suas relações com Chávez e ampliou sua estratégia de integração latino-americana. Essa estratégia, porém, ao pôr em segundo plano a questão democrática, causou grande dissenso em relação à atual política externa brasileira.

Bolivarianismo
Reformas eleitorais, legislativas e judiciais, ao mirar as oligarquias, implodiram a democracia representativa na Venezuela. Sucessivas eleições, plebiscitos e referendos possibilitaram a manutenção de Chávez no poder. Não foi à toa que a presidente Dilma Rousseff, em seu pronunciamento, mesmo às lágrimas, num ato falho, em nenhum momento classificou o líder venezuelano como um grande democrata. O seu perfil era o do caudilho nacionalista latinoamericano.

A eleição
A morte de Hugo Chávez deve representar para a oposição venezuelana, que obteve 47% dos votos no último pleito, a mesma comoção popular que levou a União Democrática Nacional (UDN) e outras forças conservadores à derrota após o suicídio do presidente Getúlio Vargas em agosto de 1954. A 30 dias das novas eleições, o vice Nicolás Maduro, que assumiu de fato a presidência do país, é um candidato quase imbatível.

A sobrevivência
Hugo Chávez surfou a alta do petróleo. Assim financiou seus programas assistencialistas, enfrentou as velhas oligarquias, ajudou Cuba a sobreviver ao colapso econômico e financiou seus aliados de esquerda hoje no poder. O problema do chavismo é sobreviver sem o seu líder histórico e num ambiente econômico mais adverso, no qual os militares terão cada vez mais poder político e menos recursos.

Salomônico
Houve o maior tiroteio ontem no plenário do Senado por causa da moção apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues, de PSOL-AP, para que uma delegação da Casa fosse enviada aos funerais de Hugo Chávez. Os líderes do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), e do DEM, Agripino Maia (RN), protestaram. Como o plenário já havia aprovado duas moções de pesar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDSB-AL), salomonicamente, encarregou Randolfe de representá-lo.

Homofobia// A eleição do deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Diretos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara subiu no telhado, como havia previsto a coluna de sábado passado. A escolha depende agora da Mesa Diretora da Casa. Nova tentativa de eleição deve ocorrer na próxima terça-feira.

Vão a Roma
O embaixador italiano no Brasil, Raffaele Trombeta, recebe hoje os parlamentares italianos eleitos no Brasil: a deputada Renata Bueno, ex-vereadora do PPS em Curitiba, que concorreu pelo Usei, partido do primeiro-ministro Mário Monti; o deputado Fabio Porta (PD) e o senador Longo Fausto(PD). Renata é primeira brasileira nata eleita para o parlamento italiano. Tomarão posse na próxima terça-feira, em Roma.

Leão
As declarações de imposto de renda entregues à Receita Federal hoje devem ultrapassar a marca de 1 milhão

Digladiação/ Os senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MS) e o deputado Reguffe (DF) lançaram um manifesto ontem criticando a disputa interna protagonizada pelo ministro do Trabalho, Brizola Neto, e pelo presidente da legenda, o ex-ministro da pasta Carlos Lupi. Defendem a substituição de todas as comissões provisórias regionais e municipais por diretórios eleitos e maior transparência nas finanças da legenda.

Comissão/ Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) foi eleito ontem para a presidência da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados. Advogado, tem 43 anos. Substituiu Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

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