Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 25/08/2015
Dilma
perdeu a confiança em Michel Temer, depois que o vice-presidente disse que
o o país precisava de “um líder que unificasse o país”; também faz
gestos de que o ministro da Fazenda não lidera a equipe econômica
Um dos critérios para analisar a grave conjuntura que atravessa o país é
identificar suas linhas de força, ou seja, aquelas tendências que se
projetam para o futuro, ou seja, além do horizonte político imediato.
Grosso modo, são três: o agravamento da crise econômica; a
desarticulação da base do governo no Congresso; e a Operação Lava-Jato. A
presidente Dilma Rousseff tem responsabilidade direta nas duas
primeiras, e indireta na terceira, por sua omissão no primeiro mandato
em relação aos “desfeitos” na Petrobras.
O grande problema é que a
presidente da República, diante dessa crise tríplice, tem se revelado
incapaz de debelá-la. Pelo contrário, suas intervenções no processo
acabam sempre por torná-la mais dramática. O dia de ontem foi a prova
disso: o vice-presidente Michel Temer entregou o posto de articulador
político do governo no Congresso e o ministro da Fazenda, Joaquim levy,
cada vez mais desprestigiado, tirou três dias de folga e foi dar uma
voltinha em Nova York. Ambos foram atropelados por Dilma Rousseff, uma
espécie de quem manda aqui sou eu, mas que revela como o comportamento
da Presidência é errático.
Quando se tem um problema complexo, o
melhor a fazer é desagregá-lo em várias equações simplificadas e
resolvê-las uma a uma. Parecia ser esse o caminho quando Dilma nomeou
Levy para a Fazenda e Temer para a articulação política, deixando o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a responsabilidade de
acalmar o PT e mobilizar apoios dos movimentos sociais ao ajuste fiscal.
Mas parece que a presidente da República nunca esteve convicta de que
esse era o caminho a seguir, muito menos os ministros da cozinha do
Palácio do Planalto, sem falar nas bancadas do PT no Congresso e nos
líderes petistas dos movimentos sociais, principalmente da CUT.
Em
circunstâncias normais, esse arranjo permitiria ao governo viabilizar o
ajuste fiscal, rearticular a base do governo e manter distância
regulamentar da Operação Lava-Jato. O horizonte político imediato seria a
eleição municipal, na qual os partidos acumulam forças para disputar o
poder central. Nesse cenário, a crise política seria absorvida e a
economia, melhor gerenciada. A Lava-Jato é uma contingência com a qual
todos teriam que lidar.
Mas não é isso que está acontecendo. Dilma
perdeu a confiança — se é que a teve em algum momento — em Michel Temer,
envenenada por seu estado-maior, depois que o vice-presidente disse que
o o país precisava de “um líder que unificasse o país”; também faz
gestos de que o ministro da Fazenda não lidera a equipe econômica, dando
sucessivos sinais de que o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, é o
seu preferido. O ex-presidente Lula é um capítulo à parte. Criador e
criatura andaram se estranhando, a ponto de o primeiro conspirar contra a
segunda, mas a Lava-Jato chegou muito perto de ambos.
Pode piorar
A
retórica do governo é surreal. Michel Temer saiu do Palácio do Planalto
sem falar com a imprensa, mas o líder de governo na Câmara, José
Guimarães (PT-CE), difundiu a versão de que Temer cuidará da
macropolítica, apenas deixará o varejo da distribuição de cargos e
verbas. Ao mesmo tempo, assessores do Planalto vazaram para a imprensa
que o responsável pela saída de Temer era o ministro da Fazenda, Joaquim
Levy.
Recentes manifestações do empresariado contra o impeachment de
Dilma Rousseff deram ao Palácio do Planalto a certeza de que o
establishment apoia o governo incondicionalmente. Mas a maioria não
pretende fazer grandes investimentos enquanto Dilma estiver no poder,
por causa das incertezas políticas e de seus zigue-zagues na economia. O
que se quer é que a situação não se agrave mais do que já está, até a
sucessão em 2018.
A saída de Temer da articulação enfraquece ainda
mais o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tinha no vice-presidente o
seu maior aliado. Ou seja, a crise política se agravou e nada impede
que a mesma coisa aconteça com a economia. Aliás, o reforma
administrativa para reduzir de 39 para 29 os ministérios e extinguir 2
mil cargos comissionados, anunciada ontem pelo ministro Nelson Barbosa, é
um sinal de que a bola não está com Levy. Vamos ver o que acontece na
reacomodação da base do governo.
Por último, tem a Operação
Lava-Jato, cada vez mais eletrizante. Por exemplo, a Comissão de
Constituição e Justiça do Senado será palco da sabatina do
procurador-geral Rodrigo Janot. Na primeira fila estará o ex-presidente
Collor de Mello (PTB-CE), que ontem foi á tribuna para chamá-lo de
“fascista” e “sujeitinho à toa”.
Dilma aposta na defenestração do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seu desafeto, para
recuperar o controle do Congresso, depois do acordo com o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também está sob investigação da
Lava-Jato, como mais 44 políticos não denunciados ainda por Janot. Dilma
aposta na Lava-Jato para tirar do caminho seus adversários no
Congresso, mas as investigações atingem de morte o PT. Será que isso vai
mesmo dar certo?
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