Nas Entrelinhas: Luiz carlos Azedo
Correio Braziliense - 29/01/2015
Dilma
Rousseff age em relação à Petrobras como se os interesses do governo e
do partido dela estivessem acima dos interesses dos cidadãos
brasileiros, os verdadeiros donos da empresa
As
ações da Petrobras fecharam em queda ontem, com perda de 11,21% das
ações preferenciais, cotadas a R$ 9,03; e de 10,48% das ordinárias, a R$
8,63. Durante o pregão da Bovespa, chegaram a perder quase 12%. Foi a
maior queda desde outubro de 2014, em valores nominais — uma
desvalorização da ordem de R$ 13,9 bilhões da empresa num único dia.
Na
tarde de terça-feira, em reunião ministerial, a presidente Dilma
Rousseff tratou os problemas da empresa como se a crise estivesse
controlada, pelo simples fato de que depende apenas de sua caneta a
manutenção ou não da atual diretoria da Petrobras, que vive a correr
atrás dos fatos negativos. Na madrugada de ontem — ou seja, na calada —,
a diretoria da estatal divulgou o balanço trimestral do ano passado sem
considerar o rombo causado pelo esquema de corrupção flagrado pela
Operação Lava- Jato, da Polícia Federal.
A Petrobras é uma
empresa pública, o governo é o acionista majoritário, mas deve seguir as
regras do jogo das sociedades anônimas. Na Bolsa, tem papéis ordinários
e preferenciais. As ações ordinárias dão ao acionista poder de voto em
assembleias, enquanto as preferenciais dão prioridade na distribuição de
dividendos, porém sem direito a voto. Os investidores estão de olho no
balanço, que determina o preço das ações, e podem recorrer à Justiça
caso sintam-se lesados. É o que ocorre nos Estados Unidos e que pode
resultar em multas pesadíssimas.
Chantagens
Dilma
Rousseff age em relação à Petrobras como se os interesses do governo e
do partido dela estivessem acima dos interesses dos cidadãos
brasileiros, os verdadeiros donos da empresa, e dos direitos dos
acionistas minoritários. Estão mais do que evidentes as chantagens que
está sofrendo dos ex-diretores da empresa envolvidos na Operação
Lava-Jato. A direção da empresa nunca se antecipa às denúncias, age
sempre reativamente.
A divulgação do balanço trimestral na
madrugada de ontem chega a ser um escárnio. A diretoria da Petrobras
havia prometido contabilizar as perdas decorrentes do esquema de propina
descoberto pela Lava- Jato. O relatório encaminhado pela diretoria da
empresa ao Conselho de Administração da Petrobras, presidido pelo
ex-ministro Guido Mantega, indicava a necessidade de uma baixa contábil
de R$ 88,6 bilhões nos ativos da companhia referentes às perdas com
corrupção ligadas à Operação Lava-Jato.
Mantega e a ex-ministra
do Planejamento Miriam Belchior, que também faz parte do conselho,
porém, questionaram os números e barraram a inclusão das perdas no
balanço trimestral. O discurso oficial é de que a metodologia adotada
para o cálculo não era adequada. A estatal supostamente não sabe como
calcular as perdas com corrupção, “pois o ajuste seria composto de
diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem
quantificadas individualmente”.
A desculpa dada pela presidente
da estatal, Graça Foster, sobre o ocorrido na reunião, depois de 12
horas de discussão, é meio esfarrapada: “Aprofundaremos outra
metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos
depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores
(CVM e SEC), visando a emissão das demonstrações contábeis revisadas”.
Enquanto
não se chega a um acordo sobre o rombo causado pela corrupção, as
notícias negativas sobre a empresa se sucedem. No próprio balanço de
ontem, a Petrobras comunica que duas refinarias Premium que não saíram
do papel, no Ceará e no Maranhão, geraram uma baixa contábil de R$ 2,707
bilhões: R$ 2,111 bilhões da Premium I e R$ 596 milhões, da Premium II.
Só isso seria suficiente para derrubar a diretoria, quando nada por
incompetência.
O lucro líquido da Petrobras no trimestre passado
foi de R$ 3,087 bilhões, valor 38% inferior ao segundo trimestre deste
ano. Se fossem contabilizados os US 88,6 bilhões de prejuízos causados pelo esquema de
corrupção investigados pela Lava-Jato, a estatal desmentiria a famosa frase de
John D. Rockfeller, o dono da lendária Standard Oil Company , monopólio
que a Suprema Corte dividiu em 34 empresas: “O melhor negócio do mundo é
uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor, uma empresa
de petróleo mal administrada”.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
Dilma no país das maravilhas
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 28/01/2015
Dilma tenta convencer a opinião pública de que as recentes medidas adotadas pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy não são uma ruptura com a política executada no mandato passado
Lembram-se daquela musiquinha de Alice no país das maravilhas? Chama-se Um mundo só meu. A letra começa assim: “Se esse mundo fosse só meu, tudo nele era diferente!/Nada era o que é porque tudo era o que não é/E também tudo que é, por sua vez, não seria./E o que não fosse, seria. Não é?/No meu mundo você não diria: ‘Miau’/Diria: ‘Sim, dona Alice!’”.
Esse foi mais ou menos o sentido do discurso de Dilma Rousseff na reunião ministerial de ontem, na qual conclamou os ministros a travar a batalha da comunicação para convencer a população de que a imprensa não fala a verdade quando trata dos problemas do país. Como se os cidadãos fossem gatinhos, flores e passarinhos de um mundo encantado.
“Nós devemos enfrentar o desconhecimento e a desinformação sempre e permanentemente. Não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação. (…) Sejam claros, sejam precisos, façam-se entender”, disse Dilma, em discurso transmitido por tevê e rádio do governo.
Dilma tenta convencer a opinião pública de que as recentes medidas adotadas pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nas áreas econômica, tributária, social e trabalhista não são uma ruptura com a política de expansão do gasto público e do consumo executada durante o seu mandato anterior.
Bastava olhar a fisionomia dos ministros ao ouvir o discurso para perceber que nem eles acreditam nisso. A fala presidencial foi pautada pelo marketing da campanha eleitoral, com a diferença de que não existe horário eleitoral gratuito para embrulhar o peixe do marqueteiro João Santana.
Em determinado momento, nem Dilma parecia convicta do que estava falando, a ponto de se irritar com o assessor responsável pelo teleprompter, equipamento acoplado à câmera de tevê que permite ao orador ler um texto. Depois de dar uma bronca pública no coitado, pedindo que exibisse o texto mais rapidamente, a presidente ameaçou ler o discurso no papel. Foi uma espécie de anticlimax retórico da reunião.
O ajuste
Dilma pediu aos ministros que digam que não houve recuo naquilo que foi apresentado na campanha eleitoral. “Vamos dizer a cada cidadão que não alteramos um só milímetro nosso projeto da eleição. Nosso povo votou em nós porque acredita que somos os mais indicados para fazer, porque acredita na nossa honestidade de propósitos.”
Na narrativa da presidente da República, não existe autocrítica. Tudo o que foi feito pelo governo visou o bem do país e foi devidamente legitimado pelo resultado eleitoral. O grande desequilíbrio provocado por gastos excessivos, preços administrados e maquiagens contábeis se justifica com a manutenção do emprego e da renda, não houve um “estelionato eleitoral”, como diz a oposição.
Se a presidente da República acredita nessa narrativa, vive realmente no mundo de Alice. O resultado, a médio prazo, será uma trombada com a nova equipe econômica, isto é, com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que já levou dois puxões de orelha por causa de declarações, em Davos, à imprensa internacional sobre o seguro-desemprego e as medidas que tomou.
Na concepção de Dilma, o ajuste fiscal é um “recuo organizado”, uma concessão às leis do mercado, mais ou menos como os bolcheviques fizeram na Rússia depois da guerra civil ao estimular a “livre produção mercantil” (experiência interrompida por Stalin, com as coletivizações forçadas e a estatização total da economia). Isso é música para a esquerda governista, que faz oposição ao novo ministro da Fazenda.
Para recuperar o crescimento da economia “o mais rápido possível”, disse Dilma, é preciso criar condições para a queda da inflação e das taxas de juros no médio prazo e garantir a continuidade da geração de emprego e renda. Não é fácil juntar uma coisa com a outra, como pretende, ainda mais no atual cenário econômico mundial. Que o digam os defenestrados ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e a ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior. Não é à toa que Luiz Gonzaga Belluzzo lidera as críticas dos economistas de esquerda à estratégia liberal de Levy.
Lava-Jato
O escândalo da Petrobras, centro das investigações da Polícia Federal na Operação Lava-Jato, foi abordado no discurso: “Temos de reconhecer que a Petrobras é a empresa mais estratégica para o Brasil. Temos que saber apurar, temos que saber punir, isso tudo sem enfraquecer a Petrobras, diminuir sua importância para o presente e para o futuro do país”, afirmou.
Dilma deu a entender que o governo ainda acredita num acordão com o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal (STF) para salvar as empreiteiras envolvidas no escândalo: “Mas nós devemos punir as pessoas, não destruir as empresas. As empresas são essenciais para o Brasil”.
Correio Braziliense - 28/01/2015
Dilma tenta convencer a opinião pública de que as recentes medidas adotadas pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy não são uma ruptura com a política executada no mandato passado
Lembram-se daquela musiquinha de Alice no país das maravilhas? Chama-se Um mundo só meu. A letra começa assim: “Se esse mundo fosse só meu, tudo nele era diferente!/Nada era o que é porque tudo era o que não é/E também tudo que é, por sua vez, não seria./E o que não fosse, seria. Não é?/No meu mundo você não diria: ‘Miau’/Diria: ‘Sim, dona Alice!’”.
Esse foi mais ou menos o sentido do discurso de Dilma Rousseff na reunião ministerial de ontem, na qual conclamou os ministros a travar a batalha da comunicação para convencer a população de que a imprensa não fala a verdade quando trata dos problemas do país. Como se os cidadãos fossem gatinhos, flores e passarinhos de um mundo encantado.
“Nós devemos enfrentar o desconhecimento e a desinformação sempre e permanentemente. Não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação. (…) Sejam claros, sejam precisos, façam-se entender”, disse Dilma, em discurso transmitido por tevê e rádio do governo.
Dilma tenta convencer a opinião pública de que as recentes medidas adotadas pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nas áreas econômica, tributária, social e trabalhista não são uma ruptura com a política de expansão do gasto público e do consumo executada durante o seu mandato anterior.
Bastava olhar a fisionomia dos ministros ao ouvir o discurso para perceber que nem eles acreditam nisso. A fala presidencial foi pautada pelo marketing da campanha eleitoral, com a diferença de que não existe horário eleitoral gratuito para embrulhar o peixe do marqueteiro João Santana.
Em determinado momento, nem Dilma parecia convicta do que estava falando, a ponto de se irritar com o assessor responsável pelo teleprompter, equipamento acoplado à câmera de tevê que permite ao orador ler um texto. Depois de dar uma bronca pública no coitado, pedindo que exibisse o texto mais rapidamente, a presidente ameaçou ler o discurso no papel. Foi uma espécie de anticlimax retórico da reunião.
