Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 19/08/2015
Estava tudo certo para entrar em votação o
projeto que acaba com a desonerações tributárias — que mantém benefícios
para alguns setores —, mas a sua apreciação acabou suspensa no Senado
O acordão da presidente Dilma
Rousseff com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai de
vento em popa quanto à blindagem da recondução do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, mas a Agenda Brasil corre o risco de encalhar
no mar encapelado do Congresso. Renan já recebeu Janot; o líder do PMDB,
Eunício de Oliveira (PMDB-CE), indicou o senador Ricardo Ferraço
(PMDB-ES) para relator da indicação; e a Comissão de Constituição de
Justiça agendou a sua sabatina para a próxima semana. Seu nome deve ser
aprovado pelo Senado sem muitas delongas. Mas a Agenda Brasil não saiu
da gaveta.
Ontem, estava tudo certo para entrar em votação o
projeto que acaba com a desonerações tributárias — que mantém benefícios
para alguns setores —, mas a sua apreciação acabou suspensa depois de
um encontro do presidente do Senado com o lobby das indústrias,
capitaneado por Paulo Skaf, o presidente da poderosa Federação das
Indústrias de São Paulo (Fiesp), que passou o dia em Brasília. O relator
do texto no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), foi convencido a adotar
um modelo de alíquotas lineares para todo empresariado, diferentemente
do projeto da Câmara, que privilegiou apenas quatro setores.
A
estratégia acertada com o governo por Renan era votar o projeto e
aprová-lo sem emendas, para que não voltasse para a Câmara, onde poderia
novamente ser modificado. Com o argumento de que isso representaria a
demissão de 240 mil trabalhadores e mais recessão, Skaf embargou a
votação. Desde ontem tenta convencer o relator na Câmara, Leonardo
Picciani (PMDB-RJ), e o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a
concordarem com a mudança.
Do outro lado do Congresso, a governo
esperneia por causa da votação do novo índice de correção das contas dos
trabalhadores no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que
passariam a ser o mesmo da poupança, ou seja, de 3% ao ano mais a TR
para 6% mais TR, a ser aplicada apenas nos depósitos feitos a partir de
2016. Segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o
projeto inviabilizaria o programa Minha Casa Minha Vida, grande aposta
de Dilma para percorrer o país e recuperar parte da popularidade
perdida.
O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), relator do projeto,
depois de longas negociações com o Ministério da Fazenda, apresentou uma
proposta alternativa escalonando em quatro anos o reajuste proposto por
Cunha. O governo, porém, não aceitou e propôs um escalonamento maior:
parcelar o reajuste até 2025. Pressionados por sindicalistas, deputados
da oposição e da própria base se mobilizaram para derrotar o Planalto.
Blindagem
Enquanto
a pauta econômica não avança, as articulações políticas no Congresso se
intensificam. Há pressa do governo para o projeto, que é uma dos
pilares do ajuste fiscal, mas o PT parece desarvorado. Mantém-se coeso
contra o impeachment, mas se opõe às propostas de Renan e ao próprio
ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
O PSDB, sob a
liderança do ex-presidente Fernando Henrique Cardozo, tenta capitalizar
os protestos de domingo passado e começa a se coesionar em torno da
tese do impeachment de Dilma, por crime de responsabilidade. Há na
Câmara mais de 10 pedidos de afastamento de Dilma, e o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, não hesitaria em tirar um deles da gaveta se o
procurador-geral Rodrigo Janot decidir denunciá-lo na Operação
Lava-Jato, deixando de fora outros citados nas “delações premiadas”,
como Renan Calheiros.
O espectro do escândalo da Petrobras ronda a
Praça dos Três Poderes, pois a blindagem de Dilma Rousseff passa também
pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) e o Tribunal de Contas da União (TCU), além do Palácio do Planalto
e do Congresso.
A blindagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que começa a se sentir ameaçado pelas investigações da Operação
Lava Jato, também está em curso. O ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, determinou uma sindicância interna para apurar o vazamento das
informações sobre os contratos de empresas investigadas pela Lava-Jato
com a LILS, de propriedade de Lula. Houve também uma tentativa de
afastar do caso o delegado responsável pelas investigações do escândalo
da Petrobras, Eduardo Mauat, que tirou 15 dias de férias em agosto e até
agora não reassumiu o posto em Curitiba, o que deveria ter ocorrido
ontem.
A noite dos generais
Decano da crônica
política, o jornalista Carlos Chagas lança hoje o livro A ditadura
militar e a longa noite dos generais (Record), no restaurante Carpe
Diem, na 104 Sul. Mostra a trajetória do movimento militar de 1970 a
1985, com o poder exercido pelo general Garrastazu Médici, passando pelo
período do general Ernesto Geisel até o último dia de governo de João
Baptista Figueiredo. Completa, assim, a narrativa de A ditadura militar e
os golpes dentro do golpe: 1964-1969, seu livro anterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário