As negociações com o PMDB no Senado e na Câmara para
aprovação das matérias de interesse do Palácio do Planalto ficarão mais
difíceis; é o velho toma lá dá cá.No
mais, a reforma ministerial segue o curso chinfrim
Um velho ditado na política diz que um bom
acordo é aquele no qual todos reclamam, mas ninguém pode romper. Esse é o
ponto de liga da negociação entre a presidente Dilma Rousseff e a
cúpula do PMDB fechada na noite de segunda-feira com o vice-presidente
Michel Temer, mas que ainda provoca muito ranger de dentes na legenda.
Os líderes do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), e do Senado,
Eunício Oliveira (CE), não tiveram os pedidos contemplados e o problema
com os dois foi terceirizado: caberia aos presidentes da Câmara,
Henrique Eduardo Alves (RN), e do Senado, Renan Calheiros (AL), acalmar
os dois caciques.
Pelo
acordo, o senador Vital do Rêgo (PB) assumiria a Secretaria de Portos
em vez do Ministério do Turismo, pasta liberada pela volta do deputado
Gastão Vieira (MA) para a Câmara. O Ministério da Ciência e Tecnologia,
hoje controlado pelo novo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante,
serviria para remover a candidatura do senador Eunício Oliveira ao
governo do Ceará, mas ele já avisou que não está interessado na
proposta. O deputado Eliseu Padilha (RS), que havia sido indicado para a
Secretaria de Portos, foi para o espaço, com o Ministério da Integração
Nacional, que era pleiteado por Vital do Rêgo, mas já está na cota dos
irmãos Cid e Ciro Gomes (Pros).
Eduardo
Cunha está estrilando, mas Eunício é bom cabrito. O PMDB não romperá
com o governo por causa disso. O contencioso com Dilma Rousseff e o PT
será cozinhado em fogo brando, nas disputas regionais, nas quais o
partido costuma dar o troco quando pode. Eunício é candidato ao governo
do Ceará e não abre; se não receber o apoio do PT, vai para a disputa
como franco-atirador. Cunha apoia a candidatura do vice-governador Luiz
Fernando Pezão (PMDB) à sucessão de Sérgio Cabral (PMDB) no Palácio
Guanabara. As negociações com o PMDB no Senado e na Câmara para
aprovação das matérias de interesse do Palácio do Planalto ficarão mais
difíceis; é o velho toma lá dá cá.
No
mais, a reforma ministerial segue o curso chinfrim. Depois de acomodar o
PT e o PMDB, e garantir o Ministério da Integração para os irmãos
Gomes, a novidade será a entrega do Ministério do Turismo para o
presidente do PTB, o ex-deputado Benito Gama. Se houver alguma emoção,
será por conta das frituras dos ministros das Comunicações, Paulo
Bernardo, e da Fazenda, Guido Mantega, pela própria bancada do PT.
Pomo da discórdia
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), divulgou ontem as
diretrizes de seu programa de governo, elaboradas em comum acordo com
Marina Silva, líder da Rede. O ato incorporou o PPS, de Roberto Freire, à
coalizão. Ainda não foi dessa vez que a chapa Eduardo Campos–Marina
Silva foi anunciada, mas a afinidade política entre os dois passou a ser
maior depois do documento. O pomo da discórdia no bloco PSB-Rede-PPS,
porém, continua sendo a questão eleitoral de São Paulo. A Rede defende
uma candidatura própria, os dirigentes do PSB estão divididos e o PPS
apoia a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Jus esperneandis petista
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, expediu
ontem o mandado de prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados João
Paulo Cunha. De todos os condenados, foi o mais desaforado com o
presidente do STF. Pegou 9 anos e 4 meses por peculato, lavagem de
dinheiro e corrupção passiva em regime fechado, porém deverá cumprir
inicialmente a pena de 6 anos e 4 meses no semiaberto, que dá direito a
trabalho externo durante o dia. Tem um recurso pendente em relação à
pena de lavagem, cuja punição é de três anos. Ao contrário de outros
parlamentares condenados na Ação Penal 470, João Paulo não pretende
renunciar ao mandato. A cassação terá que ser submetida ao voto aberto
do plenário da Câmara. O PT ataca duramente Barbosa e cria
constrangimentos para a Câmara e o próprio STF.
Outro "apagão"
Faltou energia nas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste — Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo,
Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso Sul — e
Tocantins, no Norte do país, ontem. O secretário executivo do
Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, atribuiu o problema a
um curto-circuito numa linha de transmissão, e não à queda do nível dos
reservatórios das hidrelétricas por falta de chuva. Se tem um assunto no
qual a presidente Dilma Rousseff não poderia pisar na bola é energia.
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