Dilma
procura manter os aliados no governo, tratando-os com distância
regulamentar. Lula joga com a capacidade de transferir votos e criar
expectativas de poder
Nove
entre os 10 maiores empresários do país estão fazendo lobby para que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorra às eleições
presidenciais do próximo ano no lugar da presidente Dilma Rousseff. Frequentam o Instituto Lula, no Ipiranga, com muito mais assiduidade do
que o gabinete do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que consideram
perdido diante das dificuldades da economia. E nunca tiveram tanta
saudade do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que, por breve
período, foi chefe da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff e hoje
vive de consultorias na área econômica.
Na verdade, Lula retroalimenta essa romaria dos empresários, que mantêm
vivo o “Volta, Lula!”. Nas conversas com os políticos, o petista sempre
descarta a possibilidade de disputar a próxima eleição no lugar de
Dilma, mas seu olho brilha quando trata do assunto, garantem todos os
interlocutores. “Se me encherem o saco, eu volto… Em 2018”, chegou a
admitir durante almoço no Senado, por ocasião da festa dos 10 anos do
Programa Bolsa Família, conforme revelou a repórter Denise Rothenburg na
coluna Brasília-DF. Aquela foi mais uma semana na qual o ex-presidente
da República roubou a cena e sufocou os esforços da presidente Dilma
para ter uma marca própria de seu governo, além de pôr mais lenha na
fogueira do “Volta, Lula!”
Dilma e o ex-presidente Lula operam o mesmo tabuleiro político, mas cada
um tem um jogo diferente. Dilma se movimenta como quem joga damas, no
qual todas as peças são iguais e se movem da mesma forma. Ganha quem
capturar todas as peças do oponente. Lula joga xadrez: as peças são
variadas e cada tipo faz um movimento específico. O objetivo final é
comer o rei do adversário. Dilma procura manter os aliados no governo,
tratando-os com distância regulamentar; é bem-sucedida porque conhece e
usa o poder de cooptação da máquina do governo, ou seja, de sua caneta
cheia de tinta. Lula joga com a sua capacidade de transferir votos e
criar expectativas de poder, inclusive para reaproximar os ex-aliados
que se desgarraram. O rei adversário nesse jogo é o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que de aliado histórico dos petistas
passou à oposição aberta.
Para quem quiser ouvir, Campos jura que será candidato a qualquer preço.
Ele não perdoa as retaliações que sofreu do Palácio do Planalto desde
que se colocou na disputa presidencial de 2014. Na conversa que selou o
destino de Marina Silva e da Rede, Campos disse que será candidato mesmo
que o ex-presidente Lula concorra no lugar de Dilma. Foi somente após
essa resposta que a ex-senadora decidiu ser vice na chapa de Campos e
recomendar aos militantes da Rede a entrada em bloco no PSB. Na noite do
acordo, Campos ligou duas vezes para Lula e não foi atendido.
Considerou o ex-presidente da República informado de sua decisão, o que
só veio acontecer pelos jornais, no dia seguinte. Em 27 de outubro,
Campos ligou para Lula novamente, para dar os parabéns pelo aniversário
do ex-presidente. Conversaram como se nada demais houvesse ocorrido:
“Eduardo, estaremos juntos como sempre”. É ou não um jogo de xadrez?
Miscelânea
Guerra fiscal/ A
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou projeto de lei
complementar do senador Paulo Bauer (PSDB-SC) que disciplina a
compensação das perdas dos estados com a redução das alíquotas
interestaduais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS). São reduzidas para 4% e 7% as atuais alíquotas interestaduais,
de 7% e 12%, com exceção dos produtos da Zona Franca de Manaus e do gás
natural, que continuariam com 12%. O placar de 12 a 8 na CAE mostra que a
guerra entre a União e os estados está só começando no Senado.
Pessimista/ Nunca
o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esteve tão jururu, nem mesmo
quando enfrentou grave problema de saúde na família. Anda pessimista
porque não consegue reduzir os gastos do governo e os indicadores da
economia sinalizam baixo crescimento para 2014.
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