O ajuste
Dilma pediu aos ministros que digam que não houve recuo naquilo que foi apresentado na campanha eleitoral. “Vamos dizer a cada cidadão que não alteramos um só milímetro nosso projeto da eleição. Nosso povo votou em nós porque acredita que somos os mais indicados para fazer, porque acredita na nossa honestidade de propósitos.”
Na narrativa da presidente da República, não existe autocrítica. Tudo o que foi feito pelo governo visou o bem do país e foi devidamente legitimado pelo resultado eleitoral. O grande desequilíbrio provocado por gastos excessivos, preços administrados e maquiagens contábeis se justifica com a manutenção do emprego e da renda, não houve um “estelionato eleitoral”, como diz a oposição.
Se a presidente da República acredita nessa narrativa, vive realmente no mundo de Alice. O resultado, a médio prazo, será uma trombada com a nova equipe econômica, isto é, com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que já levou dois puxões de orelha por causa de declarações, em Davos, à imprensa internacional sobre o seguro-desemprego e as medidas que tomou.
Na concepção de Dilma, o ajuste fiscal é um “recuo organizado”, uma concessão às leis do mercado, mais ou menos como os bolcheviques fizeram na Rússia depois da guerra civil ao estimular a “livre produção mercantil” (experiência interrompida por Stalin, com as coletivizações forçadas e a estatização total da economia). Isso é música para a esquerda governista, que faz oposição ao novo ministro da Fazenda.
Para recuperar o crescimento da economia “o mais rápido possível”, disse Dilma, é preciso criar condições para a queda da inflação e das taxas de juros no médio prazo e garantir a continuidade da geração de emprego e renda. Não é fácil juntar uma coisa com a outra, como pretende, ainda mais no atual cenário econômico mundial. Que o digam os defenestrados ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e a ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior. Não é à toa que Luiz Gonzaga Belluzzo lidera as críticas dos economistas de esquerda à estratégia liberal de Levy.
Lava-Jato
O escândalo da Petrobras, centro das investigações da Polícia Federal na Operação Lava-Jato, foi abordado no discurso: “Temos de reconhecer que a Petrobras é a empresa mais estratégica para o Brasil. Temos que saber apurar, temos que saber punir, isso tudo sem enfraquecer a Petrobras, diminuir sua importância para o presente e para o futuro do país”, afirmou.
Dilma deu a entender que o governo ainda acredita num acordão com o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal (STF) para salvar as empreiteiras envolvidas no escândalo: “Mas nós devemos punir as pessoas, não destruir as empresas. As empresas são essenciais para o Brasil”.
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Um jogo de perde-perde
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 27/01/2015
Dilma pode ter, no comando da Câmara, um adversário ardiloso e duro, cuja relação com o Palácio do Planalto será estabelecida em bases nunca antes vistas pelo PT
O principal assunto político da semana é a eleição da Mesa da Câmara, que se tornou uma dura batalha entre os dois principais partidos da base do governo, o PT e o PMDB. Quem mais perde na disputa é o Palácio do Planalto, qualquer que seja o resultado.
Caso o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), seja eleito presidente da Câmara, a presidente Dilma Rousseff terá a pauta da Casa na mão. Supostamente, esse é o melhor cenário para os governistas. Mas, em contrapartida, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), o principal adversário, passará informalmente à oposição.
Suponhamos que isso realmente ocorra. Em tese, o governo seria obrigado a escolher entre fazer concessões ainda maiores ao líder do PMDB ou negociar com a oposição, o que implicará ter de pactuar a sua agenda com os tucanos. De imediato, estão na pauta do Congresso as medidas impopulares que foram adotadas para restabelecer o equilíbrio fiscal e dependem de aprovação do Legislativo.
O plano A do Palácio do Planalto, porém, não é o cenário mais provável. Nos bastidores da Câmara, Cunha continua sendo o favorito no pleito, simplesmente porque o apoio formal dos demais partidos da base do governo ao candidato do PT não tem o compromisso integral das respectivas bancadas. Cunha teceu sua rede de apoios nos mais diversos partidos, inclusive nos de oposição.
Dilma pode ter, no comando da Câmara, um adversário ardiloso e duro, cuja relação com o Palácio do Planalto será estabelecida em bases nunca antes vistas pelo PT. Os petistas sempre contaram com o apoio do presidente da Câmara, mesmo na breve e temerária passagem de Severino Cavalcanti (PP-PE) pelo cargo, no governo Lula. Fora eleito em circunstâncias parecidas com a atual: um racha na base do governo.
Para quem não se recorda, Severino foi aquele que pediu ao ex-presidente Lula uma diretoria da Petrobras “que fura poço”. Parecia fisiologismo provinciano, mas ele sabia das coisas. Já rolava o esquema de propina flagrado pela Operação Lava-Jato na estatal.
O político pernambucano era o rei do baixo claro. Deu-se mal por causa da “taxa extra” que supostamente resolveu cobrar do concessionário de uma das cantinas da Câmara. Acabou renunciando ao mandato para não ser cassado pelos colegas.
Há uma versão de que Cunha estaria envolvido na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, como outros integrantes do PMDB, mas o peemedebista repeliu com veemência as acusações. Na verdade, o Palácio do Planalto teme que ele utilize o escândalo para chantagear a presidente Dilma. O presidente da Casa tem a prerrogativa de aceitar ou não a tramitação de pedidos de impeachment.
Dois outros candidatos disputam a eleição. O deputado Júlio Delgado (PSB) é o principal representante das oposições. Suas chances vão depender de um eventual segundo turno, no caso de ser o segundo colocado na primeira votação.
Caso isso ocorra, Delgado passaria a disputar a presidência da Câmara no mano a mano. É improvável um desfecho desse tipo, mas não é impossível, nem seria a primeira vez. O quarto candidato é o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), que se lançou para marcar posição. Na prática, a candidatura dele enfraquece o candidato de oposição e ajuda Chinaglia a chegar ao segundo turno.
Ser ou não ser
A boataria tomou conta dos bastidores do Senado, ontem. Ninguém sabe se Renan Calheiros (PMDB-AL) será mesmo candidato a presidente da Casa. Nos bastidores, comenta-se que ele ainda avalia a situação, em meio aos boatos de que é um dos políticos mais envolvidos na Operação Lava-Jato. Experiente e frio, mantém o suspense, mesmo entre os pares da bancada do PMDB.
Caso Renan desista, o candidato natural da bancada seria o líder do PMDB, Eunício de Oliveira (CE), cujas relações com a presidente Dilma Rousseff não são das mais amistosas. Dois outros nomes surgem como alternativa na bancada: Luiz Henrique (SC), que só esperaria um sinal do Palácio do Planalto para ir à luta, ou Ricardo Ferraço (ES), cujo nome foi lançado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), mas não se colocou abertamente na pugna.
Na eleição passada, Renan só confirmou a candidatura no dia da eleição. Pode ser que a situação se repita. Nesse caso, haverá um anticandidato de oposição. O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) pôs o nome à disposição.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
Vida e destino, Ida e Holocausto
Estou lendo Vida e Destino, obra magistral de Vassili
Grossman, escrita no final dos anos 50, no embalo da "denúncia do culto
à personalidade" de Nikita Kruschev. Em 1960, o autor tentou publicar o
livro em fascículos na revista “Znamya”, mas a KGB apreendeu o manuscrito.
Depois, as autoridades lhe disseram que o livro provocaria mais prejuízos ao
regime socialista que “o Doutor Jivago”, de Boris Pasternak.
“Nem daqui a 200 anos, o seu romance será publicado”,
disse-lhe o grande ideólogo do Politburo, Mikhail Suslov. Li o informe do
Suslov sobre a invasão da Checoslováquia, um texto que circulou mimeografado
entre os militantes do PCB na década de 1970. Com base nesse texto, a direção e
os militantes do PCB, entre os quais me incluo, defenderam a intervenção
soviética.
A sua tese básica é era de que a democratização do
regime naquele país representava uma ameaça para todo o sistema socialista
porque havia, ainda, relações de produção capitalistas na sua economia, ao
contrário do que acontecia na União Soviética, onde tudo era do Estado, até o
sorveteiro da esquina.
Nesse sentido, a ditadura do proletariado, isto é,
do partido, era a forma de poder mais adequada para preservar o socialismo na
Checoslováquia, onde a abertura era promovida pelo próprio PCCh, sob a liderança
de Alexandre Dubcek, que foi deposto na intervenção soviética.
Segundo Suslov, se havia um país que poderia abrir
mão da ditadura do proletariado, no futuro, seria a URSS. Dependeria das
condições internacionais e do desenvolvimento das forças produtivas, a sua
evolução para um "Estado de todo o povo", rumo ao comunismo, como
mais tarde proclamou Brejnev. Quando Gorbatchov tentou democratizar o regime,
a União Soviética dissolveu-se sem um tiro, depois de uma tentativa de golpe
militar da cúpula do PCUS.
Grossman morreu dois anos depois da apreensão
dos manuscritos. Julgou-se que a obra teria sido destruída pelo KGB, mas um
amigo de Grossman e o cientista Andrei Sakharov conseguiram, em 1974,
fazer chegar uma cópia a França, onde primeiro foi editada. Na Rússia, foi
publicada, depois da Glasnost de Gorbachev, em 1988, mesmo assim uma versão incompleta; no Brasil, lançado no
ano passado, está em todas as livrarias.
Banalização do mal
O livro é mais um soco na boca do estômago dos antigos militantes do PCB, como O homem que amava os cachorros, do Leonardo Padura. Romance épico, transcorre durante a Batalha de Stalingrado e descreve os horrores da guerra. O livro choca pela narrativa fora dos campos de batalha, em particular a perseguição aos judeus.
Vida e destino tem por cenários um campo de
concentração nazista, uma cidade ocupadas pelo exército alemão e uma aldeia para a qual foram
removidos os refugiados da guerra quando Moscou foi evacuada. Em todo lugar,
em meio ao autoritarismo, ao burocratismo, o culto à personalidade e a fé cega
no partido. E o antissemitismo!
Escrevo sobre isso porque amanhã, 27 de janeiro, é o dia em que o Exército
Vermelho chegou a Auschwitz, na Polônia, e revelou os horrores do Holocausto.
Por isso mesmo, a data é comemorada em todo o mundo até hoje, tanto quanto o
levante do Gueto de Varsóvia. Até então, havia rumores de que os judeus estavam
sendo exterminados, mas não se sabia onde e como, nem o que realmente se passava ali.
No complexo de Auschwitz II–Birkenau foram assassinados mais de três milhões
de pessoas: 2,5 milhões de judeus foram gaseificados, 500 mil morreram de fome
e doenças. Também foram deportados e executados 150 mil poloneses,
23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de 400
Testemunhas de Jeová.
O mundo deve o Exército Vermelho a preservação do local, intacto, até hoje.
