Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 03/02/2016
Dilma Rousseff deixou
claro que não pretende mudar a rota de seu governo. Mas soltou, de uma
só vez, um tigre e um elefante no meio do plenário: a recriação da CPMF e a reforma da Previdência
A soberba fez a presidente Dilma Rousseff
desperdiçar uma boa oportunidade. Em vez de oferecer aos partidos de
oposição propostas que flexibilizem o modelo de capitalismo de Estado
que adotou, optou por liderar a tropa de choque governista no Congresso e
apostar no confronto com a oposição. Houve vaias e protestos em
plenário, fato inédito no Congresso. Sua mensagem foi chinfrim, nem de
longe se pareceu, por exemplo, com um dos discursos sobre o estado da
Nação dos presidentes dos Estados Unidos, nos quais Barack Obama costuma
brilhar nos improvisos, mesmo diante de um parlamento majoritariamente
republicano.
A presidente da República, porém, manteve o
autocontrole, mesmo quando foi interpelada pela tucana Mara Gabrilli(SP)
sobre a epidemia de microcefalia, e não perdeu a pose com as vaias: “Eu
achei ótima a receptividade. É minha absoluta obrigação de estar aqui”,
disse, ao deixar o Congresso. Durante 40 minutos, Dilma Rousseff deixou
claro que não pretende mudar a rota de seu governo. Mas soltou, de uma
só vez, um tigre e um elefante no meio do plenário.
O tigre foi a
proposta de recriação da CPMF, que enfrenta grande resistência no
Congresso e oposição maior ainda da sociedade, pois se trata de aumentar
a carga tributária do país sem oferecer outra contrapartida que não
seja serviços de péssima qualidade. O elefante é a proposta de reforma
da Previdência, que o governo pretende aprovar para elevar o teto mínimo
das aposentadorias e estabelecer um regime único para servidores
públicos e trabalhadores do setor privado, urbano e rural. São propostas
impopulares, de um governo fraco, num ano eleitoral.
Foi um
discurso burocrático, que se perdeu em detalhes, como se fosse o caso de
explicar a anatomia do tigre e do elefante e não a diferença entre um e
outro. Talvez porque seja uma preocupação que aparece nas pesquisas de
opinião feitas pelo Palácio do Planalto, discorreu sobre o “vírus da
zika” como se estivesse lidando com alunos de uma escola primária: “Como
não existe vacina, o melhor remédio é enfrentamento do mosquito Aedes,
impedindo sua proliferação, porque, se o mosquito não nascer, o vírus
não tem como viver.”
Dilma foi vaiada por deputados da oposição
ao defender o retorno da CPMF, fazer apologia do programa Minha Casa,
Minha Vida e abordar a proposta para que o trabalhador do setor privado
possa utilizar verba do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
como garantia para o crédito consignado. Sua prioridade é mesmo aumentar
impostos: “Muitos têm dúvidas e se opõem a essas medidas, especialmente
a CPMF, e têm argumentos, mas peço que considerem a excepcionalidade do
momento, levem em conta dados, e não opiniões. A CPMF é a melhor
solução disponível para ampliar, no curto prazo, a receita fiscal em
favor do Brasil”.
Foi genérica ao falar de corte dos gastos
públicos: “Queremos discutir com o Congresso a fixação de um limite
global para o crescimento do gasto primário do governo para dar mais
previsibilidade à política fiscal e melhorar a qualidade das ações de
governo”. E, mais uma vez, não fez autocrítica em relação aos erros na
condução da economia.
Contraponto
A ida de
Dilma Rousseff ao Congresso foi sugerida pelo ex-ministro Delfim Neto,
um de seus conselheiros, que havia se afastado do governo e de quem
Dilma se reaproximou recentemente. Ele havia dito que não existe
presidencialismo sem presidente da República e que Dilma deveria assumir
a liderança do combate à crise como líder da Nação. Quem estava
escalado para levar a mensagem presidencial ao Congresso era o ministro
da Casa Civil, Jaques Wagner; na segunda-feira, porém, Dilma resolveu
ler a mensagem pessoalmente.
O presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), desafeto de Dilma Rousseff, fez um discurso comedido,
de prestação de contas, mas advertiu que o aumento da carga tributária
não é uma proposta de tranquila aprovação pela Câmara. Quem roubou a
cena, porém, foi o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao
propor duas medidas que contrariam as posições do governo e soam como
música aos ouvidos do mercado financeiro e da indústria. A primeira é a
autonomia do Banco Central; a segunda, a flexibilização do regime de
partilha na exploração do pré-sal, acabando com a obrigação de a
Petrobras fazer 30% dos investimentos no setor.
ResponderExcluirO Nobre Professor Marcílio Novaes Maxxon, foi o único ate aqui que previu com exatidão, muito antes, os fatos que hoje vivenciamos. Esse nobre Professor, Cientista, Observador e Estratégista Político, deveria ser mais ouvido e respeitado em nosso País.Presto portanto esse Reconhecimento Público.
OZIRES SILVA