Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/05/2014
Vital do Rêgo (PMDB-PB) lidera o
grupo de raposas governistas escalado para domar a CPI da Petrobras, que
será a mais chapa-branca das comissões de inquérito já instaladas no
Senado. Tanto que o relator, senador José Pimentel, é o líder do governo
no Congresso
O doleiro Yousseff e da Costa, ex-diretor da Petrobras |
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras do Senado começou
a funcionar ontem. Aprovou requerimentos de convocação da presidente da
Petrobras, Graça Foster, e do ex-diretor da área internacional da
empresa Nestor Cerveró. Ambos foram chamados para prestar
esclarecimentos sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
A CPI aprovou também um plano de trabalho elaborado pelo relator,
senador José Pimentel (PT-CE), e outros 74 requerimentos apresentados
por parlamentares aliados ao governo. O único titular da oposição é
senador Cyro Miranda (PSDB-GO), apenas para marcar posição.
O depoimento de Graça Foster à CPI foi marcado para a próxima
terça-feira e o de Gabrielli, para quinta-feira. Ambos foram chamados
para pôr um ponto final na polêmica sobre a compra de Pasadena, nos EUA:
a primeira dirá que a operação passou a ser um mau negócio depois da
crise mundial; o segundo, que foi um bom negócio quando realizado.
Ficará o dito pelo não dito. As demais convocações não têm data
definida, segundo o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), que
lidera o grupo de raposas governistas escalado pelo presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) para domar o colegiado. Essa será a
mais chapa-branca das comissões de inquérito já instaladas no Senado.
Tanto que o relator, senador José Pimentel, é o líder do governo no
Congresso.
Também são titulares da CPI os senadores governistas João Alberto Souza
(PMDB-MA), Valdir Raupp (PMDB-RO), Ciro Nogueira (PP-PI), Humberto Costa
(PT-PE), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Acir Gurgacz (PDT-RO), Aníbal
Diniz (PT-AC), Jorge Viana (PT- AC), Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP) e
Gim Argello (PTB-DF). A maioria tem interesses na Petrobras e suas
subsidiárias. As prioridades dos trabalhos da comissão não estão muito
claras. Uma delas é o Porto de Suape, que tem uma ligação com a
refinaria de Abreu e Lima, esta sim, prevista no requerimento de criação
da CPI. O porto é uma empresa pública do estado de Pernambuco e,
segundo Pimentel, haveria denúncias de sobrepreço nas obras de
interligação entre a refinaria e o Píer de Suape. Abreu e Lima está
situada dentro da área portuária. O requerimento mira o ex-governador de
Pernambuco Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência da República.
O elo perdido
A CPI é tão chapa-branca que não dá sequer para imaginar um Fla-Flu
parecido com o que ocorreu na CPI Mista do Banestado, entre o relator, o
deputado petista José Mentor (SP), e seu presidente, e o então senador
tucano Antero Paes de Barros. Aquela foi uma das mais conturbadas
investigações parlamentares já realizadas pelo Congresso. O Palácio do
Planalto também tentou impedir a instalação, mas fracassou por causa da
repercussão negativa do caso. Um dos momentos de maior tensão na CPI
ocorreu em torno da convocação do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf. O
PT posicionou-se contra, Maluf não foi convocado.
Após um ano e meio de investigações, Mentor sugeriu o indiciamento de 91
pessoas, entre elas o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco; o
ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta; e o ex-dono das Casas Bahia (maior
rede varejista do Brasil) Samuel Klein. Foram acusados de participar de
um esquema de evasão de divisas, por meio de contas CC5, que teria
chegado a R$ 150 bilhões. Franco foi denunciado apenas porque criou os
mecanismos legais usados pelo Banestado para envio de dinheiro ao
exterior. Havia a presunção de que mais de 130 políticos estavam
envolvidos no esquema, além de empresários e pessoas ligadas ao tráfico
de drogas, de armas e de mulheres, mas nenhum nome surgiu no relatório.
A CPI foi acusada de abusar das quebras de sigilos bancários e fiscais.
Foram mais de 1,7 mil pedidos. Um dos atingidos foi o então presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, acusado de não declarar à Receita
Federal movimentações financeiras feitas no exterior. Para protegê-lo, o
então presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou uma Medida Provisória
ao Congresso para dar status de ministro e foro privilegiado ao
presidente do Banco Central. O que tem a ver a fracassada CPI do
Banestado com a CPI da Petrobras? Aparentemente nada, exceto o fato de
que o doleiro envolvido no caso Banestado era o mesmo Alberto Youssef,
preso na Operação Lava-Jato com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto
da Costa, também detido e considerado o homem-bomba do suposto
propinoduto da Petrobras que assombra o Congresso.
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