Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 29/06/2014
O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e a ex-senadora do Acre Marina Silva buscam votos no chamado Sul
Maravilha com um discurso que propõe um novo padrão de desenvolvimento,
mais sustentável e menos desigual
Com a confirmação,
ontem, em Brasília, da chapa Eduardo Campos e Marina Silva, da coligação
“Unidos pelo Brasil”, aliança entre PSB, PPS, PPL, PRP e PHS, a
vantagem estratégica da presidente Dilma Rousseff nas regiões Norte e
Nordeste do país está em xeque. Tanto os dois mandatos do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, como o da atual presidente da República,
candidata à reeleição, que permanece em primeiro lugar nas pesquisas,
podem ser atribuídos ao apoio eleitoral maciço obtido nas duas regiões
nas eleições de 20002, 2006 e 2010. O PT perdeu as eleições nas regiões
meridionais do país.
O ex-governador de Pernambuco e a ex-seringueira do Acre, juntos, são
porta-vozes dos estados da região e buscam votos no chamado Sul
Maravilha com um discurso que propõe um novo padrão de desenvolvimento,
mais sustentável e menos desigual. Levarão as eleições, inevitavelmente,
ao segundo turno, mesmo que não consigam romper a polarização hoje
existente entre o PT e o PSDB, cujo candidato a presidente, senador
Aécio Neves, é o segundo das pesquisas. Ontem, na convenção conjunta de
sua coligação, Eduardo Campos subiu o tom contra o governo Dilma
Rousseff. Criticou as relações da presidente da República com os
partidos de sua base e ironizou os boatos espalhados pelos adversários
de que quereria acabar com o Bolsa Família.
“Vamos acabar com a política rasteira do medo, da difamação, de que
no nosso governo vamos acabar com Bolsa Família. Vamos acabar é com a
corrupção, com o fisiologismo. Nosso governo vai manter estabilidade da
moeda, o Prouni, o Minha Casa, Minha Vida”, disse Campos. Foi duro
também em relação à política econômica de Dilma, que pretende mudar:
“Vamos inverter a equação. Vamos retomar o crescimento sustentável da
economia. Vamos botar a inflação para baixo e o crescimento para cima.
Vamos fazer isso retomando a confiança do Brasil no Brasil e a confiança
do mundo no Brasil”, declarou.
Apesar das contradições entre os pragmáticos do PSB e os “sonháticos” da
Rede nos estados, Campos conseguiu manter ao seu lado Marina, cuja Rede
criou muitas dificuldades para o PSB realizar alianças robustas nos
estados. Conviver com esses conflitos foi a condição para chegar à
convenção com a chapa preservada, apesar das dificuldades eleitorais
registradas nas pesquisas. A ex-senadora do Acre, que é conhecida por
sua militância em defesa do meio ambiente, defende uma política capaz de
aliar o aumento da capacidade de produção com a proteção ambiental.
“Temos o compromisso com a mudança do modelo de desenvolvimento
predatório para o modelo sustentável de desenvolvimento”, enfatizou na
convenção.
Dirigentes e militantes do PSB têm mais simpatias pelo discurso da
Rede do que se imaginava, o que acabou reforçando o rompimento de
algumas alianças pragmáticas, como aconteceu em Minas, onde o PSB lançou
a candidatura do ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado e rompeu o
acordo feito com o tucano Aécio Neves no estado para apoiar Pimenta da
Veiga.
Defensor de tradicionais teses desenvolvimentistas,
Campos assimilou o discurso ambientalista de Marina, acredita que a
aliança com ela pode compensar, em termos de votos, as limitações da
estratégia adotada em alguns estados do Sudeste, onde compartilha o
palanque com os adversários por falta de condições para uma candidatura
própria. No Rio de Janeiro, apoia a candidatura do petista Lindbergh
Farias; já em São Paulo, o PSB indicou o vice do tucano Geraldo Alckmin.
Tempo de tevê
A maior dificuldade da dupla
Eduardo e Marina não será, porém, a fraqueza de suas alianças e de seus
palanques, mas o pouco tempo de televisão. A propaganda para presidente
da República é dividida em dois blocos diários de 25 minutos cada na
tevê e no rádio, três vezes por semana. Um terço desse tempo, ou seja,
oito minutos e 20 segundos, é partilhado igualmente entre todos os
candidatos. O restante é dividido de acordo com o peso, na Câmara dos
Deputados, dos partidos que compõem as coligações. Campos é o que conta
com a menor fatia: possui uma base de 33 deputados e cerca de um minuto e
meio de TV. O pré-candidato socialista contabiliza o tempo do PPS, de
Roberto Freire, e de nanicos como o PSL, o PRP e o PHS. Com o tempo
destinado igualmente aos candidatos, terá pouco mais de dois minutos de
propaganda na tevê e no rádio.
Até agora, PMDB, PCdoB, PROS, PTB, PP, PSD, PR, PRB e PDT, além do PT,
somam 357 dos 513 deputados federais. Com isso, a presidente Dilma pode
ter o tempo de TV quase três vezes maior do que o Aécio Neves,
praticamente seis vezes maior do que o de Campos. Ou seja, terá entre 12
e 13 minutos em rede nacional de rádio e TV, cerca de 45% no tempo
total de propaganda eleitoral. O pré-candidato do PSDB à presidência,
com o apoio do DEM, do Solidariedade, de Paulinho da Força, e do PTB,
tem 99 parlamentares em sua base, o que dá pouco mais de seis minutos de
propaganda.
domingo, 29 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Líderes da transição
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 26/06/2016
Sarney revelou-se um dos mais sagazes líderes políticos do país, capaz de se adaptar às circunstâncias e se antecipar aos fatos. Como agora, ao anunciar a aposentadoria, para evitar uma provável derrota eleitoral no Amapá
Dois dos principais remanescentes da geração de políticos que comandou no Congresso a transição à democracia estão saindo de cena nestas eleições. O ex-governador do Rio Grande do Sul Pedro Simon (PMDB), que resolveu pendurar as chuteiras desde o ano passado, é uma espécie de guardião da ética no Senado, onde tornou-se um Dom Quixote a investir contra os acordos e práticas políticas fisiológicas, inclusive de seu próprio partido. A surpresa foi a decisão do ex-presidente José Sarney (PMDB-MA), que é o grande patriarca do chamado “presidencialismo de coalizão”. Nesta semana, desistiu de disputar mais um mandato. Sai de cena depois de receber uma vaia ao lado da presidente Dilma Rousseff, no Amapá, estado que por três vezes o elegeu ao Senado. Dos dois políticos, porém, é o que ainda preserva poder de fato na União, com influência real no Congresso, no Executivo e até mesmo no Judiciário.
O pregador
Simon foi eleito senador na leva de 1978, depois de três mandatos de deputado estadual no antigo MDB. De origem trabalhista, tornou-se grande amigo de Ulysses Guimarães, o líder da oposição legal ao regime militar. Por outro lado, virou adversário de Leonel Brizola, que havia voltado do exílio, a quem atribuiu a responsabilidade por sua derrota ao governo do estado nas eleições de 1982, que perdeu para o candidato do PDS, a antiga Arena, Jair Soares. Coordenou a campanha das Diretas Já e apoiou a eleição de Tancredo Neves à Presidência.
Com a morte do político mineiro, foi confirmado no cargo de ministro da Agricultura por José Sarney, que assumira a Presidência na condição de vice eleito no colégio eleitoral. Fora a testemunha da negociação política entre o general Walter Pires, ministro do Exército do último presidente militar, João Batista Figueiredo, e o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, que garantiu a posse de José Sarney e o fim do regime.No ano seguinte, elegeu-se governador do Rio Grande do Sul, na onda eleitoral gerada pelo Plano Cruzado.
Voltou ao Senado nas eleições de 1990 e foi um dos principais articuladores da campanha do impeachment de Fernando Collor, que renunciou ao mandato por causa das denúncias de corrupção no seu governo e das articulações para apeá-lo do poder. Líder do governo Itamar Franco, que assumira a Presidência, desde então destacou-se como um pregador da ética na política e derrubou vários ministros sob suspeita de corrupção, inclusive do seu próprio partido. Tornou-se adversário de Sarney e desafeto do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O patriarca
Mais longevo político brasileiro ainda em atividade, José Sarney controla o estado do Maranhão desde quando se elegeu governador pela primeira vez, em 1966, dois anos após o golpe militar, que apoiou. Ex-integrante da chamada UDN Bossa Nova, Sarney revelou-se um dos mais sagazes líderes políticos do país, capaz de se adaptar às circunstâncias e se antecipar aos fatos. Como agora, ao anunciar a aposentadoria, para evitar uma provável derrota eleitoral no Amapá, estado que adotou como uma espécie de “santuário eleitoral”, mas que hoje é governado por um adversário, João Capiberibe (PSB).
Em 1985, na crise governista provocada pela escolha do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf como candidato do PDS à Presidência da República, com o então governador do Rio Grande do Norte, José Agripino, e o governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, liderou a dissidência que apoiou Tancredo Neves. Porém, não se filiou PFL, mas ao PMDB, para ser o vice na chapa de oposição. Acabou assumindo a Presidência da República, com apoio dos militares e de Ulysses Guimarães.
Desafeto de Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo foi marginalizado, tornou-se aliado de primeira hora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já na campanha eleitoral de 2002. Apoiou o governo Lula em todos os momentos, inclusive na crise do mensalão. Mantém boa relação com a presidente Dilma Rousseff, cuja reeleição apoia, e tem aliados em postos estratégicos da administração federal.
