A presidente Dilma Rousseff fechou-se em copas para fazer a reforma do ministério, com um olho no desempenho de sua equipe — que não é nenhuma Brastemp — e o outro nos esgarçamentos da coalizão de governo, o maior deles com o PMDB, que ameaça pular do barco se for escanteado pelo PT na remontagem do tabuleiro. Dilma gosta de jogar damas, mas desta vez o jogo é de xadrez, no qual a Casa Civil é a peça principal, a rainha. Com a saída da ministra Gleisi Hoffmann (PT) para disputar o governo do Paraná, o nome do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, é o escolhido para a pasta. Mas terá que passar por um espécie de corredor polonês. Talvez a antecipação da mudança o poupe da artilharia de desafetos e do fogo amigo de petistas e aliados.
Quando era o líder do PT no Senado, Mercadante era estigmatizado por colegas — inclusive do PT — como uma espécie de sapo cururu, que canta sozinho. O cururu de verdade é venenoso e meio solitário, apesar de grande reprodutor da espécie; alimenta-se de quase tudo, pesa mais de dois quilos e chega a 20 centímetros. Para espantar os inimigos, é capaz de se encher de ar e parecer ainda maior do que realmente é. Pode ser encontrado do Rio Grande do Sul ao México, mas foi introduzido na Austrália para ajudar no controle de pragas, graças à sua voracidade. Acabou virando um problema ecológico.
Mercadante, agora, virou uma espécie de sapo encantado, uma espécie de príncipe da corte de Dilma, mas tem desafetos de peso entre os aliados estratégicos do governo. Um deles é o senador José Sarney (PMDB-AP), cuja volta à Presidência da Casa, em 2009, tentou impedir. Foi obrigado a recuar por exigência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O outro é o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que renunciou ao comando da Casa em dezembro de 2007 para não ter o mandato cassado. Um dos articuladores de sua cassação, por quebra de decoro, era Mercadante. O ex-senador Heráclito Fortes (ex-DEM-PI, hoje no PSB), grande gozador, costumava dizer nos apartes que o líder petista havia "aplicado o bom dia e o boa tarde na poupança" para não gastar com os colegas. De tanto insistir, era comum um senador chamar o outro de Mercadante quando alguém chegava ao plenário e não cumprimentava os colegas.
Dilma chegou a cogitar entregar o comando da campanha eleitoral para Mercadante, que deixaria o governo, mas foi desaconselhada por Lula, para quem o perfil do ministro seria inadequado para a tarefa. Pesa contra Mercadante o episódio dos "aloprados", no fim do primeiro turno da reeleição de Lula, em 2006, quando Mercadante concorreu ao Palácio dos Bandeirantes. Lula atribui ao episódio — no qual petistas da campanha de Mercadante foram flagrados tentando comprar um dossiê contra o então candidato a governador tucano José Serra — o fato de ter ido para o segundo turno.(Aqui um reparo, o ministro foi inocentado de envolvimento n o episódio).
Nada disso, porém, será motivo para que Dilma deixe de nomear Mercadante o novo ministro-chefe da Casa Civil. Hoje, ele é o seu interlocutor político favorito, muito mais do que o ministro do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, seu amigo desde os tempos de juventude. A presidente da República avalia a gestão de Mercadante na pasta da Educação como bem sucedida: não houve confusão no Enem e a implantação do Pronatec é considerada uma das bandeiras da reeleição. Além disso, o Ciência sem Fronteiras, concebido durante a passagem dele pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, vai de vento em popa. Porém, o que pesa mesmo para a indicação é a afinidade entre ambos, tanto em relação à economia — Mercadante foi professor de Dilma Rousseff na Unicamp —, quanto à afinação política, o que já faz do ministro um interlocutor privilegiado do Palácio do Planalto, inclusive na reforma ministerial.
São pelo menos nove os ministros que deverão deixar os respectivos cargos para disputar as eleições, alguns em pastas muito estratégicas, mas a chave do sucesso ou do fracasso da reforma, do ponto de vista político e administrativo, está na Casa Civil. Apesar das críticas que sofre de petistas e de aliados, não há entre eles nenhum nome em melhores condições de ocupar a pasta durante o processo eleitoral do que Mercadante. Simplesmente porque o governo e a campanha vão caminhar de mãos dadas.
O secretário executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabas, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, também cotados para o posto, não têm nem de longe a mesma cancha política que Mercadante, embora também gozem da confiança plena da presidente da República. O que mais atrapalha é outra coisa: a cobiça dos aliados do PMDB e outros partidos em relação à Educação. Fala-se na ministra da Cultura, Marta Suplicy, para o posto, mas essa mexida é considerada desnecessária no Palácio do Planalto. O mais provável é que a pasta fique sob o comando de alguém ligado o atual ministro, a não ser que haja muita pressão dos aliados, principalmente do PMDB. Aí, sim, a solução pode ser a senadora paulista.
Nota de esclarecimento:
A propósito da coluna, a assessoria de imprensa do ministro enviou a seguinte nota: "
Em
relação ao episódio ocorrido em 2006, durante a campanha ao governo de São
Paulo, é de conhecimento do colunista que o ministro Aloizio Mercadante foi
inocentado pelos rigorosos procuradores da República Antonio Fernando de Souza e
Roberto Gurgel. Por unanimidade, também foi inocentado pelos 11 ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles, o atual presidente do STF, Joaquim
Barbosa, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Ayres Britto e
Sepúlveda
Pertence.
Na ocasião, todos votaram pela nulidade e arquivamento em função da inexistência
de quaisquer indícios de participação do então candidato Aloizio Mercadante no
episódio"
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