Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 18/082015
A alegoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos protestos é o sinal de que sua figura pública, de
líder operário que chegou à Presidência, começa a ser “desconstruída”
Nos protestos de domingo, além de
pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, os manifestantes
intensificaram as críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
por causa do envolvimento do PT no esquema de corrupção da Petrobras. Um
boneco inflável de Lula vestido de presidiário dominou a cena na
Esplanada dos Ministérios, imagem que correu o mundo. Era inimaginável
algo parecido até então.
Dezenas de bonecos de Lula já foram
atração nas campanhas do PT pelo Brasil afora, mas aquele da
manifestação de Brasília, que todos puderam ver no noticiário de
televisão, é o mais duro golpe que a imagem do ex-presidente da
República sofreu até agora. É o sinal de que sua figura pública, de
líder operário que chegou à Presidência, começa a ser “desconstruída”,
principalmente pelo avanço da Operação Lava-Jato, que investiga o
escândalo de corrupção da Petrobras.
O marqueteiro João Santana,
que cuida da imagem da presidente Dilma Rousseff, após as manifestações
de março e abril, já havia revelado que as pesquisas qualitativas
relacionavam o ex-presidente às falcatruas na Petrobras. A imagem de
Lula seria a de “poderoso chefão”; em contrapartida, Dilma era vista
como uma “mulher honesta”, não envolvida no escândalo. Toda a estratégia
de defesa do governo em relação à ameaça de impeachment foi traçada
levando em conta essa pesquisa.
Com níveis de popularidade
baixíssimos, Dilma exerce o mandato para o qual foi eleita em condições
muito adversas, a maioria consequência das próprias decisões. Como não
surgiram provas de que tenha se envolvido diretamente no escândalo e,
constitucionalmente, não pode ser investigada no exercício do mandato,
até agora, a oposição não reuniu condições legais para o afastamento
dela. Dilma só poderia ser afastada por crime de responsabilidade
(impeachment), pelo Congresso; ou abuso de poder econômico e crime
eleitoral (cassação de mandato), pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Essa
blindagem legal, porém, não é suficiente para manter em torno da
presidente da República o bloco de forças que hoje garante a sustentação
política dela. O poder de agregação do governo, com seus cargos e
verbas, também não é o bastante. O que vem sendo decisivo para manter a
sustentação política e social de Dilma Rousseff é a expectativa de poder
que ainda é gerada por uma eventual candidatura de Lula em 2018, caso o
governo retome o crescimento econômico até 2017.
Lula sabe disso
e trabalha para se manter como candidato competitivo, agora mais do que
nunca. Ocorre que a imagem dele está sendo corroída pelas revelações da
Operação Lava-Jato, principalmente por causa das delações premiadas,
que acusam o envolvimento profundo da cúpula do PT, sobretudo por seus
tesoureiros, nos escândalos ocorridos no seu período de governo. A mais
nova ameaça, nesse sentido, é o possível acordo do ex-diretor da Área
Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, que ontem foi condenado, pela
segunda vez, a 12 anos de prisão. A primeira condenação foi a 5 anos de
cadeia.
Os responsáveis pela Operação Lava-Jato são os primeiros
a dizer que o ex-presidente da República não está sob investigação,
porém, Lula já não esconde dos aliados que está com as barbas de molho e
pronto para reagir aos ataques. No caso do boneco de domingo, o petista
acusou o golpe e divulgou uma nota repudiando a afronta que sofreu dos
manifestantes. Usou o argumento de que foi prisioneiro, sim, mas na
época da ditadura, por defender os interesses dos trabalhadores e a
volta da democracia.
A invenção do Brasil
O
jornalista Franklin Martins lança hoje, às 19h, no restaurante Carpe
Diem (CLS 104, Bloco D), em Brasília, a trilogia Quem foi que inventou o
Brasil (Nova Fronteira). Resultado de 18 anos de pesquisas sobre o
nosso cancioneiro popular — desde as primeiras gravações, em 1902, até a
eleição de Lula, em 2002 —, o foco é a presença permanente da música na
crônica política do país. Franklin começou a estudar o assunto em 1997,
apaixonou-se pelo tema e resolveu contar a história da República sob a
ótica musical. O resultado é uma obra de grande fôlego, com mais de mil
músicas catalogadas e contextualizadas historicamente, a maioria das
quais pode ser ouvida no site www.quemfoiqueinventouobrasil.com.
Franklin foi diretor do jornal O Globo e da TV Globo em Brasília, e
ministro da Comunicação Social no segundo governo Lula.
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