domingo, 27 de dezembro de 2009

A ética na eleição

Por Luiz Carlos Azedo
Com Guilherme Queiroz
luizazedo.df@dabr.com.br


O escândalo do “mensalão do DEM”, que arrasou a administração do governador José Roberto Arruda (sem partido), foi interpretado por muitos como a morte do discurso ético na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e nas demais eleições de 2010. Haveria uma espécie de terra arrasada, na qual todos os partidos políticos em condições de disputar o poder teriam telhado de vidro, incapazes de resistir às pedradas dos adversários na campanha eleitoral. Nada mais falso, revelaram as pesquisas Datafolha divulgadas no decorrer da semana.

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A avaliação dos governadores dos 10 maiores estados do país, por exemplo, mostra claramente o estrago eleitoral dos desvios éticos em administrações que aparentemente apresentavam bom desempenho. A governadora tucana Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul, salvou os gaúchos do colapso financeiro e administrativo, mas teve o projeto de reeleição praticamente inviabilizado por causa do escândalo do Detran. O governador José Roberto Arruda, que transformou o Distrito Federal num canteiro de obras, também foi volatilizado. Por ora, o ex-governador Joaquim Roriz foi beneficiado pela crise, mas não está livre de ser tragado por ela.

Caixa dois

Desde o chamado “mensalão do PT” — que nunca teria existido, seria apenas o caixa dois da campanha eleitoral —, está sendo redesenhada a fronteira entre o que é ético e o que não é no financiamento dos partidos políticos e de seus candidatos. Não se chegou ao exclusivo financiamento público de campanha ou ao “liberou geral” para o financiamento privado, mas o fato é que nada será como antes, apesar da resistência atávica do Congresso às mudanças nas regras de financiamento. Para o Ministério Público e a Justiça Eleitoral, que se movem de acordo com a Lei, a tortuosa linha divisória entre caixa dois de campanha eleitoral e desvio de recursos públicos não existe.

Regras do jogo

A diferença entre dinheiro para campanha e formação de patrimônio que supostamente separaria políticos do bem de políticos do mal só existe para os políticos. Para a opinião pública, tudo é desvio de recursos públicos, via superfaturamento de obras, sobrepreço de serviços ou extorsão pura e simples de fornecedores e contribuintes. Para ser considerado ético, o político precisa andar na linha e declarar, tintim por tintim, as doações e os gastos de campanha. Além disso, submeter doadores de recursos às regras do jogo da Lei de Licitações, o verdadeiro xis da questão.

A conta

O eleitor começa a entender porque as “estruturas” de campanha são caras e extravagantes. Ao contrário do que muitos políticos imaginam, os mecanismos de controle e fiscalização das campanhas estão aumentando. Em consequência, as punições na Justiça Eleitoral também. Três governadores da safra de 2006 já foram cassados por abuso de poder econômico na campanha eleitoral: Cássio Cunha Lima (PB), Jackson Lago (MA) e Marcelo Miranda (foto), do TO.

Operadores


Acostumados a enriquecer com intermediações onerosas de negócios e sobras de campanha eleitoral, os chamados “operadores políticos” pululam nas eleições. Cada vez mais serão companheiros de viagem perigosos. O escândalo de Brasília, protagonizado pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa, pôs uma lente de aumento num modus operandi que a sociedade repudia. Operador como Delúbio Soares (foto) é ave rara.

Sapatinho

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), resolveu encarar a campanha para a sucessão de 2010 com a cara que Deus lhe deu. O cabelo joãozinho, que estreou às vésperas do Natal, logo depois do programa de TV do PT, surpreendeu o marqueteiro João Santana. A propósito, Dilma se queixa de que o publicitário responsável pela imagem de Lula lhe dá pouca atenção.

Telhado

Com uma capacidade de endividamento autorizada pelo Banco Central da ordem de R$ 3 bilhões, por causa da crise, subiram no telhado vários projetos de investimento do governo do Distrito Federal em parceria com instituições financeiras nacionais e estrangeiras. A carteira de projetos chega a R$ 3,9 bilhões

Atropelou/ O deputado Jader Barbalho (PMDB) é candidato ao governo do Pará. Não abre mão do pleito em favor da governadora petista Ana Júlia Carepa, que disputará a reeleição. O presidente do PMDB, deputado Michel temer (SP), tentou em vão costurar um acordo.

Teimoso/ O senador Renato Casagrande (PSB) continua com a firme disposição de disputar o governo do Espírito Santo. Mesmo que o prefeito de Vitória, o petista João Coser, apoie o vice-governador Ricardo Ferraço (PMDB), candidato do governador peemedebista Paulo Hartung.

Réveillon/ Ex-presidente de Honduras, Manoel Zelaya passou o Natal na embaixada brasileira de Tegucigalpa. Tudo indica que entrará o ano-novo por lá.

Um comentário:

Joca Simonetti disse...

"o chamado “mensalão do PT” — que nunca teria existido, seria apenas o caixa dois da campanha eleitoral —"

Que isso Azedo?

Os desvios em Brasília também nunca teriam existido? Seria apenas o panetone das criancinhas?