Estive lá há alguns anos, em viagem de férias pelo Leste europeu. É um horror,
mas merece ser visto. É a prova de que a racionalidade e o humanismo não são
a mesma coisa. https://www.youtube.com/watch?v=2MU5YPjziR4
É preciso reconhecer que a "banalização
do mal", como sustentou Hanna Arendt sobre o Holocausto, é um fenômeno inerente ao
totalitarismo de um modo geral e não apenas aos campos de concentração nazistas. Não foi à toa
que o livro de Grosmann esteve proibido por tanto tempo.
A censura
Somente em 2013, o Serviço de Segurança Federal transferiu para o Arquivo de
Literatura e Arte do Estado o manuscrito completo do romance "Vida e
Destino", que ficava em um arquivo de acesso restrito. Agora,
pesquisadores poderão analisar os rascunhos e os capítulos inéditos da obra. A
filha e a neta do escritor estiveram presentes na cerimônia de transferência.
Grossman foi um notável repórter na guerra. Correspondente no front do jornal militar soviético Krasnaia zvezda (Estrela vermelha), esteve em Stalingrado
e presenciou a libertação dos campos de extermínio nazistas de Majdanek
e Treblinka. Seus relatos sobre o que encontrou ali foram usados como
testemunhos de acusação nos tribunais de Nuremberg, quando criminosos de
guerra foram levados a julgamento. A mãe de Grossman, Yekaterina
Saviélievna, a quem Vida e destino é dedicado, foi assassinada pelos alemães em Berdichev.
Escreveu o livro ao longo de dez anos, de 1950 até 1960, como continuação de um romance sobre a Batalha de Stalingrado de grande sucesso (Por uma causa justa), mas nunca chegou a vê-lo publicada. Deprimido com a apreensão do livro, escreveu ao primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, Nikita Kruschev:
Escreveu o livro ao longo de dez anos, de 1950 até 1960, como continuação de um romance sobre a Batalha de Stalingrado de grande sucesso (Por uma causa justa), mas nunca chegou a vê-lo publicada. Deprimido com a apreensão do livro, escreveu ao primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, Nikita Kruschev:
"Os métodos com os quais querem deixar em sigilo tudo o que aconteceu
com o meu livro não são métodos de combate à mentira ou à calúnia. Não é assim
que se luta contra a mentira. Assim se luta contra a verdade. Não há nenhum
sentido em minha liberdade física, quando o livro ao qual eu dediquei a minha
vida encontra-se preso. Peço liberdade para o meu livro."
Os materiais foram mantidos na KGB, embora eles não contivessem a indicação
de sigilo oficial, e uma cópia do romance sobreviveu aos cuidados de um amigo
do escritor, o poeta Semion Lípkin. Em 1970, foi possível levar essa cópia para
o exterior.
Um filme a ser visto
A trama é um reencontro com o passado, mas o grande objeto da narrativa é a jornada de uma jovem noviça que inicia a vida adulta e é obrigada a conviver com erros e decepções de uma tia comunista, antes de fazer seus votos. A tia pecadora e cheia de culpas coloca em xeque sua vocação: como fazer o sacrifício dos votos se não conhece o pecado?
http://mais.uol.com.br/view/1xu2xa5tnz3h/trailer-legendado-do-filme-ida-04028C9B3160C8995326?types=A&
domingo, 25 de janeiro de 2015
Balaio de caranguejos
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 25/01/2015
Ex-diretores da Petrobras e executivos de empreiteiras estão fazendo uma espécie de “chamada de co-réu”. No jargão dos advogados, isso significa atrair para o processo a atual diretoria da empresa e até mesmo a presidente Dilma Rousseff
A estratégia do Palácio do Planalto para blindar a presidente Dilma Rouseff e mantê-la longe da Operação Lava Jato é evitar que uma nova CPI seja aberta para investigar o caso no Congresso. Dependendo do desfecho da eleição da Mesa da Câmara, a situação poderia sair do controle, ainda mais diante do “despelote” que se instalou entre os diversos envolvidos, principalmente depois que a diretoria Petrobras passou a responsabilizar as empreiteiras pelo ocorrido.
A essa altura do campeonato, a nova narrativa governista parece aquela historia do ovo e da galinha: uma discussão sobre quem nasceu primeiro. Ao apontar o dedo para as grandes empreiteiras, as mesmas que antes o governo tentava salvar, responsabilizando-as pelo aliciamento de funcionários da estatal e a distribuição de propina aos políticos para que apadrinhassem a nomeação dos diretores da estatal, a Petrobras gerou uma reação em cadeia.
Os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto da Costa e Nestor Cerveró, o doleiro Alberto Yousseff, os executivos das empreiteiras que estão presos e até o ex-presidente Petrobras José Sérgio Gabrielli estão fazendo uma espécie de “chamada de co-réu”. No jargão dos advogados, isso significa atrair para o processo a atual diretoria da empresa e até mesmo a presidente Dilma Rousseff, que presidia o conselho de administração da estatal no governo Lula.
Parecem caranguejos no balaio: quando um tenta escapar, os outros se encarregam de puxá-lo pra baixo. O executivo Augusto Mendonça Neto, da Setal, acusou o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque de pedir dinheiro para o PT. Disse que doou R$ 4 milhões entre 2008 e 2011 à legenda como pagamento de propina para a realização de obras na Refinaria do Paraná (Repar). Petista de carteirinha, Duque é o único dos suspeitos presos por determinação do juiz Sérgio Moro que conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) até agora.
O advogado do doleiro Alberto Youisseff, apontado como o responsável pela principal denúncia contra os políticos, também foi para o ataque. Antonio Figueiredo Basto diz que os agentes públicos e políticos foram os grandes beneficiários do esquema de corrupção: "A participação dos políticos e dos agentes públicos foi fundamental no esquema. Não dá para desviar o foco para empreiteiras e operadores. O esquema foi comandado por agentes políticos para a manutenção de grupos e partidos no poder. O esquema alterou os resultados das eleições de 2006, 2010 e possivelmente de 2014. Houve desequilíbrio no pleito", disse.
Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, advogado do empresário Gérson de Mello Almada, vice presidente da Engevix Engenharia, partiu para o ataque frontal ao PT: “seu pragmatismo nas relações políticas chegou, no entanto, a tal dimensão que o apoio no Congresso Nacional passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares. O custo alto das campanhas eleitorais levou, também, à arrecadação desenfreada de dinheiro para as tesourarias dos partidos políticos”. Também sustenta que o grande operador do esquema era Paulo Roberto Costa.
Segundo ele, a Petrobrás foi escolhida para financiar a base do governo no Congresso e os partidos aliados do governo. “Quem detinha contratos vigentes com a Petrobrás sofreu achaque. Ainda que se admita, a título de argumentação, que teriam praticado crimes similares, é ínsito aos acontecimentos entender que a exigência de Paulo Roberto Costa – e demais brokers do projeto político de manutenção dos partidos na base do governo – colocou os empresários, todos, na mesma situação, não por vontade, não por intenção, mas por contingência dos fatos.”
Sem pressa
Para desespero dos envolvidos, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, não tem pressa em relação ao caso. Na sexta-feira, rejeitou um pedido de liberdade de Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado pela Polícia Federal como lobista que supostamente operava em favor do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras. Está preso desde 18 de novembro, Baiano é admitiu ser intermédiário de negócios com a Petrobras, mas negou envolvimento com a legenda. Lewandowski alegou que o caso não tem urgência para motivar decisão do presidente. Vale para os demais executivos que estão presos.
Correio Braziliense: 25/01/2015
Ex-diretores da Petrobras e executivos de empreiteiras estão fazendo uma espécie de “chamada de co-réu”. No jargão dos advogados, isso significa atrair para o processo a atual diretoria da empresa e até mesmo a presidente Dilma Rousseff
A estratégia do Palácio do Planalto para blindar a presidente Dilma Rouseff e mantê-la longe da Operação Lava Jato é evitar que uma nova CPI seja aberta para investigar o caso no Congresso. Dependendo do desfecho da eleição da Mesa da Câmara, a situação poderia sair do controle, ainda mais diante do “despelote” que se instalou entre os diversos envolvidos, principalmente depois que a diretoria Petrobras passou a responsabilizar as empreiteiras pelo ocorrido.
A essa altura do campeonato, a nova narrativa governista parece aquela historia do ovo e da galinha: uma discussão sobre quem nasceu primeiro. Ao apontar o dedo para as grandes empreiteiras, as mesmas que antes o governo tentava salvar, responsabilizando-as pelo aliciamento de funcionários da estatal e a distribuição de propina aos políticos para que apadrinhassem a nomeação dos diretores da estatal, a Petrobras gerou uma reação em cadeia.
Os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto da Costa e Nestor Cerveró, o doleiro Alberto Yousseff, os executivos das empreiteiras que estão presos e até o ex-presidente Petrobras José Sérgio Gabrielli estão fazendo uma espécie de “chamada de co-réu”. No jargão dos advogados, isso significa atrair para o processo a atual diretoria da empresa e até mesmo a presidente Dilma Rousseff, que presidia o conselho de administração da estatal no governo Lula.
Parecem caranguejos no balaio: quando um tenta escapar, os outros se encarregam de puxá-lo pra baixo. O executivo Augusto Mendonça Neto, da Setal, acusou o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque de pedir dinheiro para o PT. Disse que doou R$ 4 milhões entre 2008 e 2011 à legenda como pagamento de propina para a realização de obras na Refinaria do Paraná (Repar). Petista de carteirinha, Duque é o único dos suspeitos presos por determinação do juiz Sérgio Moro que conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) até agora.
O advogado do doleiro Alberto Youisseff, apontado como o responsável pela principal denúncia contra os políticos, também foi para o ataque. Antonio Figueiredo Basto diz que os agentes públicos e políticos foram os grandes beneficiários do esquema de corrupção: "A participação dos políticos e dos agentes públicos foi fundamental no esquema. Não dá para desviar o foco para empreiteiras e operadores. O esquema foi comandado por agentes políticos para a manutenção de grupos e partidos no poder. O esquema alterou os resultados das eleições de 2006, 2010 e possivelmente de 2014. Houve desequilíbrio no pleito", disse.
Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, advogado do empresário Gérson de Mello Almada, vice presidente da Engevix Engenharia, partiu para o ataque frontal ao PT: “seu pragmatismo nas relações políticas chegou, no entanto, a tal dimensão que o apoio no Congresso Nacional passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares. O custo alto das campanhas eleitorais levou, também, à arrecadação desenfreada de dinheiro para as tesourarias dos partidos políticos”. Também sustenta que o grande operador do esquema era Paulo Roberto Costa.
Segundo ele, a Petrobrás foi escolhida para financiar a base do governo no Congresso e os partidos aliados do governo. “Quem detinha contratos vigentes com a Petrobrás sofreu achaque. Ainda que se admita, a título de argumentação, que teriam praticado crimes similares, é ínsito aos acontecimentos entender que a exigência de Paulo Roberto Costa – e demais brokers do projeto político de manutenção dos partidos na base do governo – colocou os empresários, todos, na mesma situação, não por vontade, não por intenção, mas por contingência dos fatos.”
