quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aposta no futuro

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
luizazedo.df@dabr.com.br

Artífice da renovação do DEM — partido cujo passado ligado ao regime militar fica cada vez mais distante —, o ex-senador Jorge Bornhausen (SC), presidente de honra da legenda, foi o grande fiador da indicação do jovem deputado federal Índio da Costa (RJ) para vice do presidenciável José Serra (PSDB). Por algumas horas, na madrugada de ontem, o nome preferido do DEM era o de um político mineiro ligado ao ex-governador Aécio Neves (PSDB) e ao agronegócio do café, o deputado federal Carlos Melles. Mas prevaleceu a estratégia de renovação. Os velhos caciques da sigla convergiram para o parlamentar carioca.

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O DEM se comporta como quem se prepara para sobreviver 20 anos na oposição. Com razão, nove entre 10 petistas apostam no extermínio da legenda com uma eventual derrocada da oposição. O partido, porém, reúne hoje o grupo de jovens parlamentares mais aguerrido e preparado do Congresso, sob comando do presidente da sigla, deputado Rodrigo Maia (RJ); do líder da bancada, Paulo Bornhausen (SC); e do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), cujo sobrenome dispensa maiores comentários.

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Índio da Costa tem 39 anos, mas é um político experiente. Foi vereador por três mandatos e secretário de Administração da Prefeitura do Rio, a segunda maior cidade do país. No primeiro mandato de deputado federal, emplacou, como relator, a Lei da Ficha Limpa, o que não é pouca coisa, ainda mais para um parlamentar de oposição. Não tem nada a perder nesta eleição. Se não for eleito vice-presidente da República, Índio da Costa começa a campanha de candidato a prefeito do Rio de Janeiro no dia seguinte.

Sequelas

A cúpula do DEM não esconde o descontentamento com a atuação do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e do deputado federal tucano Jutahy Junior (BA) no episódio para escolher o vice de José Serra. Até o cordato senador Heráclito Fortes, do Piauí, que atuou como algodão entre cristais, reclama da dupla de escudeiros do ex-governador paulista. A queixa se estende aos aliados de Serra em Pernambuco e na Bahia, estados onde os dois deveriam estar mais afinados com os aliados.

Soneto

A cúpula do DEM, mesmo humilhada, já havia se preparado para aceitar a indicação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) como vice de Serra, pois os tucanos argumentavam que era o nome que mais agregava votos e que um recuo no contexto em que se estava seria uma emenda pior que o soneto. A resistência do presidente da legenda, Rodrigo Maia (RJ), era minoritária. Tudo mudou quando chegou a notícia de que a última estrofe era o acordo fechado pelo senador Osmar Dias (PDT) — irmão de Álvaro — com o PT e o PMDB no Paraná.

Padilhando

A nova rodada de discussão no DEM para escolher um novo nome para vice de José Serra foi aberta pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que confirmou o acordo de Osmar Dias com o PT e o PMDB pelo Twitter. A propósito, o ministro anda misturando as estações e dá muita bandeira. Exerce o cargo mais como um articulador da campanha da petista Dilma Rousseff do que da maioria governista no Congresso que não comparece às sessões.

Neutro

Presidente do PMDB no Rio Grande do Sul, o senador Pedro Simon anunciou ontem a neutralidade da seção gaúcha do partido nas eleições presidenciais. O ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça, candidato ao governo local pelo PMDB, seria aliado natural de José Serra se a governadora tucana Yeda Crusius não se candidatasse à reeleição. Foi a primeira grande trapalhada na política de alianças da oposição.

Terena

Um índio de verdade disputa uma vaga na Câmara dos Deputados com chances de se eleger. Trata-se de Marcos Terena (PPS), que disputa uma vaga pelo Mato Grosso do Sul. Um dos mais preparados líderes indígenas do país, conta com o apoio de outras etnias além dos terenas: guaranis, kaiowás, guatós, knikawas e kadiwéus de seu estado o apoiam. Os não indígenas simpatizantes da causa também são numerosos. Terena vai precisar de 50 mil votos para repetir o feito do cacique Juruna, em 1982, no Rio de Janeiro. “Peço a todos confiança, orientação e preces ao grande espírito da Terra, Ituko-Oviti em minha língua, para dar inspiração à nossa luta”, conclama. O Mato Grosso do Sul tem 73 mil indígenas, fora os mestiços.

Ações


Acionistas minoritários poderão usar 30% do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para pagar a complementação de suas ações da Petrobras compradas com recursos do fundo. Considerada polêmica, a proposta foi mantida no texto da lei pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Barris

O presidente Lula vetou à Petrobras leiloar áreas referentes aos chamados campos maduros, regiões já exploradas, mas ainda com uso comercial, como forma de devolver à União os recursos da cessão onerosa — que dá à Petrobras o direito de explorar na área do pré-sal, sem licitação, até 5 bilhões de barris de petróleo.

Racha - Tradicional reduto da inteligência carioca, o Clube de Engenharia está em pé de guerra. Surgiu uma forte oposição ao atual presidente, Francis Bogossian, que há décadas comanda o Sindicato dos Empreiteiros do Rio. A chapa Clube de Engenharia alega que a entidade, desde que o empreiteiro assumiu seu comando, deixou de atuar politicamente, não participa dos grandes debates da engenharia nacional e reduziu os famosos almoços mensais — nos quais eram discutidos temas nacionais — a simples encontros sociais.

Não vai - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou a viagem a Salvador, que comemora amanhã o Dia da Independência. A razão da visita é o périplo pela África, que começa por Cabo Verde e termina na África do Sul, onde assistirá à decisão da Copa do Mundo. O principal objetivo da visita aos países africanos é a parceria para a implantação da tevê digital com tecnologia nipo-brasileira.

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