Manteve seu prestígio no governo, mesmo depois que deixou a Presidência do Senado, com aliados em postos influentes, como é o caso do senador Edison Lobão (PMDB-MA), atual ministro de Minas e Energia. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), é sua principal herdeira política, uma vez que o filho Zequinha Sarney (PV-MA) tem uma atuação mais focada em temas alternativos do que no jogo pesado do poder. Membro da Academia Brasileira de Letras, o patriarca sempre disse que gostaria de se dedicar mais aos romances.
Correio Braziliense - 26/06/2016
Sarney revelou-se um dos mais sagazes líderes políticos do país, capaz de se adaptar às circunstâncias e se antecipar aos fatos. Como agora, ao anunciar a aposentadoria, para evitar uma provável derrota eleitoral no Amapá
Dois dos principais remanescentes da geração de políticos que comandou no Congresso a transição à democracia estão saindo de cena nestas eleições. O ex-governador do Rio Grande do Sul Pedro Simon (PMDB), que resolveu pendurar as chuteiras desde o ano passado, é uma espécie de guardião da ética no Senado, onde tornou-se um Dom Quixote a investir contra os acordos e práticas políticas fisiológicas, inclusive de seu próprio partido. A surpresa foi a decisão do ex-presidente José Sarney (PMDB-MA), que é o grande patriarca do chamado “presidencialismo de coalizão”. Nesta semana, desistiu de disputar mais um mandato. Sai de cena depois de receber uma vaia ao lado da presidente Dilma Rousseff, no Amapá, estado que por três vezes o elegeu ao Senado. Dos dois políticos, porém, é o que ainda preserva poder de fato na União, com influência real no Congresso, no Executivo e até mesmo no Judiciário.
O pregador
Simon foi eleito senador na leva de 1978, depois de três mandatos de deputado estadual no antigo MDB. De origem trabalhista, tornou-se grande amigo de Ulysses Guimarães, o líder da oposição legal ao regime militar. Por outro lado, virou adversário de Leonel Brizola, que havia voltado do exílio, a quem atribuiu a responsabilidade por sua derrota ao governo do estado nas eleições de 1982, que perdeu para o candidato do PDS, a antiga Arena, Jair Soares. Coordenou a campanha das Diretas Já e apoiou a eleição de Tancredo Neves à Presidência.
Com a morte do político mineiro, foi confirmado no cargo de ministro da Agricultura por José Sarney, que assumira a Presidência na condição de vice eleito no colégio eleitoral. Fora a testemunha da negociação política entre o general Walter Pires, ministro do Exército do último presidente militar, João Batista Figueiredo, e o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, que garantiu a posse de José Sarney e o fim do regime.No ano seguinte, elegeu-se governador do Rio Grande do Sul, na onda eleitoral gerada pelo Plano Cruzado.
Voltou ao Senado nas eleições de 1990 e foi um dos principais articuladores da campanha do impeachment de Fernando Collor, que renunciou ao mandato por causa das denúncias de corrupção no seu governo e das articulações para apeá-lo do poder. Líder do governo Itamar Franco, que assumira a Presidência, desde então destacou-se como um pregador da ética na política e derrubou vários ministros sob suspeita de corrupção, inclusive do seu próprio partido. Tornou-se adversário de Sarney e desafeto do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O patriarca
Mais longevo político brasileiro ainda em atividade, José Sarney controla o estado do Maranhão desde quando se elegeu governador pela primeira vez, em 1966, dois anos após o golpe militar, que apoiou. Ex-integrante da chamada UDN Bossa Nova, Sarney revelou-se um dos mais sagazes líderes políticos do país, capaz de se adaptar às circunstâncias e se antecipar aos fatos. Como agora, ao anunciar a aposentadoria, para evitar uma provável derrota eleitoral no Amapá, estado que adotou como uma espécie de “santuário eleitoral”, mas que hoje é governado por um adversário, João Capiberibe (PSB).
Em 1985, na crise governista provocada pela escolha do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf como candidato do PDS à Presidência da República, com o então governador do Rio Grande do Norte, José Agripino, e o governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, liderou a dissidência que apoiou Tancredo Neves. Porém, não se filiou PFL, mas ao PMDB, para ser o vice na chapa de oposição. Acabou assumindo a Presidência da República, com apoio dos militares e de Ulysses Guimarães.
Desafeto de Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo foi marginalizado, tornou-se aliado de primeira hora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já na campanha eleitoral de 2002. Apoiou o governo Lula em todos os momentos, inclusive na crise do mensalão. Mantém boa relação com a presidente Dilma Rousseff, cuja reeleição apoia, e tem aliados em postos estratégicos da administração federal.
Manteve seu prestígio no governo, mesmo depois que deixou a Presidência do Senado, com aliados em postos influentes, como é o caso do senador Edison Lobão (PMDB-MA), atual ministro de Minas e Energia. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), é sua principal herdeira política, uma vez que o filho Zequinha Sarney (PV-MA) tem uma atuação mais focada em temas alternativos do que no jogo pesado do poder. Membro da Academia Brasileira de Letras, o patriarca sempre disse que gostaria de se dedicar mais aos romances.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Marcação homem a homem
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 25/06/2014
O chamado “padrão Fifa” passou a ser exigido pelos manifestantes nos protestos em relação à saúde, à educação e ao transporte, principalmente. A maioria da população encara esses problemas como prioridade.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), corta um dobrado para evitar um atrito sério entre o Palácio do Planalto e os cartolas da Fifa durante a realização dos jogos da Copa do Mundo. Está viajando com o presidente da entidade, Joseph Blatter, para todos os jogos possíveis. Ontem, foi a Natal, para assistir, na Arena das Dunas, ao lado do suíço, ao jogo no qual o Uruguai mandou a Itália mais cedo para casa, com a dramática vitória por 1 x 0. Depois do jogo, Blatter seguiu para Manaus, onde assistirá hoje ao jogo entre Honduras e Suíça.
Rebelo tem uma teoria para explicar os protestos contra a Copa e a forma como a imprensa internacional, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, fez uma cobertura alarmista dos preparativos do evento. “Assim como o Vaticano com a eleição do papa Francisco, a Fifa de Blatter deixou de ser uma instituição sob controle anglo-saxão.” A última Copa foi realizada na África do Sul, a próxima será na Rússia. “Aqui no Brasil, está sendo um sucesso, apesar de um ou outro incidente sem maior gravidade, mas há uma campanha orquestrada e muita má vontade da imprensa dos países desenvolvidos”, dispara.
Apesar dessa narrativa do ministro do Esporte, entretanto, o Palácio do Planalto prepara um balanço sobre a realização da Copa no qual pretende jogar a culpa dos problemas na Fifa. A ideia é fazer uma espécie de check-list dos compromissos acordados com a entidade e comparar a execução dos encargos assumidos pelo governo com a dos que são de responsabilidade da Fifa. Seria uma retaliação aos pitos recebidos da federação pelo governo, por causa dos atrasos nas obras. Esse balanço faria coro com as reclamações da África do Sul e seria mandado para os russos, que realizarão a próxima Copa.
As exigências de Blatter em relação à Copa serviram de mote para as reivindicações que antecederam o evento. O chamado “padrão Fifa” passou a ser exigido pelos manifestantes nos protestos em relação à saúde, à educação e ao transporte, principalmente. A maioria da população encara esses problemas como prioridade em relação às obras dos estádios, apesar do sucesso indiscutível do evento. O governo avalia, porém, que o pior já passou. Os aeroportos não entraram em colapso, como já ocorreu em outras ocasiões, e o sistema de transportes funcionou a contento para garantir o acesso dos torcedores aos jogos, principalmente do Brasil. Além disso, o forte esquema de segurança inibiu ou conteve os protestos anti-Copa.
Ontem, em encontro com empresários na Câmara de Comércio do Brasil-Europa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi nessa toada e criticou tanto a imprensa estrangeira quanto a brasileira devido ao pessimismo em relação ao evento. “A Copa do Mundo está surpreendendo muita gente. Eu já dizia: a melhor coisa que o Brasil tem para mostrar é seu povo”, defendeu. Ao fim do discurso, Lula disse ter confiança de que o Brasil será campeão mundial pela sexta vez. O petista é o principal responsável pela realização da Copa do Mundo no Brasil. Foi durante o governo dele que o acordo com a Fifa para realização dos jogos foi feito. A decisão da Fifa foi comemorada com festa e não houve reclamações quanto às exigências.
A estratégia de Dilma Rousseff, na campanha de reeleição, será capitalizar o entusiasmo popular com o evento e jogar a culpa do que deu errado na danada da Fifa, mesmo que isso signifique o enfraquecimento de Blatter e a retomada do controle da entidade pelos países europeus. A propósito, Itália, Espanha e Inglaterra voltaram pra casa mais cedo, mas Alemanha, França e Holanda continuam no páreo.
Voto a voto
Desde ontem, o Palácio do Planalto monitora um a um os convencionais do PP, que hoje deve decidir se apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff ou se faz a baldeação para a candidatura de Aécio Neves (PSDB). O rompimento do PTB, que desembarcou do governo e se coligou com o PSDB, acionou o alarme, pois Dilma e seus articuladores foram pegos completamente de surpresa. O fiador do apoio a Dilma é o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira, mas a rebelião está instalada. Tanto que a petista não foi convidada ao evento para não passar constrangimentos. Aécio conta com o apoio do PP em Minas e no Rio Grande do Sul, estados onde a legenda tem as maiores bancadas, mas pode ter a adesão de mais cinco diretórios importantes.
Degola
O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, entregou ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dias Toffoli, a lista com o nome de 6,6 mil funcionários ou gestores públicos que tiveram as contas julgadas irregulares. A Justiça Eleitoral definirá agora quais dessas pessoas estão inelegíveis para as eleições de outubro.
Correio Braziliense - 25/06/2014
O chamado “padrão Fifa” passou a ser exigido pelos manifestantes nos protestos em relação à saúde, à educação e ao transporte, principalmente. A maioria da população encara esses problemas como prioridade.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), corta um dobrado para evitar um atrito sério entre o Palácio do Planalto e os cartolas da Fifa durante a realização dos jogos da Copa do Mundo. Está viajando com o presidente da entidade, Joseph Blatter, para todos os jogos possíveis. Ontem, foi a Natal, para assistir, na Arena das Dunas, ao lado do suíço, ao jogo no qual o Uruguai mandou a Itália mais cedo para casa, com a dramática vitória por 1 x 0. Depois do jogo, Blatter seguiu para Manaus, onde assistirá hoje ao jogo entre Honduras e Suíça.
Rebelo tem uma teoria para explicar os protestos contra a Copa e a forma como a imprensa internacional, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, fez uma cobertura alarmista dos preparativos do evento. “Assim como o Vaticano com a eleição do papa Francisco, a Fifa de Blatter deixou de ser uma instituição sob controle anglo-saxão.” A última Copa foi realizada na África do Sul, a próxima será na Rússia. “Aqui no Brasil, está sendo um sucesso, apesar de um ou outro incidente sem maior gravidade, mas há uma campanha orquestrada e muita má vontade da imprensa dos países desenvolvidos”, dispara.
Apesar dessa narrativa do ministro do Esporte, entretanto, o Palácio do Planalto prepara um balanço sobre a realização da Copa no qual pretende jogar a culpa dos problemas na Fifa. A ideia é fazer uma espécie de check-list dos compromissos acordados com a entidade e comparar a execução dos encargos assumidos pelo governo com a dos que são de responsabilidade da Fifa. Seria uma retaliação aos pitos recebidos da federação pelo governo, por causa dos atrasos nas obras. Esse balanço faria coro com as reclamações da África do Sul e seria mandado para os russos, que realizarão a próxima Copa.
As exigências de Blatter em relação à Copa serviram de mote para as reivindicações que antecederam o evento. O chamado “padrão Fifa” passou a ser exigido pelos manifestantes nos protestos em relação à saúde, à educação e ao transporte, principalmente. A maioria da população encara esses problemas como prioridade em relação às obras dos estádios, apesar do sucesso indiscutível do evento. O governo avalia, porém, que o pior já passou. Os aeroportos não entraram em colapso, como já ocorreu em outras ocasiões, e o sistema de transportes funcionou a contento para garantir o acesso dos torcedores aos jogos, principalmente do Brasil. Além disso, o forte esquema de segurança inibiu ou conteve os protestos anti-Copa.
Ontem, em encontro com empresários na Câmara de Comércio do Brasil-Europa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi nessa toada e criticou tanto a imprensa estrangeira quanto a brasileira devido ao pessimismo em relação ao evento. “A Copa do Mundo está surpreendendo muita gente. Eu já dizia: a melhor coisa que o Brasil tem para mostrar é seu povo”, defendeu. Ao fim do discurso, Lula disse ter confiança de que o Brasil será campeão mundial pela sexta vez. O petista é o principal responsável pela realização da Copa do Mundo no Brasil. Foi durante o governo dele que o acordo com a Fifa para realização dos jogos foi feito. A decisão da Fifa foi comemorada com festa e não houve reclamações quanto às exigências.
A estratégia de Dilma Rousseff, na campanha de reeleição, será capitalizar o entusiasmo popular com o evento e jogar a culpa do que deu errado na danada da Fifa, mesmo que isso signifique o enfraquecimento de Blatter e a retomada do controle da entidade pelos países europeus. A propósito, Itália, Espanha e Inglaterra voltaram pra casa mais cedo, mas Alemanha, França e Holanda continuam no páreo.
Voto a voto
Desde ontem, o Palácio do Planalto monitora um a um os convencionais do PP, que hoje deve decidir se apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff ou se faz a baldeação para a candidatura de Aécio Neves (PSDB). O rompimento do PTB, que desembarcou do governo e se coligou com o PSDB, acionou o alarme, pois Dilma e seus articuladores foram pegos completamente de surpresa. O fiador do apoio a Dilma é o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira, mas a rebelião está instalada. Tanto que a petista não foi convidada ao evento para não passar constrangimentos. Aécio conta com o apoio do PP em Minas e no Rio Grande do Sul, estados onde a legenda tem as maiores bancadas, mas pode ter a adesão de mais cinco diretórios importantes.
Degola
O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, entregou ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dias Toffoli, a lista com o nome de 6,6 mil funcionários ou gestores públicos que tiveram as contas julgadas irregulares. A Justiça Eleitoral definirá agora quais dessas pessoas estão inelegíveis para as eleições de outubro.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Salve-se quem puder
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 24/06/2014
Esse vale-tudo eleitoral parece incomodar uma parcela expressiva dos eleitores. É alta a proporção dos que, a três meses e meio da eleição, pretendem votar em branco ou nulo
Nem o cronista carioca Stanislaw Ponte Preta, autor do fabuloso Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) e do Samba do Crioulo Doido, seria capaz de prever a repentina aliança de Cabral com o desafeto Cesar Maia, que dias antes havia espinafrado sua administração no programa de tevê do DEM. Quem mais está esperneando é o prefeito Eduardo Paes (PMDB) — criatura lançada por Maia na política, mas hoje rompida com o criador. Soltou nota criticando a aliança espúria e já está com um pé fora do PMDB, que é a quinta legenda à qual se filiou.
No Rio de Janeiro, o protagonismo do PMDB e do PT contrasta com a situação eleitoral desfavorável de seus candidatos. Segundo o Ibope, em pesquisa encomendada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e realizada entre 7 e 11 de junho, o pré-candidato do PR, o ex-governador Anthony Garotinho, lidera a disputa com 18% das intenções de voto. O senador e ex-ministro Marcelo Crivella (PRB) é seu principal concorrente, com 16%. Ambos são aliados de Dilma. Pezão tem 13% e Lindbergh, 11%. Em quinto, aparecia Cesar Maia (DEM), com 8%. Miro Teixeira (Pros), que desistiu da candidatura, e Tarcísio Motta (PSol) tinham 1% cada.
Esse vale-tudo eleitoral parece incomodar uma parcela expressiva dos eleitores do Rio de Janeiro. É alta a proporção dos que, a três meses e meio da eleição, pretendem votar em branco ou nulo: 27%. Não é à toa também que, à exceção de Crivella, todos os candidatos têm rejeição maior do que a intenção de voto. Garotinho está em primeiro, com 32% de entrevistados que não votariam nele em nenhuma hipótese. Cesar Maia é rejeitado por 24%; Pezão por 18%; e Lindbergh por 14%. Essa tendência também se reproduz em outros estados.
Sonháticos e pragmáticos
Com dificuldades para viabilizar palanques próprios no chamado Triângulo das Bermudas — Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais —, o candidato do PSB, Eduardo Campos, liberou a legenda para fazer o que quiser nos estados, desde que garanta espaço para sua campanha. O objetivo é não atrapalhar a eleição de senadores e deputados. Com isso, a construção de uma “terceira via” a partir de “alianças programáticas”, como exigiam os “sonháticos” de Marina Silva, foi para o beleléu.
A guinada começou com a indicação do vice do governador tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo, como queria o deputado federal Márcio França (PSB), candidato a vice na chapa tucana. O próximo passo será o apoio à candidatura de Pimenta da Veiga, do PSDB, em Minas, com a retirada do nome do deputado Júlio Delgado (PSB), em troca da manutenção do apoio do PSDB ao candidato a governador de Eduardo Campos em Pernambuco, o ex-secretário de Fazenda do estado Paulo Câmara. Os tucanos ameaçam lançar um candidato próprio, o deputado Daniel Coelho, se o PSB apresentar candidato em Minas.
Os conflitos entre “sonháticos” da Rede e os quadros históricos do PSB acabaram inviabilizando palanques alternativos para a dupla Eduardo Campos e Marina Silva. É o caso do Tocantins, onde Marina Silva apoia o procurador licenciado Mario Lúcio Avelar (PPS), mas o PSB fechou com o grupo do ex-governador Siqueira Campos, que renunciou ao mandato e apoia o governador biônico Sandoval Cardoso (SDD), eleito pela Assembleia Legislativa, que concorrerá a reeleição. Às vésperas de completar 86 anos, Siqueira controla o estado desde sua fundação, há 25 anos, e tem conexões em todos os partidos, a ponto de o PMDB intervir na seção regional para garantir a candidatura da senadora Kátia Abreu ao governo.
Correio Braziliense - 24/06/2014
Esse vale-tudo eleitoral parece incomodar uma parcela expressiva dos eleitores. É alta a proporção dos que, a três meses e meio da eleição, pretendem votar em branco ou nulo
A reta final das articulações
eleitorais, em meio aos jogos da Copa do Mundo, virou um salve-se quem
puder. Quem mais sofre com a situação é a presidente Dilma Rousseff, com
defecções na sua base de governo por causa dos crescentes conflitos nos
estados entre o PT e seus aliados, principalmente o PMDB. O caso mais
espetacular é o do Rio de Janeiro, onde instalou-se um verdadeiro
vale-tudo entre dois dos principais partidos da coligação governista.
O senador Lindbergh Farias (PT), candidato ao governo fluminense, cedeu a vaga ao Senado para o deputado Romário (PSB), que apoia Eduardo Campos, o candidato de seu partido à Presidência. Em resposta, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) desistiu da candidatura ao Senado e entregou sua vaga ao ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM), embarcando na candidatura de Aécio Neves (PSDB), embora o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) ainda diga que o seu palanque é de Dilma Rousseff (PT).
O senador Lindbergh Farias (PT), candidato ao governo fluminense, cedeu a vaga ao Senado para o deputado Romário (PSB), que apoia Eduardo Campos, o candidato de seu partido à Presidência. Em resposta, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) desistiu da candidatura ao Senado e entregou sua vaga ao ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM), embarcando na candidatura de Aécio Neves (PSDB), embora o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) ainda diga que o seu palanque é de Dilma Rousseff (PT).
A reviravolta na política fluminense ocorreu depois de o deputado Miro
Teixeira (Pros), apoiado por Eduardo Campos, desistir de sua candidatura
a governador. Sem alternativa no estado, os socialistas decidiram
dividir o palanque com os petistas. O PPS, que deveria apoiar Campos no
estado, já estava aliado ao PSDB de Aécio e, com a decisão, deve
embarcar de vez na candidatura de Pezão.
Nem o cronista carioca Stanislaw Ponte Preta, autor do fabuloso Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) e do Samba do Crioulo Doido, seria capaz de prever a repentina aliança de Cabral com o desafeto Cesar Maia, que dias antes havia espinafrado sua administração no programa de tevê do DEM. Quem mais está esperneando é o prefeito Eduardo Paes (PMDB) — criatura lançada por Maia na política, mas hoje rompida com o criador. Soltou nota criticando a aliança espúria e já está com um pé fora do PMDB, que é a quinta legenda à qual se filiou.
No Rio de Janeiro, o protagonismo do PMDB e do PT contrasta com a situação eleitoral desfavorável de seus candidatos. Segundo o Ibope, em pesquisa encomendada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e realizada entre 7 e 11 de junho, o pré-candidato do PR, o ex-governador Anthony Garotinho, lidera a disputa com 18% das intenções de voto. O senador e ex-ministro Marcelo Crivella (PRB) é seu principal concorrente, com 16%. Ambos são aliados de Dilma. Pezão tem 13% e Lindbergh, 11%. Em quinto, aparecia Cesar Maia (DEM), com 8%. Miro Teixeira (Pros), que desistiu da candidatura, e Tarcísio Motta (PSol) tinham 1% cada.
Esse vale-tudo eleitoral parece incomodar uma parcela expressiva dos eleitores do Rio de Janeiro. É alta a proporção dos que, a três meses e meio da eleição, pretendem votar em branco ou nulo: 27%. Não é à toa também que, à exceção de Crivella, todos os candidatos têm rejeição maior do que a intenção de voto. Garotinho está em primeiro, com 32% de entrevistados que não votariam nele em nenhuma hipótese. Cesar Maia é rejeitado por 24%; Pezão por 18%; e Lindbergh por 14%. Essa tendência também se reproduz em outros estados.
Sonháticos e pragmáticos
Com dificuldades para viabilizar palanques próprios no chamado Triângulo das Bermudas — Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais —, o candidato do PSB, Eduardo Campos, liberou a legenda para fazer o que quiser nos estados, desde que garanta espaço para sua campanha. O objetivo é não atrapalhar a eleição de senadores e deputados. Com isso, a construção de uma “terceira via” a partir de “alianças programáticas”, como exigiam os “sonháticos” de Marina Silva, foi para o beleléu.
A guinada começou com a indicação do vice do governador tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo, como queria o deputado federal Márcio França (PSB), candidato a vice na chapa tucana. O próximo passo será o apoio à candidatura de Pimenta da Veiga, do PSDB, em Minas, com a retirada do nome do deputado Júlio Delgado (PSB), em troca da manutenção do apoio do PSDB ao candidato a governador de Eduardo Campos em Pernambuco, o ex-secretário de Fazenda do estado Paulo Câmara. Os tucanos ameaçam lançar um candidato próprio, o deputado Daniel Coelho, se o PSB apresentar candidato em Minas.
Os conflitos entre “sonháticos” da Rede e os quadros históricos do PSB acabaram inviabilizando palanques alternativos para a dupla Eduardo Campos e Marina Silva. É o caso do Tocantins, onde Marina Silva apoia o procurador licenciado Mario Lúcio Avelar (PPS), mas o PSB fechou com o grupo do ex-governador Siqueira Campos, que renunciou ao mandato e apoia o governador biônico Sandoval Cardoso (SDD), eleito pela Assembleia Legislativa, que concorrerá a reeleição. Às vésperas de completar 86 anos, Siqueira controla o estado desde sua fundação, há 25 anos, e tem conexões em todos os partidos, a ponto de o PMDB intervir na seção regional para garantir a candidatura da senadora Kátia Abreu ao governo.
domingo, 22 de junho de 2014
Dilma, a candidata
Nas Entrelinhas; Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 22/06/2014
Os dirigentes petistas e a própria Dilma foram duros contra a oposição e sinalizaram uma resposta ideológica na campanha aos desafios enfrentados pelo governo
Correio Braziliense: 22/06/2014
Os dirigentes petistas e a própria Dilma foram duros contra a oposição e sinalizaram uma resposta ideológica na campanha aos desafios enfrentados pelo governo
A convenção nacional do PT confirmou
ontem a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, num evento
marcado pela radicalização do discurso político da legenda e da própria
candidata contra os adversários. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva endossou a candidatura, mas deixou no ar, porém, a existência de
divergências entre ambos. Em seus discurso, Dilma fez um apelo à
militância petista: "Eu preciso, sim, de mais quatro anos para poder
completar uma obra à altura dos sonhos do Brasil. Para fazer isso, eu
preciso do apoio dos brasileiros, especialmente desta grande militância.
Precisamos ir às ruas, contar o que fizemos e o que podemos fazer."
Dilma fez discurso de incompreendida: "Quero falar sobre as grande
mudanças que vamos enfrentar. Aliás, não paramos de enfrentar desde o
dia em que tomei posse. Se no início a esperança venceu o medo, nesta
eleição a verdade deve vencer a mentira e a desinformação", disse. Na
verdade, a petista ainda precisa provar aos eleitores que seu governo é
uma continuidade dos dois mandatos de Lula, diante dos atuais índices de
rejeição à candidata (43%, segundo o Ibope) e da queda na avaliação do
governo (31% de ótimo e bom; 34% de regular; e 33% de ruim/pésimo),
mesmo com o sucesso da Copa. Ela procurou responder ao sentimento de 45%
da população de que o atual governo é pior do que o do ex-presidente
Lula (em março, esse percentual era de 42%).
Não se rende
Não foi uma convenção festiva, na linha do "paz e amor" que levou Lula
ao poder. Os dirigentes petistas e a própria Dilma foram duros contra a
oposição e sinalizaram uma resposta ideológica na campanha aos desafios
enfrentados pelo governo na economia, aos desgastes de imagem na opinião
pública e à defecção de aliados da base governista. Depois de citar as
contingências que enfrentou em decorrência da crise mundial, Dilma
anunciou que não pretende mudar o rumo de sua política econômica.
"Não fui eleita para para trair a confiança do meu povo, para arrochar
os salários do trabalhador. Essa não é a minha receita, não fui eleita
para vender o patrimônio público como fizeram no passado, para mendigar
dinheiro para o FMI porque não preciso colocar de novo o país de joelhos
como fizeram. Fui eleita, sim, para governar de pé e com a cabeça
erguida", disse Dilma. Também procurou capitalizar os desgastes do
Congresso e dos políticos na sua proposta de reforma política. Na
essência, é o projeto do PT para institucionalizar a sua própria
hegemonia no Executivo, mesmo em minoria no Congresso.
"A transformação social promovida pelos nossos governos criou as bases
para uma grande transformação democrática e política no Brasil. Nossa
missão é dar vida a essa transformação, sem interromper a marcha da
transformação social em curso. Eu não vejo nenhum caminho para a reforma
política que não passe pela participação popular e que não desague num
grande plebiscito", afirmou a presidente. O discurso do "ódio das
elites" contra o PT também foi lembrado, numa referências aos
xingamentos que sofreu na abertura da Copa do Mundo na Arena
Corinthians, em São Paulo.
Volta, Lula!
Lula minimizou as divergências com Dilma, que nos bastidores da base
governista e do próprio PT alimentaram o movimento "Volta, Lula!". "A
gente vai provar que é possível uma presidenta e um ex-presidente
terminarem seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois, numa
demonstração de que é plenamente possível o criador e a criatura viverem
juntos em harmonia. Quando houver divergência entre a Dilma e eu, a
divergência termina porque a Dilma sempre estará certa e eu estarei
errado", afirmou o ex-presidente. Em encontros com empresários,
políticos aliados e dirigentes petistas porém, Lula tem criticado a
forma como Dilma conduz a economia e se relaciona com os meios
empresariais e políticos. Recentemente, reuniu a cúpula da campanha sem a
presença de Dilma para criticá-la.
Com a convenção, o PT só pode trocar de candidato se Dilma desistir da
disputa formalmente, mas isso não enterrou de vez as esperanças da turma
do "Volta, Lula!". Em termos eleitorais, o prazo para isso é 19 de
agosto, quando começa o horário eleitoral; em termos legais, 15 de
setembro. Por causa da queda nas pesquisas, Dilma vem perdendo apoio
político. Ontem, o PTB rompeu com o governo e anunciou sua adesão ao
candidato do PSDB, Aécio Neves. Por essa razão, não deixa de ser
surpreendente a estrondosa vaia dos militantes presentes à convenção ao
presidente do PSD, Gilberto Kassab, embora o ex-prefeito de São Paulo,
até agora, tenha resistido ao assédio do candidato tucano para que
indique o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a vaga
de vice na chapa do PSDB.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
A "fulanização" do STF
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliene - 19/06/2014
Há 10 agravos regimentais dos advogados dos réus contra decisões que foram tomadas pelo ministro Joaquim Barbosa, que negou o direito de trabalho a Dirceu e cortou o benefício de outros condenados
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, decidiu abandonar a relatoria do processo do mensalão, incluindo o cumprimento das penas e o andamento de ações correlatas. Era sua última tarefa relacionada à Ação Penal 470, que levou à cadeia os dirigentes petistas José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha e outros políticos, como Waldemar da Costa Neto, ex-presidente do PR, e Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB e autor da denúncia de compra de votos no Congresso que deu origem ao processo. De certa forma, Barbosa “desfulaniza” as decisões sobre a execução das penas dos condenados, porque estava sendo acusado de “perseguir” os réus pelos respectivos advogados.
“Julgo que a atitude juridicamente mais adequada neste momento é afastar-me da relatoria de todas as execuções penais oriundas da Ação Penal 470 e dos demais processos vinculados à mencionada ação penal”, alegou o presidente do STF ao deixar o caso. O ministro Luís Roberto Barroso é o novo relator. Foi escolhido por sorteio e pretende pôr em pauta os pedidos de agravo regimental dos réus na próxima semana. “Eu gostaria de entrar no recesso com isso decidido e gostaria de fazê-lo em plenário, na medida do possível”, disse. Ele quer que a Corte decida sob o comando de Barbosa, que havia anunciado a antecipação da aposentadoria. Barbosa será substituído, naturalmente, pelo ministro Ricardo Lewandowski, que assumirá a Presidência do Supremo em seu lugar. Ambos protagonizaram os debates mais acirrados e polêmicos durante o julgamento do mensalão.
O argumento de Barbosa para deixar a relatoria foi a representação criminal que apresentou contra o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende o ex-presidente do PT José Genoino. Um incidente com o defensor, em plena sessão plenária do STF, foi a gota d’água. Pacheco foi à tribuna, indevidamente, para acusar Barbosa de abuso de autoridade e foi retirado do plenário por agentes de segurança, a pedido do presidente da Corte. Queixa-se, Barbosa, de que os advogados que atuam no caso passaram a agir politicamente contra ele, “através de manifestos e, até mesmo, partindo para os insultos pessoais, via imprensa, contra este relator”.
O presidente do STF antecipou-se ao abaixo assinado de 300 pessoas, entre políticos, intelectuais, artistas e líderes de movimentos sociais, que o acusa de “agredir o Estado de Direito”. Os senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e João Capiberibe (PSB-AP), o deputado estadual Campos Machado (PT-SP), as professoras Maria da Conceição Tavares e Walnice Nogueira Galvão, o teólogo Leonardo Boff, o presidente do instituto João Goulart, João Vicente Goulart e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães estão entre as personalidades solidárias com os reús que o subscrevem.
Carismático e polêmico, Barbosa conquistou ampla simpatia da opinião pública como relator do mensalão e passou a ser visto como espécie de reserva moral da nação. Os réus foram condenados pela plenário da Corte, mas, em algumas penas, tiveram direito a novo julgamento, por haver ao menos quatro votos contrários à condenação. Nessa fase derradeira do processo, Barbosa acumulou a presidência do Supremo e o cargo de relator, o que lhe deu grande poder na condução do processo e apoio popular, mas permitiu à defesa dos réus, nos meios jurídicos e políticos, a construção da imagem de que a Corte havia sido “fulanizada”.
Agravos regimentais
Entre os dois julgamentos, houve também uma mudança na composição da Corte, com a entrada de ministros, entre os quais o novo relator, Luís Roberto Barroso, cujas críticas à Ação Penal 470 foram explicitadas já na posse. A nova composição do tribunal abrandou algumas penas no julgamento dos embargos infringentes. A ação organizada dos advogados que atuam no processo, além do jus esperneandis dos réus e a campanha sistemática dos militantes petistas contra Barbosa, dificultaram a atuação monocrática do presidente do STF na execução das penas. Recrudesceram as críticas à suposta “fulanização” da Corte.
Há 10 agravos regimentais dos advogados dos réus contra decisões que foram tomadas pelo ministro Joaquim Barbosa, que negou o direito de trabalho a Dirceu e cortou o benefício de outros condenados ao regime semiaberto, como os ex-deputados João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Seu entendimento é de que os condenados precisam cumprir um sexto da pena antes de obter direto para trabalhar fora da penitenciária, tese contrária ao parecer do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Os advogados pedem que os agravos sejam julgadas por todos os ministros, mas Barbosa não os havia pautado, nem dado previsão de quando isso aconteceria. Ao tratar do assunto, ontem, o ministro Barroso comparou a Ação Penal 470 ao cadáver de um elefante, que é fácil de matar, mas difícil de enterrar.
Correio Braziliene - 19/06/2014
Há 10 agravos regimentais dos advogados dos réus contra decisões que foram tomadas pelo ministro Joaquim Barbosa, que negou o direito de trabalho a Dirceu e cortou o benefício de outros condenados
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, decidiu abandonar a relatoria do processo do mensalão, incluindo o cumprimento das penas e o andamento de ações correlatas. Era sua última tarefa relacionada à Ação Penal 470, que levou à cadeia os dirigentes petistas José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha e outros políticos, como Waldemar da Costa Neto, ex-presidente do PR, e Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB e autor da denúncia de compra de votos no Congresso que deu origem ao processo. De certa forma, Barbosa “desfulaniza” as decisões sobre a execução das penas dos condenados, porque estava sendo acusado de “perseguir” os réus pelos respectivos advogados.
“Julgo que a atitude juridicamente mais adequada neste momento é afastar-me da relatoria de todas as execuções penais oriundas da Ação Penal 470 e dos demais processos vinculados à mencionada ação penal”, alegou o presidente do STF ao deixar o caso. O ministro Luís Roberto Barroso é o novo relator. Foi escolhido por sorteio e pretende pôr em pauta os pedidos de agravo regimental dos réus na próxima semana. “Eu gostaria de entrar no recesso com isso decidido e gostaria de fazê-lo em plenário, na medida do possível”, disse. Ele quer que a Corte decida sob o comando de Barbosa, que havia anunciado a antecipação da aposentadoria. Barbosa será substituído, naturalmente, pelo ministro Ricardo Lewandowski, que assumirá a Presidência do Supremo em seu lugar. Ambos protagonizaram os debates mais acirrados e polêmicos durante o julgamento do mensalão.
O argumento de Barbosa para deixar a relatoria foi a representação criminal que apresentou contra o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende o ex-presidente do PT José Genoino. Um incidente com o defensor, em plena sessão plenária do STF, foi a gota d’água. Pacheco foi à tribuna, indevidamente, para acusar Barbosa de abuso de autoridade e foi retirado do plenário por agentes de segurança, a pedido do presidente da Corte. Queixa-se, Barbosa, de que os advogados que atuam no caso passaram a agir politicamente contra ele, “através de manifestos e, até mesmo, partindo para os insultos pessoais, via imprensa, contra este relator”.
O presidente do STF antecipou-se ao abaixo assinado de 300 pessoas, entre políticos, intelectuais, artistas e líderes de movimentos sociais, que o acusa de “agredir o Estado de Direito”. Os senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e João Capiberibe (PSB-AP), o deputado estadual Campos Machado (PT-SP), as professoras Maria da Conceição Tavares e Walnice Nogueira Galvão, o teólogo Leonardo Boff, o presidente do instituto João Goulart, João Vicente Goulart e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães estão entre as personalidades solidárias com os reús que o subscrevem.
Carismático e polêmico, Barbosa conquistou ampla simpatia da opinião pública como relator do mensalão e passou a ser visto como espécie de reserva moral da nação. Os réus foram condenados pela plenário da Corte, mas, em algumas penas, tiveram direito a novo julgamento, por haver ao menos quatro votos contrários à condenação. Nessa fase derradeira do processo, Barbosa acumulou a presidência do Supremo e o cargo de relator, o que lhe deu grande poder na condução do processo e apoio popular, mas permitiu à defesa dos réus, nos meios jurídicos e políticos, a construção da imagem de que a Corte havia sido “fulanizada”.
Agravos regimentais
Entre os dois julgamentos, houve também uma mudança na composição da Corte, com a entrada de ministros, entre os quais o novo relator, Luís Roberto Barroso, cujas críticas à Ação Penal 470 foram explicitadas já na posse. A nova composição do tribunal abrandou algumas penas no julgamento dos embargos infringentes. A ação organizada dos advogados que atuam no processo, além do jus esperneandis dos réus e a campanha sistemática dos militantes petistas contra Barbosa, dificultaram a atuação monocrática do presidente do STF na execução das penas. Recrudesceram as críticas à suposta “fulanização” da Corte.
Há 10 agravos regimentais dos advogados dos réus contra decisões que foram tomadas pelo ministro Joaquim Barbosa, que negou o direito de trabalho a Dirceu e cortou o benefício de outros condenados ao regime semiaberto, como os ex-deputados João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Seu entendimento é de que os condenados precisam cumprir um sexto da pena antes de obter direto para trabalhar fora da penitenciária, tese contrária ao parecer do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Os advogados pedem que os agravos sejam julgadas por todos os ministros, mas Barbosa não os havia pautado, nem dado previsão de quando isso aconteceria. Ao tratar do assunto, ontem, o ministro Barroso comparou a Ação Penal 470 ao cadáver de um elefante, que é fácil de matar, mas difícil de enterrar.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Alianças esgarçadas
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 18/06/2014
Correio Braziliense - 18/06/2014
Dilma Rousseff enfrenta o desafio de
administrar os conflitos com o PMDB em âmbito regional. Na cúpula de sua
campanha, porém, prevalece a tese de que o mais importante foi obtido com Michel Temer na vice : o tempo de televisão do aliado.
Caso o cenário eleitoral se mantenha durante a Copa do Mundo tal qual
estava ao começarem os jogos, as disputas regionais formarão um grande
xadrez político para a reeleição da presidente Dilma Rousseff,
principalmente, porque a média das pesquisas de intenção de voto reforça
a expectativa de segundo turno. “A presidente Dilma Rousseff caiu,
entre março e junho, 4 pontos percentuais, passando de 41,5% para 36,4%.
Aécio Neves (PSDB) cresceu 7,3% e Eduardo Campos (PSB), 2,9 pontos”,
ressalta o cientista político Murillo de Aragão, confrontando
levantamentos dos diversos institutos de pesquisa. No mesmo período, “a
soma dos adversários de Dilma passou de 22,5% para 34,9%”.
Nas simulações de segundo turno contra Aécio, Dilma caiu de 47% para 41,9%, entre março e abril. Aécio passou de 20% para 34,6%, ou seja, apresentou um crescimento de 14,6 pontos percentuais. Com isso, segundo Aragão, a vantagem da presidente sobre seu principal oponente diminuiu de 27 pontos para 7,3. Dilma também viu sua vantagem contra Eduardo Campos cair de forma significativa. Em março, a média das pesquisas indicava a presidente com 47% das intenções de voto contra 16% de Eduardo. Em junho, Dilma aparece com 41,8% e o candidato do PSB, 29,6%. Ou seja, passou de 31 pontos para 12,2 pontos.
A situação eleitoral se complicou para a presidente Dilma Rousseff, mas
não a ponto de inviabilizar a sua reeleição, ainda que o “Volta, Lula”
continue sendo um “espectro fantasmagórico” no Palácio do Planalto. O
ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, desde a convenção
do PT em São Paulo, assumiu o protagonismo da campanha petista,
ofuscando a presidente no debate eleitoral com o PSDB.
Além dos desgastes decorrentes da alta da inflação e das deficiências dos serviços prestados à população na saúde, nos transportes e na segurança pública, principalmente, Dilma Rousseff enfrenta o desafio de administrar os conflitos com o PMDB em âmbito regional. Na cúpula de sua campanha, porém, prevalece a tese de que o mais importante na relação com o aliado já foi obtido com a manutenção de Michel Temer na vice da chapa da reeleição: o tempo de televisão. Essa vantagem estratégica compensaria as dificuldades criadas nos estados pelos caciques peemedebistas com os quais o PT está em confronto. O chamado palanque eletrônico dispensaria a presença física desses aliados rebeldes na campanha.
Problemas regionais
Essa lógica comandou a decisão de Dilma no sentido de jogar fora do barco de sua reeleição o senador Eunício de Oliveira (PMDB), candidato favorito ao governo do Ceará. O PT esperou a convenção do PMDB sacramentar a coligação formal para fechar o acordo com o Pros do governador Cid Gomes e do ex-ministro Ciro Gomes. Os dois aliados deixaram o PSB para apoiar a reeleição de Dilma, que honrou o compromisso com a dupla de políticos cearenses. Eunício, diante da decisão, busca uma chapa com o ex-senador tucano Tasso Jereissati, que concorrerá ao Senado. É meio caminho para apoiar Aécio Neves.
Outros estados, como o Rio de Janeiro, fazem parte da lista em que há palanque duplo: Amapá, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina e Paraná. No Rio, o governador Luiz Fernando Pezão e o ex-governador Sérgio Cabral, candidato ao Senado, estão na campanha de Dilma, mas a direção regional comandada pelo ex-deputado Jorge Picciani já embarcou na campanha de Aécio Neves porque o PT manteve a candidatura de Lindbergh Farias, que é o quarto nas pesquisas.
Em São Paulo, o candidato da legenda, Paulo Skaf, hoje o principal adversário do governador Geraldo Alckmin (PSDB), já mandou recado de que não pretende ceder o palanque à Dilma. Na Bahia, o PMDB apoia a candidatura de Paulo Souto (DEM) contra o petista Rui Costa. No Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB) confronta o governador, Tarso Genro, que concorre à reeleição. Também há polarização entre PMDB e PT em Goiás, onde Iris Rezende (PMDB) enfrenta Antônio Gomide (PT); e em Mato Grosso do Sul, com a disputa entre Nelson Trad Filho (PMDB) e Delcídio Amaral (PT). No Acre, Bahia e Piauí, o PMDB está engajado na campanha de Aécio Neves (PSDB); em Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Roraima, os caciques do PMDB apoiam a candidatura de Eduardo Campos (PSB).
A aliança só está estabilizada no Distrito Federal e em Minas Gerais, onde o PMDB apoia as candidaturas do governador Agnelo Queiroz e do ex-ministro Fernando Pimentel, respectivamente, e nos estados de Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraíba, Sergipe e Tocantins, nos quais o PT pretende apoiar o PMDB.
terça-feira, 17 de junho de 2014
Deixa a bola rolar…
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 17/06/2014
Na primeira rodada dos jogos, o alto nível do futebol praticado destoa da baixaria na nossa política. No momento, o povo não está nem aí para os políticos
No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio, dizia Nelson Rodrigues; no Itaquerão, em São Paulo, além de vaiar, a torcida xingou a presidente Dilma Rousseff com palavras de baixo calão. A atitude extrapolou o que seria “normal” numa partida de futebol, ainda mais porque o alvo era a presidente da República. Havia muitos chefes de Estado na cerimônia, que foi acompanhada ao vivo por torcedores do mundo inteiro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agarrou a vaia com as duas mãos — se é que isso é possível, mesmo no sentido figurado — e interpretou o episódio como declaração de guerra das “elites” que “não têm calos nas mãos” contra o PT e os trabalhadores.
A convenção nacional do PSDB, no sábado, pôs mais lenha na fogueira. O senador Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o evento, subiram o tom das críticas ao governo de Dilma Rousseff e ao PT. A resposta de Lula no domingo, na convenção que homologou a candidatura ao governo de São Paulo do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, foi um tom acima. O petista saiu em defesa da presidente Dilma Rousseff e desceu o sarrafo nos adversários, principalmente em Fernando Henrique, acusando-o de ter comprado os votos do Congresso que aprovaram a reeleição. De quebra, disse que os tucanos tramaram seu impeachment por ocasião do escândalo do mensalão.
Fernando Henrique não deixou barato, ontem repeliu as acusações: “Lamento que o ex-presidente Lula tenha levado a campanha eleitoral para níveis tão baixos. Na convenção do PSDB não acusei ninguém; disse que queria ver os corruptos longe de nós. Não era preciso vestir a carapuça. A acusação de compra de votos na emenda da reeleição não se sustenta: ninguém teve a coragem de levar essa falsidade à Justiça”, escreveu em sua conta pessoal de uma rede social.
A vaia tirou o PT do sério, embora Dilma mantenha-se afastada dos estádios; a oposição tira casquinha e avalia que a torcida pela Seleção Brasileira não se traduz em apoio ao governo. E lembra que o ex-presidente Lula já usou de ofensas e palavrões para se referir a dois presidentes da República: atingiu a honra de José Sarney, hoje um aliado de primeira hora; e também ofendeu o presidente Itamar Franco, em 1993.
Confraternização
Imaginava-se que a Copa do Mundo congelaria a disputa eleitoral, com a presidente Dilma Rousseff mantendo distância regulamentar dos jogos e a oposição mergulhada esperando o resultado final do Mundial — todos torcendo para o mesmo lado. Não é o que está acontecendo. Além da tabela dos jogos, existe um calendário eleitoral que movimenta os partidos políticos. As chapas proporcionais e as coligações para as eleições de governador e presidente da República precisam ser formadas até o fim do mês. A luta pelo poder central e nos estados segue o seu curso natural, mesmo com o torneio.
No Palácio do Planalto, há divergências quanto ao procedimento a ser adotado diante da situação. A estratégia de uma presença discreta de Dilma na Copa foi por água abaixo depois do que aconteceu no Itaquerão. Discute-se uma postura mais ofensiva, a partir de uma avaliação de que a vitória do Brasil contra Croácia desencantou a torcida brasileira. A ideia é fazer do limão uma limonada. Pesquisas mostram desaprovação aos xingamentos da torcida e maciço apoio da opinião pública aos jogadores da equipe canarinho. Além disso, as cidades sedes da Copa — apesar dos protestos persistentes, mas residuais — estão em festa com a presença de grande número de torcedores estrangeiros, todos recebidos de braços abertos.
Na verdade, a Copa é um sucesso como evento internacional, seja pela presença expressiva de torcedores de todos os países, seja pelo engajamento da torcida brasileira. Não houve caos nos aeroportos, os torcedores conseguem chegar aos estádios com poucos incidentes. E há uma confraternização geral, que se estende noite adentro. Na primeira rodada dos jogos, o alto nível do futebol praticado destoa da baixaria na nossa política. No momento, o povo não está nem aí para os políticos. Está de olho na Seleção Brasileira. E nas equipes da Alemanha, da Argentina, da França, da Holanda e da Itália, que também despontam como candidatas ao título. É nelas que mora o perigo.
Correio Braziliense - 17/06/2014
Na primeira rodada dos jogos, o alto nível do futebol praticado destoa da baixaria na nossa política. No momento, o povo não está nem aí para os políticos
No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio, dizia Nelson Rodrigues; no Itaquerão, em São Paulo, além de vaiar, a torcida xingou a presidente Dilma Rousseff com palavras de baixo calão. A atitude extrapolou o que seria “normal” numa partida de futebol, ainda mais porque o alvo era a presidente da República. Havia muitos chefes de Estado na cerimônia, que foi acompanhada ao vivo por torcedores do mundo inteiro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agarrou a vaia com as duas mãos — se é que isso é possível, mesmo no sentido figurado — e interpretou o episódio como declaração de guerra das “elites” que “não têm calos nas mãos” contra o PT e os trabalhadores.
A convenção nacional do PSDB, no sábado, pôs mais lenha na fogueira. O senador Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o evento, subiram o tom das críticas ao governo de Dilma Rousseff e ao PT. A resposta de Lula no domingo, na convenção que homologou a candidatura ao governo de São Paulo do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, foi um tom acima. O petista saiu em defesa da presidente Dilma Rousseff e desceu o sarrafo nos adversários, principalmente em Fernando Henrique, acusando-o de ter comprado os votos do Congresso que aprovaram a reeleição. De quebra, disse que os tucanos tramaram seu impeachment por ocasião do escândalo do mensalão.
Fernando Henrique não deixou barato, ontem repeliu as acusações: “Lamento que o ex-presidente Lula tenha levado a campanha eleitoral para níveis tão baixos. Na convenção do PSDB não acusei ninguém; disse que queria ver os corruptos longe de nós. Não era preciso vestir a carapuça. A acusação de compra de votos na emenda da reeleição não se sustenta: ninguém teve a coragem de levar essa falsidade à Justiça”, escreveu em sua conta pessoal de uma rede social.
A vaia tirou o PT do sério, embora Dilma mantenha-se afastada dos estádios; a oposição tira casquinha e avalia que a torcida pela Seleção Brasileira não se traduz em apoio ao governo. E lembra que o ex-presidente Lula já usou de ofensas e palavrões para se referir a dois presidentes da República: atingiu a honra de José Sarney, hoje um aliado de primeira hora; e também ofendeu o presidente Itamar Franco, em 1993.
Confraternização
Imaginava-se que a Copa do Mundo congelaria a disputa eleitoral, com a presidente Dilma Rousseff mantendo distância regulamentar dos jogos e a oposição mergulhada esperando o resultado final do Mundial — todos torcendo para o mesmo lado. Não é o que está acontecendo. Além da tabela dos jogos, existe um calendário eleitoral que movimenta os partidos políticos. As chapas proporcionais e as coligações para as eleições de governador e presidente da República precisam ser formadas até o fim do mês. A luta pelo poder central e nos estados segue o seu curso natural, mesmo com o torneio.
No Palácio do Planalto, há divergências quanto ao procedimento a ser adotado diante da situação. A estratégia de uma presença discreta de Dilma na Copa foi por água abaixo depois do que aconteceu no Itaquerão. Discute-se uma postura mais ofensiva, a partir de uma avaliação de que a vitória do Brasil contra Croácia desencantou a torcida brasileira. A ideia é fazer do limão uma limonada. Pesquisas mostram desaprovação aos xingamentos da torcida e maciço apoio da opinião pública aos jogadores da equipe canarinho. Além disso, as cidades sedes da Copa — apesar dos protestos persistentes, mas residuais — estão em festa com a presença de grande número de torcedores estrangeiros, todos recebidos de braços abertos.
Na verdade, a Copa é um sucesso como evento internacional, seja pela presença expressiva de torcedores de todos os países, seja pelo engajamento da torcida brasileira. Não houve caos nos aeroportos, os torcedores conseguem chegar aos estádios com poucos incidentes. E há uma confraternização geral, que se estende noite adentro. Na primeira rodada dos jogos, o alto nível do futebol praticado destoa da baixaria na nossa política. No momento, o povo não está nem aí para os políticos. Está de olho na Seleção Brasileira. E nas equipes da Alemanha, da Argentina, da França, da Holanda e da Itália, que também despontam como candidatas ao título. É nelas que mora o perigo.
domingo, 15 de junho de 2014
Candidato café com leite
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/06/2014
Aécio conquistou a unidade da legenda sem ceder a vice na composição interna. Seu companheiro de chapa pode ter um cacife decisivo para a eleição.
A convenção nacional do PSDB confirmou ontem o nome do senador Aécio
Neves (MG) como candidato da legenda à Presidência da República nas
eleições de outubro. O político mineiro conseguiu a proeza de unir a
legenda, incorporando à candidatura a ala ligada ao ex-governador José
Serra, com quem havia disputado o comando do partido. Aécio chegou à
convenção com 22% de intenções de votos, segundo o último Ibope, o que
lhe garante a condição de principal adversário da presidente Dilma
Rousseff, que, na mesma pesquisa, tem 38%. Aécio deixou para trás o
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, que tem 13%.
O candidato tucano busca reconstruir a aliança de Minas com São Paulo,
uma relação que sempre foi tensa, desde o fim da chamada política café
com leite, na República Velha. Na Revolução de 1930, o governador
mineiro Antônio Carlos apoiou o movimento armado que levou o gaúcho
Getúlio Vargas ao poder, impedindo a posse do paulista Júlio Prestes,
que fora eleito a "bico de pena", derrotando a Aliança Liberal. Na
Revolução Constitucionalista de 1932, tropas mineiras também marcharam
contra São Paulo.
A elite paulista, mesmo derrotada, sempre buscou o próprio protagonismo,
com o cacife de que quem abdicou do patrimonialismo para investir na
industrialização, o que transformou o estado na "locomotiva do Brasil".
Aécio seduziu os eleitores paulistas.
Entre os 31,8 milhões de eleitores de São Paulo, que representam 22% do
total, pesquisa Datafolha mostrou que Aécio Neves (PSDB) venceria Dilma
Rousseff por 46% a 34%. É um desempenho espetacular para quem enfrentava
forte oposição dos políticos no estado, não somente do PT, mas dentro
de sua própria legenda.
Sonho mineiro
Aécio encarna o sonho dos mineiros de voltar ao centro do poder,
reeditando os anos dourados do governo de Juscelino Kubitschek, na
década de 1950. Esse sonho foi frustrado pelo regime militar e, depois,
pela morte de Tancredo Neves, apesar dos dois anos de mandato de Itamar
Franco. Mesmo mineira, Dilma Rousseff não representa esses interesses. A
estratégia de Aécio Neves para unir o PSDB foi resgatar o legado
político e institucional do governo de Fernando Henrique Cardoso, mesmo
correndo o risco de restabelecer um tipo de polarização que levou os
tucanos à derrota em 2002 (com José Serra), 2006 (com Geraldo Alckmin) e
2010 (com Serra, novamente).
Nessas três eleições, foi responsabilizado pela derrota, acusado de
fazer corpo mole na campanha, o que sempre negou. Ontem, o ex-governador
José Serra, o senador Aloysio Nunes (SP) e o ex-governador Alberto
Goldman, que sempre o criticaram, estavam na convenção, firmes com
Aécio, ao lado de Fernando Henrique e dos governadores Alckmin (SP),
Marconi Perillo (GO), Teotonio Vilela (AL) e Beto Richa (PR).
Ao som do Hino Nacional lembrou o avô Tancredo Neves, eleito presidente
da República pelo colégio eleitoral em 1984, mas que morreu antes de
assumir. Fez rasgados elogios ao PSDB na gestão FHC: "Transformamos a realidade brasileira de forma permanente com o Plano
Real. O Real recuperou a confiança do Brasil em si próprio..." Para
contrariedade da presidente Dilma, voltou a dizer que o DNA do Bolsa
Família é tucano: "Criamos os primeiros programas de transferência de
renda e benefícios sociais, aquilo que se tomou depois o Bolsa Família".
O principal artífice de sua candidatura foi Fernando Henrique: "Posso
dizer, do alto dos meus 83 anos, que o Brasil precisa de um líder
jovem", disse. Hábil nas articulações políticas, o ex-governador mineiro
faz uma aposta arriscada ao centralizar sua estratégia na economia e
não na política, mas talvez seja essa a única via para chegar ao
Planalto: "Nossos adversários mantiveram a coerência. Quem foi contra o
Plano Real é quem hoje não controla a inflação. Quem foi contra a Lei de
Responsabilidade Fiscal é quem hoje assina essa contabilidade maldita,
disparou.
O ex-governador de Minas costuma dizer que sua bala de prata é a escolha
do vice, opção que já foi feita tanto pela presidente Dilma Rousseff,
que manteve Michel Temer na sua chapa como representante do PMDB, como
por Eduardo Campos, que cresce com a ex-senadora Marina Silva na vice.
Um dos nomes possíveis é o do ex-governador José Serra, que ontem
reiterou seu apoio a Aécio: "Este espírito de mudança, Aécio, que agora
converge para a sua candidatura, é o desdobramento de uma longa jornada
no Brasil". Mas descartou seu nome na chapa. É candidato ao Senado ou à
Câmara.