Sem pressa
Para desespero dos envolvidos, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, não tem pressa em relação ao caso. Na sexta-feira, rejeitou um pedido de liberdade de Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado pela Polícia Federal como lobista que supostamente operava em favor do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras. Está preso desde 18 de novembro, Baiano é admitiu ser intermédiário de negócios com a Petrobras, mas negou envolvimento com a legenda. Lewandowski alegou que o caso não tem urgência para motivar decisão do presidente. Vale para os demais executivos que estão presos.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Afaste de mim esse cara!
Ao não assumir publicamente a responsabilidade pelas medidas econômicas adotadas, Dilma Rousseff passa a impressão de que não está plenamente convencida de que são acertadas
Quem fizer uma pesquisa de imagem nas redes sociais verá que a presidente Dilma Rousseff tem evitado aparecer ao lado do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com quem tem raríssimas fotos, todas inevitáveis, porque foram tiradas na cerimônia de posse do ministro no cargo.
De igual maneira, a leitura dos jornais torna evidente que a presidente da República também não deu declarações endossando -- explicando, muito menos -- as duras medidas econômicas adotadas para restabelecer o equilíbrio fiscal: cortes nos benefícios sociais, trabalhistas e previdenciários; aumentos de impostos, como o da CIDE, e confisco nos salários, com a não-atualização do Imposto de Renda da pessoa Física recolhido na fonte.
O silêncio de Dilma Rousseff e seu sumiço são preocupantes. Mostram uma deliberada intenção de evitar a associação de sua imagem às medidas que estão sendo tomadas, o que estimula as críticas dos setores do governo, principalmente petistas, que ainda não digeriram a substituição de Guido Mantega por Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. O fato de não ter feito ajustes de ordem administrativa para enxugar a máquina pública federal reforça a suspeita de que a política econômica não tem o consenso do Palácio do Planalto.
Além disso, ao não assumir publicamente a responsabilidade pelas decisões econômicas adotadas, que tiveram seu apoio, Dilma Rousseff passa a impressão para o mercado de que não está plenamente convencida de que as medidas são acertadas e necessárias. E que pode voltar atrás diante de seus efeitos colaterais, ou seja, o aumento da inflação, a elevação da taxa de juros e a redução dos níveis de emprego.
Assim como não foi a Davos, provavelmente para evitar o constrangimento de reconhecer que suas previsões otimistas do ano passado não se confirmaram, Dilma também não recorreu à cadeia de rádio e televisão para anunciar as medidas, como fez de outras vezes. Poderia dizer estão sendo tomadas para evitar um desastre maior, mas não teria como explicar para a população porque escondeu o que verdadeiramente se passava durante a campanha eleitoral.
A propósito do discurso de campanha de Dilma, vale a pena ler de novo a coluna intitulada Burgueses e proletários, de 23 de outubro passado: http://blogdoazedo.blogspot.com.br/2014/10/burgueses-e-proletarios.html
Quem fizer uma pesquisa de imagem nas redes sociais verá que a presidente Dilma Rousseff tem evitado aparecer ao lado do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com quem tem raríssimas fotos, todas inevitáveis, porque foram tiradas na cerimônia de posse do ministro no cargo.
De igual maneira, a leitura dos jornais torna evidente que a presidente da República também não deu declarações endossando -- explicando, muito menos -- as duras medidas econômicas adotadas para restabelecer o equilíbrio fiscal: cortes nos benefícios sociais, trabalhistas e previdenciários; aumentos de impostos, como o da CIDE, e confisco nos salários, com a não-atualização do Imposto de Renda da pessoa Física recolhido na fonte.
O silêncio de Dilma Rousseff e seu sumiço são preocupantes. Mostram uma deliberada intenção de evitar a associação de sua imagem às medidas que estão sendo tomadas, o que estimula as críticas dos setores do governo, principalmente petistas, que ainda não digeriram a substituição de Guido Mantega por Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. O fato de não ter feito ajustes de ordem administrativa para enxugar a máquina pública federal reforça a suspeita de que a política econômica não tem o consenso do Palácio do Planalto.
Além disso, ao não assumir publicamente a responsabilidade pelas decisões econômicas adotadas, que tiveram seu apoio, Dilma Rousseff passa a impressão para o mercado de que não está plenamente convencida de que as medidas são acertadas e necessárias. E que pode voltar atrás diante de seus efeitos colaterais, ou seja, o aumento da inflação, a elevação da taxa de juros e a redução dos níveis de emprego.
Assim como não foi a Davos, provavelmente para evitar o constrangimento de reconhecer que suas previsões otimistas do ano passado não se confirmaram, Dilma também não recorreu à cadeia de rádio e televisão para anunciar as medidas, como fez de outras vezes. Poderia dizer estão sendo tomadas para evitar um desastre maior, mas não teria como explicar para a população porque escondeu o que verdadeiramente se passava durante a campanha eleitoral.
A propósito do discurso de campanha de Dilma, vale a pena ler de novo a coluna intitulada Burgueses e proletários, de 23 de outubro passado: http://blogdoazedo.blogspot.com.br/2014/10/burgueses-e-proletarios.html
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
O confisco e a gastança
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 22/01/2015
Destaca-se a perversidade do veto de Dilma Rousseff à correção do Imposto de Renda, que não compensará a inflação e tungará parte dos ajustes de salários
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello pôs o dedo na ferida ao criticar o aumento na carga tributária anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o veto da presidente Dilma Rousseff à correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. Segundo o ministro, em entrevista ao jornal O Globo, o governo “forçou a mão”. E foi mesmo, pois jogou o ônus do ajuste fiscal nas costas dos assalariados e da classe média, que ainda vão pagar mais caro pela energia elétrica e pela gasolina (com o petróleo em baixa).
Na campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff disse que não faria isso “nem que a vaca tossisse”; agora, parece que está com bronquite. Nos primeiros 20 dias do segundo mandato, o saco de maldades para enfrentar o deficit público é muito maior do que aquele que atribuíra à oposição nos debates eleitorais. Não é à toa que a presidente da República tomou chá de sumiço e deixa o novo ministro da Fazenda pôr a cara na reta.
Marco Aurélio aponta o xis da questão: “Eu fico triste quando percebo menoscabo em relação à ordem jurídica constitucional. O Estado tem que adotar uma postura que sirva de norte ao cidadão. Ante a carga de impostos sofrida pelos brasileiros, qualquer aumento tributário é confisco. O que eles têm que fazer é enxugar a máquina administrativa, reduzir os gastos. Na sua casa, você gasta mais do que a receita? Não. Nós brasileiros já contribuímos em muito. Esperamos que o que é arrecadado não vá pelo ralo”.
A redução de gastos do governo com cortes no Orçamento e outras medidas corresponderia a uma economia de mais de R$ 30 bilhões neste ano. Mesmo assim, é considerada insuficiente. É que as restrições no acesso a benefícios como o seguro-desemprego e o contingenciamento preventivo no Orçamento não garantem o cumprimento da meta de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública), que foi fixada em R$ 66,32 bilhões, ou seja, 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.
Diante disso, a opção foi elevar as tarifas reduzidas pelo governo na gestão do ministro Guido Mantega: a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre combustíveis, que estava zerada desde 2012; e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), congelado em 1,5% havia dois anos e que foi elevado a 3%. Levy argumenta que não é possível restabelecer o equilíbrio fiscal sem aumentar impostos. Será mesmo?
O estado da nação
Na verdade, há uma lógica perversa no ajuste: na prática, haverá uma maior intervenção do Estado na economia porque aumentará a fatia do PIB abocanhada pelo Orçamento da União. A perversidade está no fato de que esse aumento decorre da preservação da estrutura paquidérmica do governo, com seus 39 ministérios, e dos custos financeiros da alta da taxa de juros sobre a dívida pública.
De fato, seria muito difícil arrumar as contas públicas somente com redução de gastos. Não houve enxugamento da máquina pública, com redução do número de ministérios, extinção de cargos comissionados e desativação de programas e serviços burocráticos que atrapalham mais do que ajudam os cidadãos (em detrimento da qualidade da educação, da saúde, da segurança e da mobilidade urbana).
O efeito colateral do ajuste será a elevação da inflação e o crescimento zero em 2015, uma espécie de preço a pagar para restabelecer a confiança do mercado e garantir investimentos futuros, segundo o novo ministro Joaquim Levy. Destaca-se a perversidade do veto de Dilma Rousseff à correção do Imposto de Renda, que não compensará a inflação e tungará parte dos ajustes de salários. Muitos terão de pagar mais simplesmente porque conseguiram repor as perdas com a inflação. A correção de 4,5% proposta pelo governo, na prática, representa um confisco social.
Tudo isso não deixa de ser uma grande ironia diante do que acontece nos Estados Unidos, cujo declínio era considerado inexorável por estrategistas do Planalto quando a presidente Dilma Rousseff enveredou pela “nova matriz econômica” e apostou tudo no crescimento dos BRICs (Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil). O presidente Barack Obama, em seu discurso no Congresso intitulado “O estado da nação”, acaba de propor a taxação das grandes fortunas, a elevação do salário mínimo e a garantia de ensino superior gratuito para as camadas mais pobres da população terem acesso aos bons empregos. Os EUA saíram da crise e a Casa Branca quer combater as desigualdades sociais na retomada do crescimento, ou seja, revigorar “o sonho americano”.
Correio Braziliense - 22/01/2015
Destaca-se a perversidade do veto de Dilma Rousseff à correção do Imposto de Renda, que não compensará a inflação e tungará parte dos ajustes de salários
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello pôs o dedo na ferida ao criticar o aumento na carga tributária anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o veto da presidente Dilma Rousseff à correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. Segundo o ministro, em entrevista ao jornal O Globo, o governo “forçou a mão”. E foi mesmo, pois jogou o ônus do ajuste fiscal nas costas dos assalariados e da classe média, que ainda vão pagar mais caro pela energia elétrica e pela gasolina (com o petróleo em baixa).
Na campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff disse que não faria isso “nem que a vaca tossisse”; agora, parece que está com bronquite. Nos primeiros 20 dias do segundo mandato, o saco de maldades para enfrentar o deficit público é muito maior do que aquele que atribuíra à oposição nos debates eleitorais. Não é à toa que a presidente da República tomou chá de sumiço e deixa o novo ministro da Fazenda pôr a cara na reta.
Marco Aurélio aponta o xis da questão: “Eu fico triste quando percebo menoscabo em relação à ordem jurídica constitucional. O Estado tem que adotar uma postura que sirva de norte ao cidadão. Ante a carga de impostos sofrida pelos brasileiros, qualquer aumento tributário é confisco. O que eles têm que fazer é enxugar a máquina administrativa, reduzir os gastos. Na sua casa, você gasta mais do que a receita? Não. Nós brasileiros já contribuímos em muito. Esperamos que o que é arrecadado não vá pelo ralo”.
A redução de gastos do governo com cortes no Orçamento e outras medidas corresponderia a uma economia de mais de R$ 30 bilhões neste ano. Mesmo assim, é considerada insuficiente. É que as restrições no acesso a benefícios como o seguro-desemprego e o contingenciamento preventivo no Orçamento não garantem o cumprimento da meta de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública), que foi fixada em R$ 66,32 bilhões, ou seja, 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.
