Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 01/10/2015
Dilma
mirou o processo de impeachment já em curso na Câmara, que pretende
barrar no nascedouro, mas a situação objetiva do governo é a pior
possível
A reforma ministerial
anunciada pela presidente Dilma Rousseff é apenas um arranjo político
com o objetivo de gerenciar a crise política e ética que ameaça o seu
mandato. Dilma entregou a cabeça do ministro da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, às bancadas do PT e do PMDB, e pôs no seu lugar o
ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, que deixa o Ministério da Defesa.
Desde a eleição, era o nome favorito do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva para o cargo. Aldo Rebelo (PCdoB), deixa o Ministério da
Ciência e Tecnologia e vai para o Defesa.
Mercadante caiu por
causa das suas idiossincrasias, mas a oposição se armou contra ele,
inclusive de parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque se
comportou como provável candidato de Dilma Rousseff em 2018. O petista
nunca foi muito popular entre seus colegas de parlamento, a ponto de o
deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), seu desafeto desde os tempos do
Senado, até hoje brincar com os colegas que não o cumprimentam
comparando-os ao petista: “Bom dia, Mercadante!”
Suceder Dilma
não passou de um sonho de verão, literalmente. Quando o governo desceu a
ladeira, Mercadante foi junto. Wagner foi um governador bem-sucedido na
Bahia, fez o sucessor e deu à presidente Dilma a maior diferença de
votos no primeiro turno. Afável, conciliador, amigo de Lula,
supostamente seria o homem certo no lugar certo para evitar que Dilma
Rousseff seja apeada do poder. Mas, para isso, a presidente da República
precisaria virar uma espécie de rainha da Inglaterra. O que não é seu
perfil.
Dilma entregou a Secretaria-Geral da Presidência para
Ricardo Berzoini, que deixa o Ministério das Comunicações para
centralizar as articulações políticas e as relações com os movimentos
sociais, coadjuvado por Giles Azevedo, o único homem de sua estrita
confiança que restou no Palácio do Planalto. A pasta passará a se chamar
Secretaria de Governo. O ministro chefe da Secretaria de Comunicação
Social, Edinho Silva, mantido no cargo para não perder o foro
privilegiado — como Mercadante, também é investigado pela Operação
Lava-Jato — é um ministro ligado ao ex-presidente Lula. Montou-se no
Palácio do Planalto um gabinete de gestão de crise.
Renato Janine
Ribeiro, da Educação, e Arthur Chioro, na Saúde, dois técnicos do PT,
provaram do gosto amargo das decepções políticas. Foram defenestrados
para acomodar, respectivamente, Mercadante e um deputado do PMDB, que
indicou três nomes para a pasta: Marcelo Castro (PI), Manoel Junior (PB)
e Saraiva Felipe (MG). A troca simboliza o verdadeiro caráter da
reforma: não tem nenhum compromisso com a qualidade da gestão, o
importante são os votos para barrar o impeachment. Saúde e Educação
estão prisioneiras dos grupos econômicos envolvidos nas duas áreas e dos
interesses de suas respectivas corporações profissionais.
Desaprovação geral
Dilma
mirou o processo de impeachment já em curso na Câmara, que pretende
barrar no nascedouro, mas a situação objetiva do governo é a pior
possível. A pesquisa do Ibope/CNI divulgada ontem mostra uma situação
dramática em relação à sociedade. A maneira de governar da presidente é
aprovada por 14% e rejeitada por 82%. A confiança em Dilma também é
baixa, 20%; o índice dos que não confiam na presidente é de 77%. Além
disso, 82% dos entrevistados avaliam que o segundo mandato da presidente
é pior que o primeiro. Somente 3% pensam o contrário.
Em relação
ao futuro, 63% têm uma perspectiva negativa. Somente 11% acreditam que a
gestão irá melhorar. Entre os entrevistados, 90% desaprovam a atuação
do governo na área de impostos e 89% estão insatisfeitos com as ações
relativas à taxa de juros. As medidas nas áreas de segurança pública
(82%), saúde (84%), educação (73%), combate à inflação (83%) e combate
ao desemprego (83%) também são reprovadas pela ampla maioria. Embora as
ações do governo nas áreas de combate à fome e à pobreza registrem o
maior índice positivo (29%), ele é bastante inferior a 2012, quando
registrava 64% de aprovação. Seu índice negativo é hoje de 68%.
Ontem,
Dilma Rousseff tentou atrair o PSB de volta ao governo, oferecendo-lhe a
pasta da Ciência e Tecnologia. Levou um não dos governadores Paulo
Câmara (Pernambuco), Rodrigo Rollemberg (Distrito Federal) e Ricardo
Coutinho (Paraíba). A colaboração será restrita à manutenção dos vetos
presidenciais e contra as chamadas “pautas-bomba”, que ameaçam
inviabilizar o pacote fiscal do governo federal. As bancadas da Câmara e
do Senado querem distância do Palácio do Planalto.
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