Uma decisão agora seria arriscada: poderia provocar uma romaria de peemedebistas a São Bernardo do Campo para pedir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que seja o candidato do PT
Itararé, a 320 quilômetros de São Paulo, guarda com carinho a foto histórica que mostra restos mortais de soldados gaúchos do 8º Regimento de Passo Fundo sendo retirados das sepulturas, em 1934, para o traslado à terra natal. Seria a prova de que Itararé resistiu aos invasores, nas Revoluções de 1930 e de 1932. Na divisa do Paraná com São Paulo, a cidade ficou conhecida pela “batalha que não houve” entre as tropas federais do coronel Paes de Andrade e o general Miguel Costa, comandante das tropas gaúchas lideradas por Getúlio Vargas em 1930. A batalha decisiva para a derrubada da República Velha havia sido anunciada com estardalhaço, mas com a rendição de Paes de Andrade, os revolucionários entraram em Itararé sem disparar um tiro. Dois anos depois, no mesmo lugar, os constitucionalistas paulistas amargaram nova derrota para as forças federais. “Nossa cidade entrou para a história pela porta dos fundos e virou motivo de piada”, diz o historiador José Maria Silva, em seu livro As batalhas de Itararé, editado em 1997. Segundo o jornalista e pesquisador Hélio Porto, as ossadas recolhidas no cemitério local são de soldados mortos na Revolução Constitucionalista de 1932.
Desde então, a política brasileira é pródiga em batalhas de Itararé. Nesta semana, assistimos a mais uma, entre a presidente Dilma Rousseff e o PMDB. A cúpula do PMDB quer de volta o Ministério da Integração Nacional, prometido ao governador do Ceará, Cid Gomes, e seu irmão Ciro, que trocaram o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pelo recém-criado Pros a fim de permanecer na base do governo. A pasta era ocupada por Fernando Bezerra, apadrinhado do governador pernambucano, que deixou o governo após a confirmação da pré-candidatura de Campos a presidente da República. A avaliação dos peemedebistas é de que o controle desse ministério pelo irmãos Gomes desequilibrará a disputa eleitoral no Nordeste em favor do Pros e do PT, não só na Bahia e em Pernambuco — cujas seções do PMDB estão na oposição ao Palácio do Planalto —, mas também em Alagoas, na Paraíba, no Ceará e no Rio Grande do Norte, cujos líderes peemedebistas são governistas.
Dilma adiou a reforma ministerial para fevereiro para ganhar tempo. Ainda não sabe bem o que fazer. Precisa resolver o problema do PMDB com o mínimo de sequelas, não porque tema um rompimento com o governo — o que a legenda, conhecida por seu fisiologismo, não costuma fazer —, mas por causa das retaliações que pode sofrer no plano regional, durante a campanha, o risco de “cristianização”. O problema é compor também com outras legendas importantes no Congresso, como o PP, o PTB e o Pros, sem aumentar o número de ministérios, o que seria dar à oposição o argumento de que está loteando de vez o governo. Diante do impasse, preferiu decantar os conflitos locais entre o PT e o PMDB. Uma decisão agora seria mais arriscada: poderia provocar uma romaria de peemedebistas a São Bernardo do Campo para pedir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que seja o candidato do PT, reacendendo a chamado “Volta, Lula!” entre os próprios petistas. A propósito, o substituto do ministro Alexandre Padilha, que deixa a Saúde para ser candidato a governador de São Paulo, provavelmente sairá do reduto histórico do PT. O nome indicado por Lula é o secretário de Saúde de São Bernardo, Arthur Chioro.
Onde mora o perigo…
Tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o PT estão agindo como se o favoritismo nas pesquisas fosse a certeza de que a reeleição será no primeiro turno. Tratam os candidatos de oposição, o senador Aécio neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo campos (PSB-PE), igualmente como inimigos, o que pode ser um equívoco em caso de dois turnos. Além disso, o PMDB e os demais partidos são considerados importantes apenas por causa do tempo de televisão, na suposição de que seus caciques perderam o poder de mediação com os eleitores nos estados; seus representantes no governo são considerados estorvos na cozinha do Palácio do Planalto. Será?
O ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM), em seu ex-blog, faz agourentas previsões sobre as condições da economia para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. “O binômio inflação-economia não a ajuda. Em 1998, FHC foi reeleito com uma inflação de 1,65%. Em 2002, seu candidato foi derrotado com uma inflação de 12,53%. Em 2006, Lula foi reeleito com uma inflação de 3,14%. Em 2010, elegeu Dilma colada à sua imagem, com uma inflação de 5,91%, mas um crescimento econômico de 7,5%. Agora, em 2014 — se repetir 2013 —, Dilma vai com uma inflação de 6% e um crescimento de 2%. Uma equação que exigirá apelar ao máximo para sua imagem e ainda à de Lula.” Trocando em miúdos: o mais provável é uma disputa em dois turnos.
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