Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 11/11/2013
Correio Braziliense - 11/11/2013
O
vínculo de Dilma Rousseff com o trabalhismo e o com “castilhismo” de
Vargas é maior do que se imagina
Os restos mortais do ex-presidente João Belchior Marques Goulart (Jango) serão exumados na próxima quarta-feira, no cemitério de São Borja (RS), por decisão da Comissão Nacional da Verdade, que apura crimes políticos praticados durante o regime militar. Sempre houve a suspeita de que Jango teria sido envenenado durante a Operação Condor, que integrou ações dos agentes de segurança dos regimes militares do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai. Legítimo herdeiro político de Getúlio Vargas, Jango morreu exilado, aos 57 anos, no Argentina, onde vivia com a ex-primeira-dama Maria Thereza e os filhos pequenos.
Era o vice-presidente da República em 25 de agosto de 1961, quando o presidente Jânio Quadros, em um gesto controverso, renunciou ao mandato. Estava em visita oficial à China e só assumiu o cargo porque houve uma grande mobilização nacional, liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, seu cunhado. Jango era muito popular. Quando ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, em 1953, concedeu 100% de aumento do salário mínimo. Foi eleito vice de Juscelino Kubitschek , em 1955, com mais votos do que o presidente. Acabou reeleito vice de Jânio Quadros (PTN), o candidato apoiado pela UDN, em 1960, graças aos sindicalistas de São Paulo, que “cristianizaram” o candidato do PTB, o marechal Henrique Teixeira Lott, e fizeram uma dobradinha pirata: Jan-Jan (Jânio-Jango). Naquela época, o vice era escolhido pelo elei tor e podia até ser reeleito.
Para assumir a Presidência, em setembro de 1961, Jango teve de aceitar o parlamentarismo. No ano seguinte, convocou um plebiscito para janeiro: o povo preferiu a volta do presidencialismo. Acabou deposto pelos militares em 31 de março de 1964, acusado de comandar uma “república sindicalista”. O golpe foi bem-sucedido por causa da “guerra fria”, que estava mais quente; do fracasso do Plano Trienal, que tornou a inflação descontrolada; além de erros políticos cometidos pelo próprio Jango (foi tolerante com a revolta dos marinheiros e quis mudar a Constituição) e pelos aliados de esquerda (queriam a reforma agrária “na lei ou na marra” e atacavam o próprio governo por sua “política de conciliação” com os Estados Unidos).
Jango e o líder comunista Luiz Carlos Prestes acreditavam ter um “dispositivo militar” capaz de mantê-los no poder. Não tinham força pra isso. A grande imprensa, a classe média e a Igreja Católica queriam sua deposição. O falecido senador Darci Ribeiro (PDT), o fundador da Universidade de Brasília (UnB), seu chefe da Casa Civil à época, porém, dizia que o ex-presidente foi derrubado principalmente por suas virtudes. Jango queria fazer as reformas agrária, fiscal, educacional, urbana e eleitoral. Seu último ato presidencial foi encampar as refinarias de petróleo privadas e desapropriar terras às margens de rodovias e ferrovias federais para a reforma agrária.
O Palácio do Planalto prepara honras militares para receber os restos mortais de Jango, que será um marco da restauração da verdade e reparação aos familiares das vítimas da ditadura. Mas a cerimônia também resgata muito da identidade política da atual presidente da República. O vínculo de Dilma Rousseff com o trabalhismo e o com “castilhismo” de Vargas é maior do que se imagina, haja vista suas atitudes, ideias e trajetória políticas. Como se sabe, a presidente da República não é uma petista histórica. Dilma aderiu ao PDT de Brizola logo após a anistia, em 1979. Somente em 2001, no governo de Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, se filiou ao PT. No ano seguinte, Luiz Inácio Lula da Silva seria eleito Ppresidente da República.
Azebudsman
O assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia, em carta à coluna, informa que a presidente Dilma Rousseff receberá o presidente francês François Hollande nos dias 12 e 13 de dezembro. “Não fiquei ‘enrolando’ o embaixador francês, como foi escrito. Tive com ele vários e amistosos encontros. O relacionamento com a França, como com todos os demais países, é conduzido, com muita competência, pelo Itamaraty. A mim me cabe — junto de minha equipe — assessorar a presidente da República.”
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