Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 13/05/2014
A deriva do PMDB ocorre numa
situação em que a presidente Dilma não tem como cobrar fidelidade maior
da legenda, porque, no apoio à reeleição, do ponto de vista formal, o
mais importante é o tempo de televisão
O PMDB continua firme com a presidente Dilma Rousseff, ma non troppo. A
expressão musical nas partituras significa que o andamento da
composição deve ser allegro (rápido), mas de forma moderada. Ou seja, os caciques da
legenda começam a apoiar Dilma com certa cautela e mandam sinais de
fumaça para o senador Aécio Neves (MG) e para o ex-governador Eduardo
Campos (PE), pré-candidatos do PSDB e do PSB, respectivamente. Não vão
para o tudo ou nada, mais ou menos como já disse, certa vez, o senador
Eunício Oliveira (PMDB-CE) sobre um colega em apuros: "Vou até a beira
do túmulo, mas não pulo dentro da cova".
O cientista político Murillo Aragão, da Arko Advice, cita o caso do
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pré-candidato a
governador do Rio Grande do Norte, que abriu ainda mais o leque de
alianças com adversários da presidente Dilma Rousseff: depois do PSDB,
de Aécio Neves, e do PSB, de Eduardo Campos, Henrique Alves terá na
coligação o PSC, que tem o Pastor Everaldo como candidato à Presidência
da República. O acordo foi fechado durante encontro evangélico da
Convenção Estadual das Assembleias de Deus, em Natal. "Esse modelo de
alianças do PMDB reflete a insegurança do partido com a candidatura de
Dilma diante das recentes pesquisas, que apontam para uma disputa no
segundo turno", avalia Aragão.
Desembarques
"Teremos o apoio do PSB de Eduardo Campos, do PSDB do Aécio e do PSC do
Everaldo. Todos serão importantes na nossa caminhada e terão também o
nosso respeito às candidaturas dos respectivos partidos, mas sabendo do
nosso compromisso nacional com a presidente Dilma e com o nosso vice
Michel Temer. Tudo às claras, ética e politicamente responsável",
justifica Alves. A situação não para aí. O próprio vice-presidente
Michel Temer comanda uma operação para desembarcar da candidatura mais
querida do Palácio do Planalto, a da senadora Gleisi Hoffman (PT) ao
governo do estado do Paraná.
A ex-ministra da Casa Civil, que hoje atua como porta-voz informal da
presidente Dilma Rousseff no Senado, ofuscando o líder do governo,
Eduardo Braga (PMDB-AM), contava com o apoio do PMDB para formar uma
poderosa aliança contra a reeleição do governador tucano Beto Richa.
Temer puxou o freio de mão e orientou o senador peemedebista Roberto
Requião, ex-governador do estado, a considerar seriamente a candidatura
ao governo do Paraná. A propósito de Temer, a pré-candidatura do
presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo
Skaf, pelo PMDB, vai de vento em popa. Na semana passada, com o apoio de
Michel Temer, Skaf fechou o apoio do Pros, o que lhe garante mais tempo
de televisão e complica ainda mais a vida do pré-candidato petista ao
Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.
A deriva
As dificuldades com o PMDB já não eram pequenas, por causa de outros
conflitos regionais de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso
e outros estados, mas se agravam por causa do Rio de Janeiro e do
Ceará. Os dois últimos são muito cabeludos, por causa das disputas
locais com o PT. Líder nas pesquisas de opinião, Eunício Oliveira não
abre mão do apoio do PT a sua candidatura ao governo do Ceará e ameaça
rever as alianças no estado, se aproximando do ex-senador tucano Tasso
Jereissati. No Rio de Janeiro, apesar da boa relação do governador Luiz
Fernando Pezão (PMDB) com a presidente Dilma Rousseff, o presidente do
diretório regional, Jorge Picciani, já embarcou de mala e cuia na
campanha de Aécio Neves.
A deriva do PMDB ocorre numa situação em que a presidente Dilma Rousseff
não tem como cobrar fidelidade maior da legenda, porque o apoio à
reeleição, do ponto de vista formal, é o mais importante, pois lhe
garante tempo de televisão. Mas, ao acenar para os candidatos de
oposição nos estados em que tem candidato próprio, o PMDB abre espaço
para uma futura cristianização de Dilma; diga-se de passagem, com a
ajuda do PT, que acirra os conflitos locais e joga os caciques
peemedebistas nos braços de Aécio Neves e Eduardo Campos.
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