Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 24/02/2014
É dura a vida de Dilma como candidata à reeleição. Mesmo tendo a
vantagem estratégica — em relação aos adversários Aécio Neves (PSDB) e
Eduardo Campos (PSB) — de fazer pré-campanha no exercício do cargo de
presidente
A relação entre os dois anda cada vez mais tensa. Lula concorda com a
tese de que as intervenções excessivas do governo nas relações com o
mercado deterioraram o ambiente econômico e afugentaram os investidores.
No ano passado, havia sugerido que Dilma mudasse a equipe econômica,
substituindo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo ex-presidente do
Banco Central Henrique Meirelles. A presidente da República ficou de
pensar no assunto e depois disse não, preferiu manter o atual ministro
da Fazenda no cargo.
A atual política econômica foi concebida por Dilma, Mantega e pelo
ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante; com Meirelles na Fazenda,
novamente seria “blindada” pelo mercado, com o ex-presidente Lula de
avalista. Desde o “não” de Dilma, porém, o ambiente econômico piorou e a
conspiração entre grandes empresários a favor do “Volta, Lula!” não
parou de crescer. A adesão dos petistas à tese já é majoritária, com
exceção dos que estão no governo. O ex-presidente da República, porém,
na semana passada, resolver puxar o freio de mão e evitar novas reuniões
com empresários. Dilma é refém de Lula. O ex-presidente se comprometeu a
apoiá-la, mas, se houver risco de perder a eleição, tudo muda.
A propósito, as pesquisas de opinião do fim de semana deram certo
fôlego a Dilma Rousseff: mantiveram seu favoritismo nas eleições deste
ano. Entretanto, não garantem uma vitória no primeiro turno. As
avaliações do governo e de seu desempenho estão estagnadas. Nada garante
que a situação do país vá melhorar daqui até as eleições. Analistas
avaliam que a projeção de 2% de crescimento do PIB para 2014 é
considerada otimista e sujeita a chuvas e trovoadas, principalmente por
causa da alta dos juros, da redução dos financiamentos do BNDES, dos
cortes no Orçamento da União e da crise na Argentina. Além disso, o
desgaste do governo por causa da Copa do Mundo é maior do que se
imaginava. Virou mais uma incógnita do ponto de vista eleitoral.
É dura a vida de Dilma como candidata à reeleição. Mesmo tendo a
vantagem estratégica — em relação aos adversários Aécio Neves (PSDB) e
Eduardo Campos (PSB) — de fazer pré-campanha no exercício do cargo de
presidente, com a agenda de viagens aos estados turbinada e a própria
imagem anabolizada por maciça propaganda oficial.
Uma reforma encruada
A reforma ministerial continua encruada. Até agora só avançou para os
lados do PT, ou melhor, para os lados do ministro-chefe da Casa Civil,
Aloizio Mercadante, que foi guindado ao cargo e ainda controla os dois
ministérios que ocupou anteriormente, Ciência e Tecnologia e Educação
(para os quais indicou técnicos de sua confiança, os ministros Marco
Antônio Raupp e José Henrique Paim, respectivamente). A reforma
ministerial empacou devido à resistência do PMDB, que deseja mais
participação no governo e cobra apoio eleitoral do PT nos estados,
principalmente no Rio de Janeiro e no Ceará, o que não deve acontecer.
O vice-presidente Michel Temer deve ter uma conversa com Mercadante e a
ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no Palácio do
Jaburu, ainda hoje. Aliado leal da presidente Dilma, está se
enfraquecendo com os demais caciques do PMDB por causa da reforma. A
conversa é preparatória do seu encontro com Dilma amanhã, para fechar o
acordo de participação no governo. Os ministros Edison Lobão (MA), de
Minas e Energia, e Garibaldi Alves (RN), da Previdência, ambos
senadores, e Moreira Franco, da Secretaria de Aviação Civil, pretendem
ficar onde estão. Os problemas são Agricultura e Turismo, cujos
titulares, os deputados Antônio Andrade (MG) e Gastão Vieira (MA), estão
voltando para a Câmara. O Ministério da Integração Nacional foi
pleiteado pela legenda para fortalecer suas posições no Nordeste.
A aposta de Dilma com o PMDB é alta. Acredita que convencerá o líder da
legenda no Senado, Eunício de Oliveira (CE), a aceitar o cargo de
ministro da Integração Nacional em troca da retirada de sua candidatura
ao governo do Ceará. Essa seria única forma de entregar a pasta ao PMDB e
não ao governador Cid Gomes (Pros) e seu irmão Ciro (Pros), como foi
prometido. Até agora, Eunício não deu sinais de que vai jogar a toalha.
Caso volte atrás, será mais fácil resolver o problema da bancada do PMDB
na Câmara, que articula um “blocão” independente com outros aliados
descontentes para pressionar o Palácio do Planalto.
As pastas da Agricultura e do Turismo seriam suficientes para
neutralizar a rebeldia do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ),
junto da maioria da bancada. A relação Palácio do Planalto com a bancada
peemedebista do Rio de Janeiro, porém, já é leite derramado, por causa
da consolidação da candidatura do senador Lindbergh Faria (PT-RJ) ao
Palácio Guanabara, contra Luiz Fernando Pezão (PMDB), o candidato do
governador Sérgio Cabral (PMDB).
“É dura a vida de Dilma como candidata à reeleição. Mesmo tendo a
vantagem estratégica — em relação aos adversários Aécio Neves (PSDB) e
Eduardo Campos (PSB) — de fazer pré-campanha no exercício do cargo”
Tentativa de reverter derrota milionária
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