Não será surpresa se, diante das disputas partidárias, a opção de Dilma e Lula for promover substituições técnicas e focar a solução dos problemas com os aliados nos acordos eleitorais dos estados
A presidente Dilma Rousseff começou a reforma ministerial pela cozinha do Palácio do Planalto, com a indicação do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para o lugar de Gleisi Hoffmann, na Casa Civil. A decisão foi tomada numa reunião no Palácio da Alvorada da qual participaram também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins. A mudança já havia sido anunciada aqui mesmo, na coluna intitulada O sapo encantado de Dilma, mas a novidade está na composição da reunião, sem a presença do presidente do PT, Rui Falcão, nem do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Esse é o estado-maior da reeleição, que conta também com o único petista que entra na sala da Presidência sem se anunciar: Giles de Azevedo, o chefe de gabinete de Dilma.
Nada de nós com eles, os líderes do PMDB andam estrilando por causa do Ministério da Integração Nacional, prometido aos irmãos Cid e Ciro Gomes, que governam o Ceará. Ambos trocaram o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pelo recém-criado Pros para apoiar a reeleição de Dilma. No Palácio do Planalto, como se sabe, ninguém morre de amores pelo PMDB. Com a ascensão de Mercadante a homem forte do governo, esse desamor continuará.
O casamento do PT com o PMDB sempre foi de conveniência. Pode ser, porém, que haja um choro exagerado dos aliados. Lula e o ex-ministro Franklin Martins são defensores convictos de que a aliança com o PMDB é vital para a continuidade do projeto de poder. No momento, os conflitos mais graves com a legenda envolvem aliados de primeira hora: o ex-presidente José Sarney (AP) e a governadora Roseana Sarney (MA); o governador fluminense, Sérgio Cabral, e seu vice, Luiz Fernando Pezão; os senadores Eunício de Oliveira (CE), Vital do Rêgo (PB) e Jader Barbalho (PA), além do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que teme perder a cadeira para um petista se a bancada do PT crescer e a do PMDB diminuir.
Inhambu não pia
A ausência do vice-presidente Michel Temer no encontro foi um recado de que em festa de jacu inhambu não pia. No momento, uma das maiores preocupações de Lula é com a candidatura do empresário Paulo Skaf (PMDB) ao Palácio dos Bandeirantes, uma jogada de mestre de Temer. Com ela, o PMDB pode nascer das cinzas no estado que já foi o seu maior reduto. O petista Alexandre Padilha, que deixa o Ministério da Saúde para ser candidato a governador de São Paulo, está atrás de Skaf nas pesquisas. Temer tem boa razão para manutenção de sua candidatura. Sem ela, o vice-presidente da República estaria no sal.
Quem deve estar com as orelhas ardendo até agora com a reunião do Alvorada é outro grande ausente do estado maior: o presidente do PT, Rui Falcão. Amigo da presidente Dilma, de quem foi companheiro nos tempos de luta armada na Var-Palmares, o petista não conta com a plena confiança do Lula. Na campanha de 2010, também foi escanteado do comando eleitoral, depois de uma disputa pelo controle da comunicação de Dilma que acabou em escândalo. Hoje, é um homem importante nas decisões do PT, mas quem decide mesmo a política de alianças é o ex-presidente Lula. Falcão não é um conciliador, justifica o próprio nome na hora das disputas com os aliados. O marketing e a comunicação ficarão, respectivamente, sob a orientação de João Santana e Franklin Martins. Esse é o recado dado pela presença do ex-ministro da Comunicação Social no encontro.
Quem está de saída
Voltando à troca de ministros, a segunda mudança já decidida foi patrocinada pelo ex-presidente Lula. A indicação do secretário de Saúde de São Bernardo, Arthur Chioro, para o Ministério da Saúde é um fato consumado. Ontem, ele se reuniu com a equipe da pasta e deve viajar com a presidente Dilma Rousseff para Cuba. Sentou na cadeira antes mesmo de ser formalmente empossado. Faltam ainda sete nomes, num ministério de 39 ministros.
Estão de saída Fernando Pimentel (do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), que será candidato a governador de Minas Gerais; Marcelo Crivella (Pesca e Aquicultura), que deve concorrer ao governo do Rio de Janeiro; os gaúchos Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), a deputado federal, e Maria do Rosário (Direitos Humanos), ao Senado. Aguinaldo Ribeiro (Cidades), Gastão Vieira (Turismo) e Antônio Andrade (Agricultura) concorrerão à Câmara, respectivamente, pela Paraíba, Maranhão e Minas.
Não será surpresa se, diante das disputas partidárias, a opção de Dilma e Lula for promover substituições técnicas e focar a solução dos problemas com os aliados nos acordos eleitorais dos estados.
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