Diante disso, a opção foi elevar as tarifas reduzidas pelo governo na gestão do ministro Guido Mantega: a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre combustíveis, que estava zerada desde 2012; e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), congelado em 1,5% havia dois anos e que foi elevado a 3%. Levy argumenta que não é possível restabelecer o equilíbrio fiscal sem aumentar impostos. Será mesmo?
O estado da nação
Na verdade, há uma lógica perversa no ajuste: na prática, haverá uma maior intervenção do Estado na economia porque aumentará a fatia do PIB abocanhada pelo Orçamento da União. A perversidade está no fato de que esse aumento decorre da preservação da estrutura paquidérmica do governo, com seus 39 ministérios, e dos custos financeiros da alta da taxa de juros sobre a dívida pública.
De fato, seria muito difícil arrumar as contas públicas somente com redução de gastos. Não houve enxugamento da máquina pública, com redução do número de ministérios, extinção de cargos comissionados e desativação de programas e serviços burocráticos que atrapalham mais do que ajudam os cidadãos (em detrimento da qualidade da educação, da saúde, da segurança e da mobilidade urbana).
O efeito colateral do ajuste será a elevação da inflação e o crescimento zero em 2015, uma espécie de preço a pagar para restabelecer a confiança do mercado e garantir investimentos futuros, segundo o novo ministro Joaquim Levy. Destaca-se a perversidade do veto de Dilma Rousseff à correção do Imposto de Renda, que não compensará a inflação e tungará parte dos ajustes de salários. Muitos terão de pagar mais simplesmente porque conseguiram repor as perdas com a inflação. A correção de 4,5% proposta pelo governo, na prática, representa um confisco social.
Tudo isso não deixa de ser uma grande ironia diante do que acontece nos Estados Unidos, cujo declínio era considerado inexorável por estrategistas do Planalto quando a presidente Dilma Rousseff enveredou pela “nova matriz econômica” e apostou tudo no crescimento dos BRICs (Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil). O presidente Barack Obama, em seu discurso no Congresso intitulado “O estado da nação”, acaba de propor a taxação das grandes fortunas, a elevação do salário mínimo e a garantia de ensino superior gratuito para as camadas mais pobres da população terem acesso aos bons empregos. Os EUA saíram da crise e a Casa Branca quer combater as desigualdades sociais na retomada do crescimento, ou seja, revigorar “o sonho americano”.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
O cerco se fecha
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliene - 21/01/2015
Para os procuradores, os contratos de consultoria dos ex-diretores com as empreiteiras mascaravam a propina, e a origem do esquema seria o financiamento das campanhas eleitorais
O cerco aos políticos envolvidos no escândalo da Petrobras está se fechando. Ontem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou a criação de uma força-tarefa com oito procuradores do Ministério Público Federal para comandar apurações sobre o envolvimento de políticos no esquema de corrupção e desvios em contratos da Petrobras. Os nomes de dezenas deles foram citados nas delações premiadas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Youssef.
A decisão coincide com a viagem dos procuradores federais do Paraná, que já investigavam o caso, à Suíça em busca de documentos que comprovem operações financeiras dos envolvidos no exterior. O Ministério Público suíço comprometeu-se com o fornecimento dessas provas em troca da continuidade das investigações pelos colegas brasileiros aqui no Brasil. Para o juiz federal do Paraná Sérgio Moro, esses documentos são necessários para julgar os executivos das empreiteiras e funcionários da Petrobras envolvidos no caso. Os políticos com mandato serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Os procuradores federais também pretendem oferecer ações de improbidade administrativa contra seis empreiteiras que atuavam no esquema de corrupção da Petrobras. A denúncia deve atingir as empresas Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, OAS e UTC, e deve agravar a crise instalada no setor da construção pesada. Mais de 20 construtoras, incluindo a Odebrecht, maior empreiteira do Brasil, deverão ser denunciadas criminalmente por formação de cartel. Caso sejam condenadas, serão consideradas inidôneas e não poderão prestar serviços para o setor público.
Tiroteio
A preocupação com a situação da Petrobras e das construtoras é crescente no Palácio do Planalto. Embora procure manter a maior distância possível do caso, a presidente Dilma Rousseff tem dado orientações no sentido de evitar a paralisia dos projetos em execução, mas os problemas legais para que isso ocorra são cada vez maiores. É o caso, por exemplo, da Sete Brasil, fabricante de sondas para o pré-sal, que está em colapso.
Fala-se na necessidade de um grande acordo político e institucional para salvar as empresas e punir os responsáveis pelos desvios, mas uma solução desse tipo está se tornando cada vez mais difícil. Instalou-se um tiroteio entre as partes envolvidas. Na narrativa governista, as empresas corromperam os funcionários e os políticos para obter mais lucros. Nessa linha, a atual diretoria da Petrobras procura responsabilizar as empreiteiras pela formação do cartel e tirar o corpo fora, ao responsabilizar os antigos diretores pelas irregularidades.
A prisão do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró gerou certo pânico entre os envolvidos. O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, ao pedir o desbloqueio de seus bens pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com outros 10 integrantes da Diretoria Executiva da estatal, solicitou que, em caso de negativa, os membros do Conselho de Administração também sejam atingidos. O processo trata da compra superfaturada da Refinaria de Pasadena, nos EUA, em 2006. À época, a presidente Dilma Rousseff presidia o conselho que autorizou a aquisição.
Preso desde a semana passada, Cerveró não pretende recorrer à delação premiada, mas sua linha de defesa vai mais ou menos na mesma direção da de Gabrielli. Como teve a prisão decretada porque transferiu os bens para os filhos e tentou sacar R$ 500 mil da previdência privada, seus advogados alegam que a presidente da Petrobras, Graça Foster, também deveria estar presa, pois adotou o mesmo procedimento. Cerveró já havia responsabilizado Gabrielli pela compra, sem licitação, de um navio-sonda de perfuração marítima. Segundo os procuradores federais, a operação teria rendido propina de US$ 30 milhões aos envolvidos no caso.
O ex-presidente e sócio majoritário da UTC Ricardo Pessoa, que está preso, é acusado de comandar o cartel, mas afunda atirando: disse à Polícia Federal que pagou um total de R$ 2,2 milhões ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, por consultorias. E alega que o cartel foi formado por exigência da direção da Petrobras, que detinha o monopólio dos contratos de prestação de serviços, obras e compras de equipamentos sem licitações, além dos aditivos. Para os procuradores, os contratos de consultoria dos ex-diretores com as empreiteiras mascaravam a propina, e a origem do esquema seria o financiamento das campanhas eleitorais dos partidos envolvidos.
Correio Braziliene - 21/01/2015
Para os procuradores, os contratos de consultoria dos ex-diretores com as empreiteiras mascaravam a propina, e a origem do esquema seria o financiamento das campanhas eleitorais
O cerco aos políticos envolvidos no escândalo da Petrobras está se fechando. Ontem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou a criação de uma força-tarefa com oito procuradores do Ministério Público Federal para comandar apurações sobre o envolvimento de políticos no esquema de corrupção e desvios em contratos da Petrobras. Os nomes de dezenas deles foram citados nas delações premiadas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Youssef.
A decisão coincide com a viagem dos procuradores federais do Paraná, que já investigavam o caso, à Suíça em busca de documentos que comprovem operações financeiras dos envolvidos no exterior. O Ministério Público suíço comprometeu-se com o fornecimento dessas provas em troca da continuidade das investigações pelos colegas brasileiros aqui no Brasil. Para o juiz federal do Paraná Sérgio Moro, esses documentos são necessários para julgar os executivos das empreiteiras e funcionários da Petrobras envolvidos no caso. Os políticos com mandato serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Os procuradores federais também pretendem oferecer ações de improbidade administrativa contra seis empreiteiras que atuavam no esquema de corrupção da Petrobras. A denúncia deve atingir as empresas Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, OAS e UTC, e deve agravar a crise instalada no setor da construção pesada. Mais de 20 construtoras, incluindo a Odebrecht, maior empreiteira do Brasil, deverão ser denunciadas criminalmente por formação de cartel. Caso sejam condenadas, serão consideradas inidôneas e não poderão prestar serviços para o setor público.
Tiroteio
A preocupação com a situação da Petrobras e das construtoras é crescente no Palácio do Planalto. Embora procure manter a maior distância possível do caso, a presidente Dilma Rousseff tem dado orientações no sentido de evitar a paralisia dos projetos em execução, mas os problemas legais para que isso ocorra são cada vez maiores. É o caso, por exemplo, da Sete Brasil, fabricante de sondas para o pré-sal, que está em colapso.
Fala-se na necessidade de um grande acordo político e institucional para salvar as empresas e punir os responsáveis pelos desvios, mas uma solução desse tipo está se tornando cada vez mais difícil. Instalou-se um tiroteio entre as partes envolvidas. Na narrativa governista, as empresas corromperam os funcionários e os políticos para obter mais lucros. Nessa linha, a atual diretoria da Petrobras procura responsabilizar as empreiteiras pela formação do cartel e tirar o corpo fora, ao responsabilizar os antigos diretores pelas irregularidades.
A prisão do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró gerou certo pânico entre os envolvidos. O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, ao pedir o desbloqueio de seus bens pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com outros 10 integrantes da Diretoria Executiva da estatal, solicitou que, em caso de negativa, os membros do Conselho de Administração também sejam atingidos. O processo trata da compra superfaturada da Refinaria de Pasadena, nos EUA, em 2006. À época, a presidente Dilma Rousseff presidia o conselho que autorizou a aquisição.
Preso desde a semana passada, Cerveró não pretende recorrer à delação premiada, mas sua linha de defesa vai mais ou menos na mesma direção da de Gabrielli. Como teve a prisão decretada porque transferiu os bens para os filhos e tentou sacar R$ 500 mil da previdência privada, seus advogados alegam que a presidente da Petrobras, Graça Foster, também deveria estar presa, pois adotou o mesmo procedimento. Cerveró já havia responsabilizado Gabrielli pela compra, sem licitação, de um navio-sonda de perfuração marítima. Segundo os procuradores federais, a operação teria rendido propina de US$ 30 milhões aos envolvidos no caso.
O ex-presidente e sócio majoritário da UTC Ricardo Pessoa, que está preso, é acusado de comandar o cartel, mas afunda atirando: disse à Polícia Federal que pagou um total de R$ 2,2 milhões ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, por consultorias. E alega que o cartel foi formado por exigência da direção da Petrobras, que detinha o monopólio dos contratos de prestação de serviços, obras e compras de equipamentos sem licitações, além dos aditivos. Para os procuradores, os contratos de consultoria dos ex-diretores com as empreiteiras mascaravam a propina, e a origem do esquema seria o financiamento das campanhas eleitorais dos partidos envolvidos.
