sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Lula enquadra o PMDB

Por Luiz Carlos Azedo
Com Guilherme Queiroz

luizazedo.df@diariosassociados.com.br

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquadrou a cúpula do PMDB e manteve o pedido de urgência na votação dos quatro projetos do pré-sal, ontem, para o governo não passar insegurança em relação ao conteúdo das propostas. Para o Palácio do Planalto, um novo recuo somente aumentaria a confusão entre os governistas e abriria espaço para as manobras da oposição. Se Lula não demonstrasse firmeza e cedesse aos apelos do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), a base entraria em parafuso.

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O governo quer restringir ao máximo a apresentação de emendas e neutralizar o poder de obstrução da oposição, o que seria impossível com a tramitação normal dos projetos nas comissões técnicas. Com as comissões especiais, mesmo que haja obstrução nas reuniões, os relatores podem levar seus substitutivos direto para a votação em plenário. Mesmo assim, na melhor das hipóteses, a votação dos projetos somente será concluída em maio de 2010.


Reforço//

Apesar de não integrar o conselho político, o vice-presidente José Alencar pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar da reunião de ontem. Abatido e mais magro por conta da luta contra um câncer no abdome, Alencar se ofereceu para articular apoio entre empresários e parlamentares para a aprovação da Contribuição Social para a Saúde (CSS).


Lobistas


Lula teme que uma tramitação demorada dos projetos do pré-sal facilite a vida dos lobbies empresariais, principalmente das grandes petroleiras, para alterar o projeto original. A previsão é de que o assédio de lobistas aos governistas das comissões especiais, principalmente aos relatores, será mais fácil de ser neutralizado pelo governo com o regime de urgência. Para alguns analistas, porém, os “gringos” serão cautelosos. A Petrobras tem parceria com praticamente todas as petroleiras que operam no Brasil.

Sinuca

Governador de São Paulo, estado mais aquinhoado com as reservas do pré-sal, José Serra (foto) está numa sinuca de bico diante da estratégia do presidente Lula. Ideologicamente, o tucano não é contra as propostas do governo, ao contrário dos aliados do DEM, mas é obrigado a se manter solidário com os estados produtores, principalmente o Rio de Janeiro, o que aumenta seu desgaste no Nordeste.


Finalmente


Até que enfim o Ministério da Saúde liberou a venda de Tamiflu nas farmácias, mediante receita médica e sob rígido controle. Único medicamento eficaz contra o vírus A (H1N1), precisa ser tomado nas primeiras 48 horas da doença. O país tem em estoque 8,5 milhões de tratamentos adquiridos a granel em 2006.


Dançou

O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal, admitia negociar com o governo um cronograma para votação das propostas do pré-sal. O acordo chegou a ser esboçado na reunião de líderes que decidiu pedir a retirada do regime de urgência. Aníbal, porém, mudou de ideia. Está decepcionado com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que negociou com Lula e os líderes do PMDB e do PT a ocupação de todos os cargos das comissões sem ouvir a oposição.


Reboque

A posição dura do governo em relação à urgência da votação dos projetos do pré-sal corroborou com a tese do líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (foto), que defende a obstrução de todas as atividades da Casa. A tarefa é considerada uma missão impossível , mas PSDB e PPS acabaram a reboque de Caiado.


Motivos/ A indicação do deputado João Maia (PR-RN), irmão do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, para relatar um dos quatro projetos do pré-sal, tem o dedo do ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), seu velho amigo. Ambos foram expulsos da UnB na década de 1970 por causa da participação nas agitações estudantis. Relator da Lei Geral do Gás, Maia também caiu nas graças da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Royalties/ O governo federal enviou ao Congresso Nacional crédito de R$ 982 milhões para a Marinha investir na construção dos quatro submarinos Scorpéne que serão adquiridos dos franceses e no desenvolvimento de uma embarcação nuclear. O recurso é decorrente de royalties de petróleo que a União mantinha no Tesouro para engordar o superávit primário.

Ciúmes/ O PDT paulista está uma arara com o delegado Protógenes Queiroz, recém-filiado ao PCdoB. Pedetistas queixam-se de terem se submetido à exposição ao defender o policial federal no auge dos ataques a sua condução da Operação Satiagraha. O partido também custeou vindas de Protógenes a Brasília, durante a corte, para atraí-lo à legenda.

Água/ O presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, Bernardo Ariston (PMDB-RJ), torcia para que pelo menos dois dos quatros projetos do marco regulatório do pré-sal tramitassem por sua comissão. Em um deles, avocaria para si a relatoria. É tudo o que o Palácio do Planalto não queria, pois a comissão é considerada terreno minado pelo governo.

Publicadas hoje na coluna Brasília/DF do Correio Braziliense

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