Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 14/02/2014
A forma como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
faz campanha para a reeleição da presidente Dilma Rousseff pode ser
comparada a um abraço de sucuri. Quanto mais se envolve na campanha de
reeleição, mais se fortalece o "Volta, Lula!"
Na mitologia dos índios Kaxinawá, um homem
chamado Yube se apaixonou por uma cobra, virou uma sucuri e passou a
viver com ela no fundo do rio. Nesse mundo das águas, descobriu uma
bebida alucinógena com poderes curativos e espirituais, capaz também de
ampliar seus conhecimentos. Um dia, sem avisar à esposa, Yube decide
voltar à terra dos homens e retomar à antiga forma humana. O mito
explica também a origem do cipó ou ayahuasca — bebida alucinógena tomada
em rituais pelos Kaxinawá. No mundo real, a sucuri é a maior serpente
do mundo e pode viver até 30 anos. Na Amazônia, caboclos e índios contam
histórias exageradas sobre ataques dessas cobras, que engolem animais
de grande porte e podem comer uma pessoa depois de esmagá-la. A maior
sucuri de que se tem registro por fonte confiável media 11 metros e 65
centímetros e foi encontrada pelo marechal Cândido Rondon, no início do
século 20.
A forma como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
faz campanha para a reeleição da presidente Dilma Rousseff pode ser
comparada a um abraço de sucuri. Quanto mais se envolve na campanha de
reeleição, mais se fortalece o "Volta, Lula" nos meios empresariais e
políticos. É comum, entre os petistas, a comparação entre a situação que
Dilma herdou ao ser eleita (o Brasil cresceu 7,5% em 2010) e a
conjuntura atual, muito diferente, marcada por incertezas e pessimismo.
Nessas conversas, a avaliação que se faz é que o governo Dilma é
descontinuidade, quase de ruptura com o governo Lula, no pior sentido
possível. Com exceção dos programas Bolsa Família, Minha Casa, Minha
Vida e Mais Médicos, bandeiras de campanha do PT, tudo é criticado. A
relação com as bancadas petistas na Câmara e no Senado continua
deteriorada, apesar da mudança ocorrida na Casa Civil, a cargo do
ministro Aloizio Mercadante. Com os aliados, principalmente do PMDB, nem
se fala. É grande a saudade.
Estados e municípios
O problema
maior de Dilma Rousseff, porém, é com o empresariado. A equipe econômica
do governo vive uma crise de credibilidade. O cenário traçado pelos
analistas é de que o governo corre riscos não somente no Congresso, que
ameaça aprovar medidas populistas, como também no Judiciário. A votação
do projeto de lei complementar (PLC nº 99/2013) que facilita o pagamento
das dívidas de estados e municípios com a União é vista como ameaça.
O
projeto torna o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) o
novo indexador das dívidas, e reduz os juros (que variam de 6% a 9%)
para 4%, tendo como teto a taxa Selic. O indexador usado hoje é o Índice
Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI). A eventual redução
pelo Senado do pagamento das dívidas dos estados e dos municípios com a
União (R$ 400 bilhões e R$ 68 bilhões, respectivamente) afetaria o
volume de dinheiro disponível no Tesouro para o país honrar compromissos
ou investir.
Poupança e FGTS
O julgamento pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) da correção do índice da caderneta de poupança
nos planos econômicos Cruzado (1986), Bresser (1998), Verão (1989),
Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991) é outro abacaxi para o Palácio do
Planalto. Quem tinha conta em poupança aberta entre 1987 e 1991
questiona as mudanças na correção das cadernetas feita pelos bancos.
Caso sejam considerados incorretos, o Banco Central estima que as perdas
dos poupadores, somadas, cheguem a R$ 150 bilhões.
Também está
sendo questionado na Justiça Federal o índice que corrige as contas do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Pela legislação, o saldo
do fundo é corrigido pela Taxa Referencial (TR) — índice usado para
atualizar o rendimento das poupanças — mais juros de 3% ao ano. Criada
em 1991, a taxa é definida pelo Banco Central. Começou a ser reduzida
paulatinamente e, desde julho de 1999, passou a ficar abaixo da
inflação, encolhendo também a remuneração do FGTS. Em 2013, por exemplo,
a taxa acumulada foi de 0,19%, enquanto a inflação do país, calculada
pelo IPCA, fechou o ano em 5,91%. A Caixa Econômica Federal, operadora
do FGTS, registra 29.350 ações em andamento na Justiça. Calcula-se que
as perdas no FGTS, decorrentes de reajustes abaixo da inflação, já somem
R$ 200 bilhões.
Recidivas
Há ainda o ambiente externo, onde se
forma uma torcida para que Dilma desista do segundo mandato e apoie o
ex-presidente. É aí que entra a analogia com o mito dos índios Kaxinawá.
A sucuri pode engolir Dilma e virar o velho Lula. Quando se fala no
assunto, os que negam a candidatura do petistas já não o fazem a partir
de uma avaliação positiva de Dilma. Usam o argumento de que o
ex-presidente não pode ser candidato porque não recebeu alta definitiva
dos médicos. É um argumento duvidoso. Dilma também teve um câncer e
virou presidente da República, antes que transcorressem os cinco anos
sem recidiva.
Um comentário:
Tanto Lula quanto a dilma, sao pessimos para o Brasil, neste momento e, na minha opiniao se Lula vier a ser candidato, teremos uma eleicao decidida no primeiro turno, com aecio presidente.
Postar um comentário