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
A biografia de um mito
Prestes teve o destino do país nas mãos, em 1930 e 1945, mas entre o poder e os ideais, optou por suas convicções
Acabei de ler a mais nova biografia de Luiz Carlos Prestes. Não merece a desqualificação feita por Anita Prestes, o que não significa que esteja a salvo de suas críticas objetivas. O autor aparentemente deu prioridade aos documentos, inclusive às gravações da famosa reunião do Comitê Central do PCB em Praga, mas sabemos que o resgate da história do PCB, por causa da longa clandestinidade, depende muito da transmissão oral de seus velhos quadros e dirigentes, a maioria dos quais não nos deixou livros de memórias. Entre os protagonistas da ruptura de Prestes com o PCB, o que mais escreveu foi Hércules Correa, daí talvez a indisfarçável simpatia do autor pelo ex-deputado e ex-tecelão comunista, de quem foi amigo.
Como dizia meu falecido pai, meu nome é Luiz Carlos "por motivos óbvios": sou filho de comunistas. Minha avó Corina era "prestista" e foi ver a saída de Prestes da cadeia, depois de 9 anos de cárcere. Estive com o Prestes, a quem idolatrava, por três vezes, todas após a sua volta ao Brasil. Minha primeira decepção foi quando ele desembarcou no Galeão e disse que chegava como simples cidadão, não assumiu a condição de dirigente comunista. Não consegui entender aquilo, pois destoava do comportamento dos demais dirigentes, que já haviam chegado.
Líder estudantil no Rio de janeiro, eu havia sido designado pela Executiva para integrar a Seção Juvenil do Comitê Central e me surpreendi muito com o fato, uma vez que a orientação recebida fora preparar a maior e mais entusiástica recepção possível para o "Velho". Ao indagar ao Giocondo Dias o que estava acontecendo, ele me disse, ironicamente: "por que você não pergunta pra ele?" Foi o que fiz, levado pelo secretario da Seção Juvenil, Idivarcy Martins, que havia sido assessor de Prestes. O que ouvi de críticas dele ao Comitê Central é exatamente o que está no livro.
O documento político que mais debati na vida foi a Resolução do VI Congresso do PCB, que Prestes passara a atacar duramente. Sei até hoje o trecho da resolução do qual ele mais discordava: "o centro da nossa tática é unir, organizar e mobilizar a classe operária e demais forças antiditatoriais na luta pela redemocratização do país". Na opinião de Prestes, a queda da ditadura e a revolução deveriam fazer parte de um único processo, tratava-se de subordinar a luta do partido contra ditadura à luta pelo socialismo, ou seja, disputar a hegemonia do processo com os liberais, o que inviabilizaria a ampla frente democrática que havia se formado. Apesar da simpatia que tinha por ele, era impossível concordar com isso. Naquele momento, a linha política do PCB estava se demonstrando muito acertada, ao contrário do que ocorrera com as teses voluntaristas dos grupos que optaram pela luta armada e que defendiam a formação de uma "frente de esquerda".
Tive mais dois encontros com ele, o último às vésperas de sua destituição da secretaria-geral do PCB. Nessa conversa derradeira, que ocorreu num apartamento da Rua Rainha Elizabeth, entre Ipanema e Copacabana, onde morava provisoriamente, ousei contestar sua posição contrária à luta pela legalidade do PCB. Ele levantou-se e encerrou o assunto. Só então me dei conta de que, fisicamente, ele era muito baixinho.
Entretanto, depois de Getúlio Vargas, considero Prestes a personalidade política mais importante da História do Brasil no Século XX, seja como o gênio militar que virou um mito ao comandar a Coluna que leva seu nome e o de Miguel Costa, seja como o líder comunista que assombrou as forças conservadoras e reacionárias do país. Por duas vezes teve o destino do país nas mãos: em 1930, ao abdicar do comando da Revolução, e em 1945, quando apoiou Getúlio Vargas e o "queremismo". Entre o poder e os ideais, optou por suas convicções, como muito bem retrata o livro de Daniel Aarão Reis, que recomendo aos amigos e velhos camaradas.
Como dizia meu falecido pai, meu nome é Luiz Carlos "por motivos óbvios": sou filho de comunistas. Minha avó Corina era "prestista" e foi ver a saída de Prestes da cadeia, depois de 9 anos de cárcere. Estive com o Prestes, a quem idolatrava, por três vezes, todas após a sua volta ao Brasil. Minha primeira decepção foi quando ele desembarcou no Galeão e disse que chegava como simples cidadão, não assumiu a condição de dirigente comunista. Não consegui entender aquilo, pois destoava do comportamento dos demais dirigentes, que já haviam chegado.
Líder estudantil no Rio de janeiro, eu havia sido designado pela Executiva para integrar a Seção Juvenil do Comitê Central e me surpreendi muito com o fato, uma vez que a orientação recebida fora preparar a maior e mais entusiástica recepção possível para o "Velho". Ao indagar ao Giocondo Dias o que estava acontecendo, ele me disse, ironicamente: "por que você não pergunta pra ele?" Foi o que fiz, levado pelo secretario da Seção Juvenil, Idivarcy Martins, que havia sido assessor de Prestes. O que ouvi de críticas dele ao Comitê Central é exatamente o que está no livro.
O documento político que mais debati na vida foi a Resolução do VI Congresso do PCB, que Prestes passara a atacar duramente. Sei até hoje o trecho da resolução do qual ele mais discordava: "o centro da nossa tática é unir, organizar e mobilizar a classe operária e demais forças antiditatoriais na luta pela redemocratização do país". Na opinião de Prestes, a queda da ditadura e a revolução deveriam fazer parte de um único processo, tratava-se de subordinar a luta do partido contra ditadura à luta pelo socialismo, ou seja, disputar a hegemonia do processo com os liberais, o que inviabilizaria a ampla frente democrática que havia se formado. Apesar da simpatia que tinha por ele, era impossível concordar com isso. Naquele momento, a linha política do PCB estava se demonstrando muito acertada, ao contrário do que ocorrera com as teses voluntaristas dos grupos que optaram pela luta armada e que defendiam a formação de uma "frente de esquerda".
Tive mais dois encontros com ele, o último às vésperas de sua destituição da secretaria-geral do PCB. Nessa conversa derradeira, que ocorreu num apartamento da Rua Rainha Elizabeth, entre Ipanema e Copacabana, onde morava provisoriamente, ousei contestar sua posição contrária à luta pela legalidade do PCB. Ele levantou-se e encerrou o assunto. Só então me dei conta de que, fisicamente, ele era muito baixinho.
Entretanto, depois de Getúlio Vargas, considero Prestes a personalidade política mais importante da História do Brasil no Século XX, seja como o gênio militar que virou um mito ao comandar a Coluna que leva seu nome e o de Miguel Costa, seja como o líder comunista que assombrou as forças conservadoras e reacionárias do país. Por duas vezes teve o destino do país nas mãos: em 1930, ao abdicar do comando da Revolução, e em 1945, quando apoiou Getúlio Vargas e o "queremismo". Entre o poder e os ideais, optou por suas convicções, como muito bem retrata o livro de Daniel Aarão Reis, que recomendo aos amigos e velhos camaradas.
Carga ao mar nas eleições do Congresso
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliene - 20/01/2015
A troika Sarney-Renan-Braga era o esteio do governo no Senado. Resta apenas Renan, que está insatisfeito com o Planalto devido ao veto presidencial ao nome do senador Jucá para a liderança do governo no Senado
O
novo esquema de articulação política do Palácio do Planalto já opera
como quem tem conhecimento da lista de políticos citados nas “delações
premiadas” pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras
Paulo Roberto da Costa na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que
apura o escândalo da estatal. Oficialmente, somente têm acesso à lista o
juiz federal do Paraná, Sérgio Moro; o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot; e o ministro Teori Zavascki, relator do processo no
Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão do governo é jogar ao mar nas
eleições da Câmara e do Senado os aliados envolvidos no escândalo.
Na disputa pela presidência da Câmara, cresce o otimismo do Planalto com a candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na avaliação do conselho político do governo, suas chances de derrotar o candidato do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), seriam reais, embora o peemedebista tenha sólido apoio da cúpula de seu partido e da bancada federal, além de engajamento do seu próprio grupo político, que tem forte influência em outras legendas, como é o caso do PP. Cunha rechaça qualquer insinuação de que estaria envolvido no escândalo da Petrobras, contando para isso com um desmentido formal da defesa do doleiro Alberto Youssef de que estaria citado em seu depoimento.
A disputa pela Câmara tem mais um candidato, o líder do PSB, Júlio Delgado (MG), que conta com o apoio do PSDB e do PPS. O Palácio do Planalto aposta numa eleição em dois turnos, na qual a oposição se veria diante do dilema de ter que escolher entre Chinaglia e Cunha se Delgado não for derrotado já no primeiro turno. Diante da crise que se instalará no Congresso a partir da denúncia dos políticos envolvidos no escândalo da Petrobras, estrategistas do Planalto acreditam que é melhor para o governo perder com Chinaglia do que vencer com Cunha. Nesse caso, o desgaste político com sua atuação iria para a oposição e não para o governo.
A nova troika
Mais surpreendentes na nova estratégia do Palácio do Planalto são as articulações no Senado. Com a ida do ex-líder do governo Eduardo Braga para o Ministério de Minas e Energia, que era um feudo do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é candidato não declarado à reeleição, tenta emplacar no cargo o senador Romero Jucá (PMDB-RR). A presidente Dilma Rousseff, porém, vetou a indicação do senador, que já serviu neste posto aos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
A troika Sarney-Renan-Braga era o esteio do governo no Senado. Resta apenas Renan, que está insatisfeito com o Planalto devido ao veto presidencial ao nome de Jucá. O líder do PMDB, senador Eunício de Oliveira (CE), é outro amuado com o Palácio do Planalto, desde a campanha eleitoral, por causa das eleições no Ceará, nas quais foi derrotado pelo petista Camilo Santana, candidato do então governador Cid Gomes (Pros), que acaba de assumir o Ministério da Educação. Eunício pleiteava o Ministério da Integração Nacional, mas foi preterido por Dilma, que nomeou para o cargo um apadrinhado do PP, Gilberto Ochi, ex-ministro das Cidades.
As relações entre Renan e Eunício já foram melhores. Nas negociações da reforma ministerial, a presença do político cearense na Esplanada não foi uma prioridade de Renan, mas sim a nomeação do ministro do Turismo, o ex-gerente da Assessoria Internacional do Sebrae Vinicius Lages. Nada impede que ambos se acertem, até por uma questão de sobrevivência. Mas Eunício pode querer ser presidente do Senado já, revezando com Renan na liderança do PMDB. Ao Palácio do Planalto, não interessa que o novo líder do governo seja ligado aos dois, como é o caso de Jucá. Isso significaria a formação de uma nova troika peemedebista no Senado, com grande poder de fogo, ainda mais se Cunha vencer as eleições na Câmara.
Correio Braziliene - 20/01/2015
A troika Sarney-Renan-Braga era o esteio do governo no Senado. Resta apenas Renan, que está insatisfeito com o Planalto devido ao veto presidencial ao nome do senador Jucá para a liderança do governo no Senado
Senadores Romero Jucá, Renan Calheiros e Eunício de Oliveira |
Na disputa pela presidência da Câmara, cresce o otimismo do Planalto com a candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na avaliação do conselho político do governo, suas chances de derrotar o candidato do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), seriam reais, embora o peemedebista tenha sólido apoio da cúpula de seu partido e da bancada federal, além de engajamento do seu próprio grupo político, que tem forte influência em outras legendas, como é o caso do PP. Cunha rechaça qualquer insinuação de que estaria envolvido no escândalo da Petrobras, contando para isso com um desmentido formal da defesa do doleiro Alberto Youssef de que estaria citado em seu depoimento.
