Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 11/05/2014
Mudança, pois, é palavra-chave para a oposição, que avança no vácuo deixado por Dilma. Aécio é apontado como o mais preparado para fazer isso por 19% dos eleitores; Campos, por 10%. A presidente Dilma, apenas 15%.
A avaliação de Dilma, que está com 37%, frustrou o Palácio do Planalto. Esperava-se uma recuperação, devido ao pronunciamento que fizera em cadeia de rádio e televisão no Primeiro de Maio, que foi transformado numa espécie de trampolim eleitoral. Na ocasião, Dilma anunciou a correção do Imposto de Renda da Pessoa Física em 4,5% e um aumento da bolsa família em 10%. Essas medidas, na verdade, serviram para evitar o desastre de mais uma queda abrupta na pesquisa, que faria recrudescer o "Volta, Lula!". A agenda do governo, porém, continua negativa: novos escândalos na Petrobras, quebra-quebras nas manifestações populares, greves selvagens em setores essenciais. Como as projeções são de que a inflação chegará a 7,5% em 2015, possivelmente o programa de tevê do PT marcado para o próximo dia 15 também não reverterá esse cenário eleitoral.
A grande novidade no quadro eleitoral foi mesmo o crescimento de 4 pontos percentuais do presidente do PSDB, Aécio Neves, que saltou de 16% para 20% nas pesquisas. O tucano avançou posições na disputa não só porque manteve uma postura mais ofensiva no Congresso, onde atua intensamente a favor da instalação de uma CPI exclusiva para investigar os escândalos da Petrobras, mas também porque conseguiu unificar o PSDB em torno do seu nome. Essa postura facilita a penetração da candidatura no maior colégio eleitoral do país, São Paulo, onde a polarização já existe e é radicalizada. Como se sabe, o crescimento do tucano no chamado Triângulo das Bermudas, que além de São Paulo, inclui Minas e Rio de Janeiro, é o objetivo estratégico da campanha de Aécio para garantir sua presença no segundo turno.
A pesquisa desmentiu declaração de Marina Silva de que a candidatura de Aécio Neves tem cheiro de derrota. Pelo contrário, quem teve crescimento menor foi o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), o terceiro colocado, que registrou 11% de intenções de votos, um ponto percentual a mais, dentro da margem de erro. O resultado, porém, mostra tendência contínua de crescimento: tinha 9% em fevereiro e 10% em abril. Conhecido por apenas 25% dos eleitores, contra 86% de Dilma e 42% de Aécio, o pessebista enfrenta dificuldades de penetração nos grandes colégios eleitorais, onde chega com atraso, além de ser contingenciado por conflitos de sua coalizão, que inclui a Rede, de Marina Silva; o PPS, de Roberto Freire; e o PPL, o antigo MR-8. O maior problema de Campos é que não conseguiu alavancar o Nordeste em torno de seu nome, por causa da defecção que sofreu no Ceará, com a saída do governador Cid Gomes e o irmão dele, Ciro, do PSB para o Pros. Ambos apoiam a reeleição da presidente Dilma.
Discurso da mudança
Dilma ainda não se livrou do "Volta, Lula!", apesar das afirmações em contrário dele mesmo. Essa possibilidade deixou de ser uma conspiração interna do PT para refletir um desejo de 58% dos eleitores em geral e de 75% dos simpatizantes da legenda. com 35% de bom e ótimo, apenas, a aprovação de seu governo Continua sendo um drogue difícil de arrastar; ou seja, se essa avaliação piorar, estará aberto o caminho para a vitória da oposição, pois está muito próxima do piso necessário para garantir sua reeleição. Segundo os marqueteiros, com essa taxa de aprovação, hoje, essa possibilidade já estaria abaixo de 50%. Os números da pesquisa parecem corroborar essa tese. Com 74% dos eleitores desejosos de mudanças na forma como o país é governado, apenas 15% dos quais veem a presidente Dilma como capaz de representar esse anseio. Essa seria a causa de uma eventual recidiva do "Volta, Lula!", pois o ex-presidente conta com 38% de eleitores que o veem como capaz de promover a mudança.
Mudança, pois, é palavra-chave para a oposição, que avança no vácuo deixado por Dilma. Aécio é apontado como o mais preparado para fazer isso por 19% dos eleitores; Campos, por 10%. O discurso da continuidade em relação ao governo Lula — que levou Dilma ao poder em 2010 — , desta vez, pode estar em contradição com o sentimento do eleitor, que deseja a mudança de rumo. Não é à toa que a estratégia adotada por Dilma para neutralizar a oposição é caracterizar a polarização com o PSDB como um retrocesso, mas falta combinar com os beques, como diria o saudoso Mané Garrincha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário