Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 01/12/2015
A Lava-Jato chegará ao centro de poder. É o que
apontam as prisões do senador Delcídio do Amaral
(PT-MS), do banqueiro André Esteves e do
pecuarista José Carlos Bumlai
Mesmo
com Dilma Rousseff no exterior, em razão da conferência do clima em
Paris, a semana começou em alta voltagem. Confirma-se que uma das
principais linhas de força da crise política e econômica é o esquema de
corrupção investigado pela Operação Lava-Jato, que desnudou a simbiose
entre políticos, empresários, doleiros, lobistas e altos funcionários de
estatais para desviar dinheiro público em proveito próprio e, em
contrapartida, do financiamento do atual “sistema de poder”.
Os
fatos mostram que a investigação chegará ao centro de poder. É o que
apontam as prisões do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral
(PT-MS), do banqueiro André Esteves, do banco BTG Pactual, e do
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Se aderirem à delação premiada, a Operação Lava-Jato chegará
aos chefões.
Não é à toa que a inédita prisão
cautelar de um senador em exercício pleno do mandato, que foi confirmada
por ampla maioria pelo Senado, ainda repercute, e muito, nos meios
jurídicos. Houve ou não um avanço do Judiciário em relação aos demais
poderes da República, por meio de decisão tão polêmica e surpreendente? A
discussão opõe oposição e governistas, procuradores e advogados, mas o
fato é que a “blindagem” em relação ao vértice do “petrolão” foi
rompida.
A 2ª Turma do Supremo Tribunal
Federal, por unanimidade, estabeleceu nova interpretação do flagrante
delito de crime inafiançável para ordenar a prisão do líder do governo
no Senado, com base na tese de crime continuado. Essa interpretação
desaconselha qualquer tentativa de barrar ou obstruir a Lava Jato de
parte do Palácio do Planalto ou da cúpula do Congresso.
A
decisão pôs em estado de alerta outros envolvidos no escândalo, a
começar pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que seria a
bola da vez. Ao pedir a conversão da prisão de André Esteves e do chefe
de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, a Procuradoria-geral da
República relatou que foi encontrado um documento que indica o suposto
pagamento de R$ 45 milhões do banco BTG Pactual para Cunha.
“Em
troca de uma emenda à medida provisória nº 608, o BTG Pactual,
proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava
interessado em utilizar os créditos fiscais de tal massa, pagou ao
Eduardo Cunha R$ 45 milhões”, afirma uma anotação no documento. Teriam
participado da negociação Carlos Fonseca e Milton Lyra, além de Cunha e
do próprio Esteves.
Cunha começou a semana se
defendendo da acusação. Ele afirma que suas emendas foram contrárias aos
interesses do BTG Pactual e atribui ao Planalto a intenção de deslocar o
foco da crise do líder do governo no Senado para a Presidência da
Câmara. Diz que é tudo uma “armação”. Desafeto do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, Cunha pode ser cassado por quebra de decoro
parlamentar porque negou ter contas bancárias na Suíça ao depor na CPI
da Petrobras.
Hoje, o Conselho de Ética
decidirá dar ou não seguimento ao processo de cassação de Cunha. O
presidente da Câmara, sob os holofotes da opinião pública, aguarda o
resultado para se manifestar sobre o impeachment pra presidente Dilma. É
uma chantagem que pode muito bem virar vingança. Três deputados do PT
que anunciaram votos contrários a Cunha no Conselho de Ética estão sendo
pressionados pelo Palácio do Planalto a mudar de voto.
Cunha
teria dois votos do PMDB, dois do PP, dois do PR, um do PSC, um do PSD e
um do Solidariedade. O voto do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP),
que disputou o comando do conselho com apoio de Cunha, é uma incógnita.
Para chegar a 12 votos favoráveis, Cunha também acena com o impeachment
para tentar conquistar pelo menos dois votos da oposição. Mas parece que
esse jogo se esgotou.
Medo das delações
O
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também está enrolado
na Lava Jato, faz como aquele maestro que tenta conter a confusão
mandando a orquestra tocar Mamãe Eu Quero. Pôs na pauta do Congresso a
aprovação da nova meta fiscal da União, estados e municípios de 2015 em
até R$ 119,9 bilhões, com teto de até R$ 57 bilhões para se abater a
quitação das chamadas “pedaladas fiscais”.
Essa
mudança afastaria o risco de impeachment da presidente Dilma por
desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal no atual mandato. Antes, os
parlamentares terão de votar três vetos presidenciais. Um deles é ao
Projeto de Lei do Senado nº 274/2015, que estende para 75 anos a
aposentadoria compulsória para todo o serviço público.
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