A disputa pela Câmara tem mais um candidato, o líder do PSB, Júlio Delgado (MG), que conta com o apoio do PSDB e do PPS. O Palácio do Planalto aposta numa eleição em dois turnos, na qual a oposição se veria diante do dilema de ter que escolher entre Chinaglia e Cunha se Delgado não for derrotado já no primeiro turno. Diante da crise que se instalará no Congresso a partir da denúncia dos políticos envolvidos no escândalo da Petrobras, estrategistas do Planalto acreditam que é melhor para o governo perder com Chinaglia do que vencer com Cunha. Nesse caso, o desgaste político com sua atuação iria para a oposição e não para o governo.
A nova troika
Mais surpreendentes na nova estratégia do Palácio do Planalto são as articulações no Senado. Com a ida do ex-líder do governo Eduardo Braga para o Ministério de Minas e Energia, que era um feudo do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é candidato não declarado à reeleição, tenta emplacar no cargo o senador Romero Jucá (PMDB-RR). A presidente Dilma Rousseff, porém, vetou a indicação do senador, que já serviu neste posto aos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
A troika Sarney-Renan-Braga era o esteio do governo no Senado. Resta apenas Renan, que está insatisfeito com o Planalto devido ao veto presidencial ao nome de Jucá. O líder do PMDB, senador Eunício de Oliveira (CE), é outro amuado com o Palácio do Planalto, desde a campanha eleitoral, por causa das eleições no Ceará, nas quais foi derrotado pelo petista Camilo Santana, candidato do então governador Cid Gomes (Pros), que acaba de assumir o Ministério da Educação. Eunício pleiteava o Ministério da Integração Nacional, mas foi preterido por Dilma, que nomeou para o cargo um apadrinhado do PP, Gilberto Ochi, ex-ministro das Cidades.
As relações entre Renan e Eunício já foram melhores. Nas negociações da reforma ministerial, a presença do político cearense na Esplanada não foi uma prioridade de Renan, mas sim a nomeação do ministro do Turismo, o ex-gerente da Assessoria Internacional do Sebrae Vinicius Lages. Nada impede que ambos se acertem, até por uma questão de sobrevivência. Mas Eunício pode querer ser presidente do Senado já, revezando com Renan na liderança do PMDB. Ao Palácio do Planalto, não interessa que o novo líder do governo seja ligado aos dois, como é o caso de Jucá. Isso significaria a formação de uma nova troika peemedebista no Senado, com grande poder de fogo, ainda mais se Cunha vencer as eleições na Câmara.
domingo, 18 de janeiro de 2015
O príncipe e o patinho feio
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 18/01/2015
Bastaria uma conexão do propinoduto da Petrobras com a campanha de Dilma Rousseff para a oposição entrar com um pedido de impeachment da presidente da República
Quem não conhece a história O patinho feio, do dinamarquês Hans Christian Andersen, filho de sapateiro que se tornou um dos mais populares autores de contos infantis de todos os tempos? Escrita em 1843, correu o mundo e permanece sempre atual, porque é um libelo contra a discriminação e uma advertência de que os enjeitados podem dar a volta por cima.
É a fábula de uma pata e sua ninhada. Quando os patinhos nasceram, havia um que era gordo e muito feio, razão pela qual a pata não gostava dele. Os dias foram se passando, os patinhos foram crescendo e passaram a reproduzir o desprezo da mãe pelo suposto irmão. Um dia a pata mandou-o embora, disse-lhe que era a vergonha da família. O patinho feio foi viver sozinho nas margens de um lago, até que encontrou alguns cisnes e descobriu que era um deles. E havia crescido!
A fábula vem ao caso por causa da situação do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Ele é o patinho feio no Palácio do Planalto, ou melhor, no anexo onde funciona o seu gabinete. Embora tenha desempenhado um papel decisivo na reeleição da presidente Dilma Rousseff, ao lhe garantir o apoio da maioria de seu partido e, com isso, o tempo de televisão do PMDB, foi completamente excluído do núcleo político do governo. Dele fazem parte o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante; o secretário-geral da Presidência, Miguel Rosseto; o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas; o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini: e o ministro da Defesa, Jaques Wagner — todos petistas.
A lógica mais elementar levaria Temer a integrar o estado-maior governista, pois trata-se do presidente do principal partido aliado do governo. Sua presença nas reuniões seria sempre uma opinião qualificada a mais, e jamais seria um voto decisivo num colegiado formado por petistas identificados com a presidente da República. Só há uma razão para sua exclusão: a desconfiança.
Dilma Rousseff trata Michel Temer não como aliado principal, mas como possível adversário à própria retaguarda, um imaginário “quinta-coluna”, para usar a clássica expressão da Guerra Civil Espanhola. Toda a movimentação política do governo, desde a montagem da nova equipe ministerial, foi feita para enfraquecer o PMDB.
As articulações do governo em vista às eleições das mesas do Congresso, igualmente. Parece que o governo procura tecer uma blindagem contra o PMDB, opondo-se firmemente à candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara, e incensando a do senador Luiz Henrique (PMDB-SC) para dividir a legenda na reeleição de Renan Calheiros (AL).
Operação de alto risco, a estratégia do Palácio do Planalto aposta no desgaste dos dois líderes do PMDB com a opinião pública. Denúncias de suposto envolvimento dos caciques da legenda com o escândalo da Petrobras, que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, facilitam as articulações palacianas. Os nomes de Renan e Cunha já foram vazados como supostos envolvidos no esquema de propina, embora nada exista ainda oficialmente contra eles.
O cisne
O bom senso político aconselharia mais distância das disputas internas do Congresso. A cúpula do PMDB já mandou recado de que não se sente contemplada com a participação da legenda no governo e que, por essa razão, aí mesmo que não abre mão do comando do Congresso. Por que então a presidente Dilma corre o risco de ser derrotada tanto na Câmara quanto no Senado?
É que Michel Temer pode ser o patinho feio que virou cisne, como na fábula de Andersen. Bastaria uma conexão do propinoduto da Petrobras com a campanha de Dilma Rousseff para a oposição entrar com um pedido de impeachment da presidente da República. O vice-presidente, como em outro momento da história recente, seria o maior beneficiado.
E o príncipe? Não, não é o ministro Mercadante, tratado como tal pela presidente Dilma. Trata-se do clássico seminal de Nicolau Machiavelli, O príncipe, escrito em 1503, tão atual quanto a história da pata e dos seus ovos, embora bem mais antigo.
O genial florentino, entre os muitos ensinamentos da obra dedicada a Lourenço de Médice, dizia que as contingências (Fortuna) não têm o monopólio do destino, mas podem transformar certas características positivas dos príncipes (Virtù) em fatores negativos decisivos para a sua própria derrota. Dilma Rousseff procura se adaptar às circunstâncias da economia, mas seu “castilhismo” não permite que faça o mesmo em relação à conjuntura política.
Correio Braziliense - 18/01/2015
Bastaria uma conexão do propinoduto da Petrobras com a campanha de Dilma Rousseff para a oposição entrar com um pedido de impeachment da presidente da República
Quem não conhece a história O patinho feio, do dinamarquês Hans Christian Andersen, filho de sapateiro que se tornou um dos mais populares autores de contos infantis de todos os tempos? Escrita em 1843, correu o mundo e permanece sempre atual, porque é um libelo contra a discriminação e uma advertência de que os enjeitados podem dar a volta por cima.
É a fábula de uma pata e sua ninhada. Quando os patinhos nasceram, havia um que era gordo e muito feio, razão pela qual a pata não gostava dele. Os dias foram se passando, os patinhos foram crescendo e passaram a reproduzir o desprezo da mãe pelo suposto irmão. Um dia a pata mandou-o embora, disse-lhe que era a vergonha da família. O patinho feio foi viver sozinho nas margens de um lago, até que encontrou alguns cisnes e descobriu que era um deles. E havia crescido!
A fábula vem ao caso por causa da situação do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Ele é o patinho feio no Palácio do Planalto, ou melhor, no anexo onde funciona o seu gabinete. Embora tenha desempenhado um papel decisivo na reeleição da presidente Dilma Rousseff, ao lhe garantir o apoio da maioria de seu partido e, com isso, o tempo de televisão do PMDB, foi completamente excluído do núcleo político do governo. Dele fazem parte o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante; o secretário-geral da Presidência, Miguel Rosseto; o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas; o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini: e o ministro da Defesa, Jaques Wagner — todos petistas.
A lógica mais elementar levaria Temer a integrar o estado-maior governista, pois trata-se do presidente do principal partido aliado do governo. Sua presença nas reuniões seria sempre uma opinião qualificada a mais, e jamais seria um voto decisivo num colegiado formado por petistas identificados com a presidente da República. Só há uma razão para sua exclusão: a desconfiança.
Dilma Rousseff trata Michel Temer não como aliado principal, mas como possível adversário à própria retaguarda, um imaginário “quinta-coluna”, para usar a clássica expressão da Guerra Civil Espanhola. Toda a movimentação política do governo, desde a montagem da nova equipe ministerial, foi feita para enfraquecer o PMDB.
As articulações do governo em vista às eleições das mesas do Congresso, igualmente. Parece que o governo procura tecer uma blindagem contra o PMDB, opondo-se firmemente à candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara, e incensando a do senador Luiz Henrique (PMDB-SC) para dividir a legenda na reeleição de Renan Calheiros (AL).
Operação de alto risco, a estratégia do Palácio do Planalto aposta no desgaste dos dois líderes do PMDB com a opinião pública. Denúncias de suposto envolvimento dos caciques da legenda com o escândalo da Petrobras, que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, facilitam as articulações palacianas. Os nomes de Renan e Cunha já foram vazados como supostos envolvidos no esquema de propina, embora nada exista ainda oficialmente contra eles.
O cisne
O bom senso político aconselharia mais distância das disputas internas do Congresso. A cúpula do PMDB já mandou recado de que não se sente contemplada com a participação da legenda no governo e que, por essa razão, aí mesmo que não abre mão do comando do Congresso. Por que então a presidente Dilma corre o risco de ser derrotada tanto na Câmara quanto no Senado?
É que Michel Temer pode ser o patinho feio que virou cisne, como na fábula de Andersen. Bastaria uma conexão do propinoduto da Petrobras com a campanha de Dilma Rousseff para a oposição entrar com um pedido de impeachment da presidente da República. O vice-presidente, como em outro momento da história recente, seria o maior beneficiado.
E o príncipe? Não, não é o ministro Mercadante, tratado como tal pela presidente Dilma. Trata-se do clássico seminal de Nicolau Machiavelli, O príncipe, escrito em 1503, tão atual quanto a história da pata e dos seus ovos, embora bem mais antigo.
