Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 02/02/2016
O governo até se esforçou para
vender a imagem de que está tudo dominado, dos caciques da base
governista aos empresários e banqueiros do país. Mesmo com o carnaval, não é assim que a banda toca
Com o
fim do recesso, acabou a moleza para a presidente Dilma Rousseff e os
estrategistas do Palácio do Planalto, que somente não aproveitaram
melhor as flores do recesso porque são mestres em pisar no próprio
jardim. Tudo bem que a Operação Lava-Jato roubou a cena no recesso,
ainda mais com a investigação sobre o Condomínio Solaris, uma espécie de
Edifício Balança Mas Não Cai petista. O governo até se esforçou para
vender a imagem de que está tudo dominado, dos caciques da base
governista aos empresários e banqueiros do país. Mesmo com o refresco do
carnaval, não é assim que a banda toca.
Por
exemplo, ontem a britânica The Economist mostrou para o mundo que o
mise-en-scène oficial não funcionou: a revista ironiza ao afirmar que o
Brasil é uma festa à beira do precipício, numa alusão ao nosso carnaval
de rua. Para os investidores, a folia não será uma trégua para a crise. A
revista resume os indicadores econômicos negativos — inflação, deficit
público, falta de investimento, desvalorização da moeda —, avalia que o
impeachment continuará na pauta do Congresso e mostra que a crise social
pode ser ainda mais dramática por causa da epidemia de zika vírus e sua
possível relação com a microcefalia. Tudo verdade.
O
país visto por nós, porém, tem mais sutilezas. Uma delas é a situação
do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujo afastamento do
cargo e do mandato foi pedido pelo procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos estiveram
juntos, ontem, na abertura dos trabalhos do Judiciário, e não se
cumprimentaram. Janot sequer citou o presidente da Câmara, terceiro na
linha de sucessão da presidente Dilma, em seu discurso, como seria de
praxe. Há expectativa de que o pedido seja levado ao plenário pelo
presidente do STF, Ricardo Lewandowski, a pedido do ministro-relator da
Operação Lava-Jato, Teori Zavaski, nas sessões de quarta ou
quinta-feira.
Entretanto, os estrategistas do
Palácio do Planalto torcem para que Cunha permaneça no cargo e responda
ao processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Câmara, o que
seria uma maneira de manter o bode no meio da sala, embaralhando as
cartas para a opinião pública. À frente da Casa, Cunha desgasta a
proposta de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo,
ambos travam uma batalha de vida ou morte pelo controle da liderança do
PMDB na Câmara. Dilma defende a reeleição do atual líder da bancada,
Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Cunha apoia a candidatura do deputado Hugo
Motta (PMDB-PB), seu aliado fiel. O STF definiu que caberá aos líderes
indicar os nomes dos integrantes da comissão especial que examinará a
admissibilidade do pedido de impeachment. O PMDB tem oito integrantes na
comissão de 62 nomes, o que praticamente define a maioria.
No
Senado, onde a base governista é mais estruturada, o presidente da
Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), também está sob investigação da
Lava-Jato, mas é um mestre na arte da sobrevivência política. Foi um dos
artífices da recondução do procurador-geral Rodrigo Janot e se comporta
como bom cabrito toda vez os procuradores da Lava-Jato vazam alguma
informação comprometedora: não berra. Calheiros tem uma carta na manga
que pode virar de pernas para o ar as relações entre os partidos no
Congresso: a promulgação da emenda constitucional que abre uma janela de
30 dias para o troca-troca de partidos. A proposta surgiu com objetivo
de esvaziar a oposição e enfraquecer o PMDB, mas a situação política do
país se alterou profundamente desde quando foi urdida pelos alquimistas
de Dilma.
A presidente Dilma Rousseff amarga
grande impopularidade, o governo é desaprovado pela ampla maioria, o PT
se atolou na lama do pré-sal e o ex-presidente Luiz Lula Silva nada
contra a correnteza da Lava-Jato. O passe livre para os deputados ainda
pode servir para o governo controlar a liderança do PMDB, mas o risco
colateral é engordar as bancadas da oposição, inclusive a da Rede, de
Marina Silva, que já goza de grande popularidade e poderia ampliar seu
tempo de televisão com a entrada de novos deputados.
As flores murcham e as esperanças de uma governabilidade também, é possível que o tempo foi o aliado mais fiel de DILMA, e o inimigo mais temido de EDUARDO CUNHA, porém a efetividade governamental se arrastará por um funil, que tragará toda a história petista. Nem as flores murchas coexistiram em 2018.
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