sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Como o povo gosta

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 07/12/2012
 Quando aquela meia lua branca com rampas que parecem asas surgiu ao lado da Catedral Metropolitana de Brasília, um dos ícones da cidade, muita gente estranhou. Não faltaram, entre arquitetos e leigos, os críticos da sua obra temporã na Esplanada dos Ministérios, que já tinha, do outro lado do Eixo Monumental, o Teatro Nacional, também de Oscar Niemeyer.

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O novo Museu Nacional, entretanto, também caiu no gosto popular, a despeito dos críticos de suas formas tão básicas. Hoje, é a obra arquitetônica de Niemeyer mas frequentada da Esplanada, principalmente pelos jovens, com exceção, é claro, do Congresso Nacional em dias de funcionamento da Câmara e do Senado.

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É por essas e outras, para usar uma expressão bem carioca, que o velório de Niemeyer, no Palácio do Planalto, foi uma demonstração inequívoca de que sua obra é admirada, compreendida e valorizada pelos povo, muito mais do que os belos prédios neoclássicos que enfeitam o centro do Rio de Janeiro ou os arranha-céus pós-modernos de São Paulo.

Luto vermelho// 

Ontem, logo após a abertura do velório de Oscar Niemeyer no Palácio do Planalto, um velho candango, alto e empertigado, usou de seus direitos de idoso para passar à frente dos que já esperavam na fila. Destoava dos demais porque usava chapéu e uma camisa vermelha. Não quis se identificar e se despediu do mestre em silêncio.

Do barroco ao moderno

A diferença básica da arquitetura de Niemeyer para o que se fazia no Brasil até então é que tudo era copiado da Grécia, da Itália, da Alemanha ou da Inglaterra; os prédios mais modernos, dos Estados Unidos. Só o nosso velho barraco colonial, principalmente o das cidades mineiras, tinha verdadeira autenticidade. Quando Niemeyer traçou as curvas do Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, e explorou a plasticidade do concreto armado, começou a reinventar a arquitetura moderna. Sua obra futurista, universal, hoje é desejada e estudada mundo afora.

Os amigos

Niemeyer tinha um grupo de amigos comunistas com quem se encontra para conversar sobre política e curtir a vida mundana. Vez por outra, gostava de levá-los a Paris. Um deles era o pintor Di Cavalcanti, de quem foi uma espécie de mecenas; o outro era o jornalista Ivan Alves, flamenguista roxo. Havia mais, como o jornalista João Saldanha e o arquiteto Marcos Jaimovitch, com quem trabalhou na Argélia e em Paris, mas esses já eram cidadãos do mundo.

Parceiros políticos

A obra de Niemeyer não seria possível sem suas parcerias políticas. As mais importantes foram com Juscelino Kubitschek, do PSD, que bancou as construções do Conjunto da Pampulha e de Brasília; com o esquecido governador paulista Lucas Nogueira Garcez (PSP), que decidiu construir o Complexo do Ibirapuera; o prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira (PDT) , que encomendou o Museu de Arte Contemporânea e o Caminho Niemeyer; o governador Orestes Quércia (PMDB), que concebeu o Memorial da América Latina; e o governador Leonel Brizola (PDT), para quem projetou os Cieps e o Sambódromo; além de Aécio Neves (PSDB), que edificou o novo Centro Administrativo de Minas.


O clandestino

Dos amigos comunistas de Oscar Niemeyer, um era muito especial: o ex-líder sindical santista e membro do Comitê Central do PCB Geraldo Rodrigues dos Santos, que, durante 15 anos, dirigiu o PCB no Rio de Janeiro com o DOI-Codi em seu encalço. Negro, alto, bem-humorado, Geraldão se escondia no Complexo da Maré e andava com uma capsula de cianureto no bolso para se matar caso fosse preso pelos agentes do regime militar. Niemeyer seguia suas orientações políticas e financiava suas atividades clandestinas.
 
Portos

O governo federal investirá R$ 54,2 bilhões no setor portuário brasileiro e mais R$ 2,6 bilhões em acessos hidroviários, ferroviários e rodoviários, além de pátios de regularização de tráfego. Serão beneficiados 18 portos.

Cassações

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, interrompeu o julgamento do mensalão ontem para comparecer ao velório do arquiteto Oscar Niemeyer. A Corte discute a cassação dos mandatos dos parlamentares condenados na Ação Penal 470 João Paulo Cunha (foto), Valdemar Costa Neto e Pedro Henry. A decisão, porém, ficou para segunda-feira. O revisor do processo, Ricardo Lewandowski, defende a tese de que o STF deve cassar os direitos políticos, mas a cassação dos mandatos seria prerrogativa da Câmara.

Fraudes/O prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho (PT), foi afastado do cargo, ontem, depois de a Polícia Federal fazer uma devassa em licitações da capital de Rondônia. Quatro secretários estão entre os 18 presos. Sobrinho teve seus sigilos quebrados e a casa onde mora vasculhada durante uma busca e apreensão. A Polícia Federal realizou duas operações num único dia. As fraudes chegam a R$ 100 milhões.

Velório/ Durante a homenagem a Oscar Niemeyer, no Palácio do Planalto, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) parabenizou a presidente Dilma Rousseff por ter trazido o velório para a cidade, dando a oportunidade de os brasilienses se despedirem do arquiteto.

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