O genial florentino, entre os muitos ensinamentos da obra dedicada a Lourenço de Médice, dizia que as contingências (Fortuna) não têm o monopólio do destino, mas podem transformar certas características positivas dos príncipes (Virtù) em fatores negativos decisivos para a sua própria derrota. Dilma Rousseff procura se adaptar às circunstâncias da economia, mas seu “castilhismo” não permite que faça o mesmo em relação à conjuntura política.
Oswaldo Buarim, jornalista, 49 anos
Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense- 18/01/2015
Morreu na madrugada deste sábado, em Brasília, o jornalista Oswaldo Buarim Jr., ex-editor de Política do Correio Braziliense no período entre 2005 e 2009. Ele estava em casa, com a família, quando foi vítima de um infarto fulminante. Havia completado 49 anos no último 5 de janeiro. Era casado com a jornalista Marina Oliveira e deixa dois filhos: David, 9 anos, e Ciro, 23, além da enteada Mila, de 16, a quem considerava filha.
Natural de Araraquara (SP), Buarim atualmente trabalhava como gerente de comunicação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi). Antes, teve uma carreira impressionante tanto em redações quanto em assessorias de imprensa, sempre em Brasília. Chegou à cidade em 1984 para prestar vestibular na Universidade de Brasília (UnB).
No Correio, como editor de Política, comandou uma equipe que ganhou praticamente todos os prêmios relevantes do jornalismo brasileiro. Brilhou também no Jornal do Brasil, Revista Época, Folha de São Paulo, Zero Hora, Petrobras, Ministério de Minas e Energia e Câmara dos Deputados — lá atuou como assessor de imprensa do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), então presidente da Casa. Assessorou também a presidente Dilma Rousseff quando ela era chefe da Casa Civil. Depois, acompanhou-a na campanha eleitoral de 2010 e na Presidência da República.
A morte repentina chocou parentes, amigos e colegas de profissão. “Hoje é um dia muito triste para mim. Perdi nesta madrugada meu ex-marido, o jornalista Oswaldo Buarim Junior, pai do meu filho mais velho, Ciro Buarim. Um homem maravilhoso, bom, amigo, um ser humano que todos que conheceram queriam bem”, escreveu a também jornalista Cynara Menezes.
Outros profissionais que com ele trabalharam registraram o pesar, como a ex-ministra de Comunicação Social Helena Chagas: “Também chocada. Uma perda imensa não só para a família e para os amigos, mas também para o jornalismo sério e honesto. Que Deus dê muita força à Marina, filhos e à legião de amigos que ele deixa”.
Bom humor
Outro amigo que sentiu a perda de Buarim foi o jornalista Eumano Silva. Os dois estudaram na UnB, dividiram apartamento e trabalharam juntos em vários jornais e revistas. “Junão (como Buarim era conhecido entre os amigos mais íntimos) chegou a Brasília em 1984 e foi um dos mais queridos de nossa geração, tanto na UnB quanto nas redações e nas assessorias pelas quais passou”, lembrou Eumano, também ex-editor de Política do Correio Braziliense e amigo de Buarim desde o primeiro momento em que o paulista chegou à capital. “Alegre e festeiro, era um jornalista inteligente, com grande visão política e bom humor”, completou.
O enterro está marcado para hoje, às 11h30, no Cemitério Campo da Esperança, com saída da Capela 1, onde o velório estará aberto a partir das 8h.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Acabou a blindagem
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/01/2015
Teme-se que, na prisão, Cerveró recorra à delação premiada, como o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef
O executivo passou o natal e o ano-novo em Londres, mas foi preso tão logo chegou ao Brasil, na madrugada de ontem. Apontado como responsável pela compra superfaturada da Refinaria Pasadena, no Texas (EUA), Cerveró é um homem-bomba: se resolver falar tudo o que sabe, a rede de corrupção montada a partir das operações da Petrobras no exterior poderá ser desvendada pela Operação Lava-Jato.
Logo após eclodir o escândalo de Pasadena, a partir de um relatório dos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU), Cerveró foi acusado, pela presidente Dilma Rousseff, de ter omitido informações importantes sobre o contrato quando a decisão foi autorizada. Na ocasião, a opinião pública não sabia ainda das conexões do escândalo com a Operação Lava-Jato, mas, mesmo assim, foi montada uma grande ação para abafar o caso e proteger Cerveró.
A compra de Pasadena foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras em 2006. À época, presidido por Dilma, que se defendeu com o argumento de que o resumo executivo produzido por Cerveró para orientar o colegiado era falho. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou da nota divulgada por Dilma sobre o caso, o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli esperneou muito, e a atual presente da empresa, Maria das Graças Foster, depois de confirmar o que Dilma tinha dito, mitigou as próprias declarações ao depor na CPI criada pelos governistas no Senado para uma investigação de mentirinha.
Quando depôs na CPI Mista do Congresso, Cerveró chegou a cantar de galo, devidamente blindado pelos governistas. Mesmo na acareação com Paulo Roberto Costa, que protagonizou uma verdadeira catarse numa de suas últimas sessões, Cerveró manteve-se, olimpicamente, a salvo. O TCU, porém, responsabilizou Cerveró e outros nove diretores e ex-dirigentes da Petrobras, entre eles Gabrielli, pelos prejuízos de US$ 790 milhões na compra da refinaria.
Propina
Cerveró foi traído pelo excesso de confiança. Segundo o despacho do juiz que determinou a prisão, “parece mesmo não enxergar limites éticos e jurídicos para garantir que não sofra as consequências penais de seu agir, o que pode, no limite, transbordar para fuga pessoal caso perceba a prisão como possibilidade real e iminente”.
O ex-diretor tentou transferir para a filha R$ 500 mil — mesmo considerando que, com tal operação haveria uma perda significativa de R$ 200 mil da aplicação financeira. Segundo o MPF, também teria transferido recentemente três apartamentos adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores menores do que eles valeriam: de R$ 7 milhões por R$ 560 mil.
Na condição de diretor Internacional da Petrobras, Cerveró teria “dado causa ao oferecimento de propina no valor de US$ 53 milhões”, cuja entrega fora intermediada por Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, preso na Operação Lava-Jato. Em duas operações envolvendo a Petrobras, teria sido diretamente beneficiado, com Fernando Baiano, pelo recebimento de vantagem indevida no total de US$ 40 milhões, segundo o juiz federal.
A prisão do executivo criou mais expectativas negativas no Palácio do Planalto e no Congresso em relação aos desdobramentos da Lava-Jato. Teme-se que, na prisão, Cerveró recorra à delação premiada, como o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, além de executivos presos. PT e PMDB, os partidos envolvidos, mesmo assim, digladiam-se pelo comando da Câmara e do Senado.
Ontem, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, ao protestar contra a prisão do cliente, acusou a Justiça de adotar dois pesos e duas medidas no caso, com o argumento de que Graça Foster, mantida no cargo por Dilma, teria adotado os mesmos procedimentos em relação aos próprios bens: “A Graça Foster também movimentou seus imóveis”. Não deixa de ser um recado do que pode vir pela frente.
Correio Braziliense - 15/01/2015
Teme-se que, na prisão, Cerveró recorra à delação premiada, como o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef
A prisão preventiva do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, por ordem do juiz federal Marcos Josegrei, que determinou a abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar atos de lavagem de dinheiro e de ocultação patrimonial, rompeu a blindagem que, até agora, protegia o executivo e inviabilizou a eventual fuga dele para a Espanha, onde também é cidadão. Cerveró foi diretor da Área Internacional da Petrobras de 2003 a 2008; e era o diretor financeiro da BR Distribuidora até ser demitido do cargo, em março de 2014.
O executivo passou o natal e o ano-novo em Londres, mas foi preso tão logo chegou ao Brasil, na madrugada de ontem. Apontado como responsável pela compra superfaturada da Refinaria Pasadena, no Texas (EUA), Cerveró é um homem-bomba: se resolver falar tudo o que sabe, a rede de corrupção montada a partir das operações da Petrobras no exterior poderá ser desvendada pela Operação Lava-Jato.
Logo após eclodir o escândalo de Pasadena, a partir de um relatório dos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU), Cerveró foi acusado, pela presidente Dilma Rousseff, de ter omitido informações importantes sobre o contrato quando a decisão foi autorizada. Na ocasião, a opinião pública não sabia ainda das conexões do escândalo com a Operação Lava-Jato, mas, mesmo assim, foi montada uma grande ação para abafar o caso e proteger Cerveró.
A compra de Pasadena foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras em 2006. À época, presidido por Dilma, que se defendeu com o argumento de que o resumo executivo produzido por Cerveró para orientar o colegiado era falho. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou da nota divulgada por Dilma sobre o caso, o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli esperneou muito, e a atual presente da empresa, Maria das Graças Foster, depois de confirmar o que Dilma tinha dito, mitigou as próprias declarações ao depor na CPI criada pelos governistas no Senado para uma investigação de mentirinha.
Quando depôs na CPI Mista do Congresso, Cerveró chegou a cantar de galo, devidamente blindado pelos governistas. Mesmo na acareação com Paulo Roberto Costa, que protagonizou uma verdadeira catarse numa de suas últimas sessões, Cerveró manteve-se, olimpicamente, a salvo. O TCU, porém, responsabilizou Cerveró e outros nove diretores e ex-dirigentes da Petrobras, entre eles Gabrielli, pelos prejuízos de US$ 790 milhões na compra da refinaria.
Propina
Cerveró foi traído pelo excesso de confiança. Segundo o despacho do juiz que determinou a prisão, “parece mesmo não enxergar limites éticos e jurídicos para garantir que não sofra as consequências penais de seu agir, o que pode, no limite, transbordar para fuga pessoal caso perceba a prisão como possibilidade real e iminente”.
O ex-diretor tentou transferir para a filha R$ 500 mil — mesmo considerando que, com tal operação haveria uma perda significativa de R$ 200 mil da aplicação financeira. Segundo o MPF, também teria transferido recentemente três apartamentos adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores menores do que eles valeriam: de R$ 7 milhões por R$ 560 mil.
Na condição de diretor Internacional da Petrobras, Cerveró teria “dado causa ao oferecimento de propina no valor de US$ 53 milhões”, cuja entrega fora intermediada por Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, preso na Operação Lava-Jato. Em duas operações envolvendo a Petrobras, teria sido diretamente beneficiado, com Fernando Baiano, pelo recebimento de vantagem indevida no total de US$ 40 milhões, segundo o juiz federal.
A prisão do executivo criou mais expectativas negativas no Palácio do Planalto e no Congresso em relação aos desdobramentos da Lava-Jato. Teme-se que, na prisão, Cerveró recorra à delação premiada, como o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, além de executivos presos. PT e PMDB, os partidos envolvidos, mesmo assim, digladiam-se pelo comando da Câmara e do Senado.
Ontem, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, ao protestar contra a prisão do cliente, acusou a Justiça de adotar dois pesos e duas medidas no caso, com o argumento de que Graça Foster, mantida no cargo por Dilma, teria adotado os mesmos procedimentos em relação aos próprios bens: “A Graça Foster também movimentou seus imóveis”. Não deixa de ser um recado do que pode vir pela frente.
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