Aécio conquistou a unidade da legenda sem ceder a vice na composição
interna. Seu companheiro de chapa pode ter um cacife decisivo para a
eleição. Estão cotados o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati e a
ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie, que é
gaúcha, além do senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, todos do PSDB.
Entre os aliados, desponta o senador José Agripino Maia (RN), presidente
do DEM. A bala de prata seria um vice capaz de atrair para sua
coligação mais uma legenda. O PSD, de Gilberto Kassab, por exemplo.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
ABC da Copa
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 12/06/2014
A Seleção é a pátria de
chuteiras, como dizia Nelson Rodrigues, mas, pela primeira vez, o
futebol perdeu o consenso nacional. Nem durante a ditadura militar isso
ocorreu
Alegria, beleza, criatividade, diversidade e emoção são ingredientes
básicos dos eventos esportivos. Na era da globalização, graças ao
marketing, agregam valor às marcas, lideram o consumo de massas e
garantem conteúdo audiovisual barato para a mídia, que é financiada pela
venda de produtos e serviços associados diretamente à prática esportiva
ou ao esporte como entretenimento. Essa indústria vende diversão e
lazer, alimentos, bebidas, crédito, equipamentos, vestuário, serviços
turísticos e tudo o mais que possa estar associado às multidões
envolvidas. É uma fórmula mágica, na qual a Copa do Mundo de Futebol
desponta como o maior e mais bem-sucedido evento mundial.
Uma vez em operação, essa engrenagem funciona como um rolo compressor, capaz de esmagar todos os obstáculos à sua frente, como aconteceu com o movimento “Não vai ter Copa”, iniciado durante a realização da Copa das Confederações, paralelamente aos protestos contra aumento das tarifas de transporte público que resultaram nas grandes manifestações populares do ano passado. As exigências e pressões da Fifa para que as arenas e a organização do evento obedecessem aos padrões internacionais acabaram virando um mote para as exigências dos cidadãos em relação à qualidade dos serviços públicos. A entidade lucrará R$ 10 bilhões com o evento, mas o governo brasileiro passou por grandes constrangimentos.
Manus militari
Devido aos protestos, o jeito foi acionar a mão pesada do Estado para garantir a realização dos jogos e a segurança dos torcedores, principalmente estrangeiros, com a mobilização de tropas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A presidente Dilma Rousseff garantiu manus militari à realização dos jogos. A Seleção é a pátria de chuteiras, como dizia Nelson Rodrigues, mas, pela primeira vez, o futebol perdeu o consenso nacional. Nem durante a ditadura militar isso ocorreu.
Dilma foi à televisão e ao rádio criticar os “pessimistas”. Eles são 63% dos paulistas, os anfitriões do jogo de abertura da Copa. Resultado: não quer aparecer no telão, não quer fazer discurso na abertura dos jogos, não quer sequer ser citada na cerimônia que reunirá chefes de estados e autoridades esportivas para assistir o Brasil jogar contra a Croácia. É uma situação no mínimo estranha. Por que será?
Ora, num momento em que o país apresenta baixo crescimento e inflação em alta, um estudo da Consultoria Legislativa do Senado Federal mostrou que estamos realizando a Copa do Mundo mais cara de todos os tempos. Os campeonatos no Japão e na Coreia (2002), na Alemanha (2006) e na África do Sul (2010) consumiram, juntos, US$ 30 bilhões, de um total de US$ 75 bilhões desde o primeiro evento do tipo. No Brasil, os gastos com as obras somam aproximadamente US$ 40 bilhões. “Além de servir ao futebol, serão estádios multiúso. Vão funcionar também como centros comerciais, de negócios e de lazer, e palcos de shows e festas populares”, justificou a presidente Dilma Rousseff em seu pronunciamento. Será?
Os 12 estádios da Copa do Mundo de 2014 custaram 42% a mais do que o previsto em seus projetos iniciais. O valor total dos estádios subiu dos R$ 5,97 bilhões para R$ 8,48 bilhões de reais. O custo do Beira-Rio cresceu 169% entre o projeto em 2010 e a inauguração, em 2014. O Mané Garrincha, mais caro estádio da Copa de 2014, considerando o valor por assento, aumentou 87,8%. O único estádio que teve o custo final mais baixo do que o previsto foi o Castelão, no Ceará. O senso comum da população é de que esses gastos não eram prioritários. Como não foi consultada pelo governo, quando o Brasil pleiteou a sede do evento, não se pode exigir da maioria da população que concorde com essa decisão.
É lógico que nada disso impede os “pessimistas” de torcerem pelo sucesso da Seleção como os demais torcedores, nem de ir aos jogos; a vantagem de assisti-los aqui no Brasil é reservada a uma elite, não muda o cenário para a maioria da população, que acompanhará o evento pela televisão. “Construímos, ampliamos ou reformamos aeroportos, portos, avenidas, viadutos, pontes, vias de trânsito rápido e avançados sistemas de transporte público. Fizemos isso, em primeiro lugar, para os brasileiros. Tenho repetido que os aeroportos, os metrôs, os BRTs e os estádios não voltarão na mala dos turistas. Ficarão aqui, beneficiando a todos nós”, contra-argumenta a presidente Dilma Rousseff.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, diria um espírito de porco. Tudo isso deveria ser feito independentemente da Copa do Mundo. Agora, porém, é hora de torcer pela Seleção e deixar o assunto pra depois. Ou seja, para as eleições.
Algo deu errado em Sampa
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 11/06/2014
A estratégia traçada pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para tomar dos tucanos o Palácio dos Bandeirantes e,
simultaneamente, reeleger Dilma no primeiro turno está naufragando
De todas as notícias negativas para a campanha à reeleição da presidente
Dilma Rousseff, até agora, a pior foi o resultado da pesquisa Datafolha
em São Paulo, na qual a petista perderia a eleição no segundo turno por
ampla margem. Entre os 31,8 milhões de eleitores paulistas, que
representam 22% do total, Aécio Neves (PSDB) a venceria por 46% a 34%;
Eduardo Campos (PSB), mesmo sem palanque local, por 43% a 34%. A
pesquisa mostra que a estratégia traçada pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para tomar dos tucanos o Palácio dos Bandeirantes e,
simultaneamente, reeleger Dilma no primeiro turno está naufragando.
Lula tentou repetir no maior colégio eleitoral do país a mesma estratégia vitoriosa nas eleições da capital paulista, na qual conseguiu eleger o ex-ministro da Educação Fernando Haddad prefeito de São Paulo. Um ano e meio após tomar posse, o jovem administrador não conseguiu bom desempenho como gestor e amarga baixos índices de aprovação. Ou seja, é um péssimo cabo eleitoral para Dilma Rousseff. Deixou de ser também um trampolim para o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, o candidato do PT ao Palácio dos Bandeirantes, que ainda não conseguiu decolar e permanece com apenas 3% dos votos. Lula acreditava que ele repetiria a performance de Haddad, quando nada porque o patamar de votos petistas estimado pelos analistas seria de 30%.
Com os desgastes do governo federal com os paulistas — tem apenas 23% de aprovação —, a rejeição de Dilma em São Paulo chega a 46%, quando a média nacional é de 32%, o que é considerado mortal para qualquer candidato pelos marqueteiros. A opção de Dilma no estado seria uma aproximação com o candidato do PMDB, Paulo Skaf, que tem 21% da preferência. O ex-prefeito Gilberto Kassab, outro aliado, com 4% dos votos, já deriva para a oposição.
Surpreendentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em meio à onda de greves e protestos violentos, tem 44% das intenções de voto e venceria no primeiro turno. Isso é improvável, mas já não se pode dizer que é impossível. A radicalização do movimento sindical no setor público, como na greve do Metrô, parece beneficiar o tucano, que joga duro com o movimento paredista e capitaliza a insatisfação da grande massa de usuários prejudicada pelo vandalismo e a perturbação da vida urbana.
O padrinho da candidatura de Skaf em São Paulo é o vice-presidente Michel Temer, que espera ver o outrora poderoso PMDB de Ulysses Guimarães e Orestes Quércia renascer das cinzas, como Fênix. A lógica para o Palácio do Planalto seria o PT retirar a candidatura de Padilha e apoiar Skaf, numa chapa que poderia ter o ex-ministro na vice e o senador Eduardo Suplicy como candidato a mais um mandato. Mas isso é tratado como uma capitulação pela seção paulista da legenda, que conta com lideranças eleitoralmente robustas, como a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, sem falar no ex-presidente Lula.
Lula tentou repetir no maior colégio eleitoral do país a mesma estratégia vitoriosa nas eleições da capital paulista, na qual conseguiu eleger o ex-ministro da Educação Fernando Haddad prefeito de São Paulo. Um ano e meio após tomar posse, o jovem administrador não conseguiu bom desempenho como gestor e amarga baixos índices de aprovação. Ou seja, é um péssimo cabo eleitoral para Dilma Rousseff. Deixou de ser também um trampolim para o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, o candidato do PT ao Palácio dos Bandeirantes, que ainda não conseguiu decolar e permanece com apenas 3% dos votos. Lula acreditava que ele repetiria a performance de Haddad, quando nada porque o patamar de votos petistas estimado pelos analistas seria de 30%.
Com os desgastes do governo federal com os paulistas — tem apenas 23% de aprovação —, a rejeição de Dilma em São Paulo chega a 46%, quando a média nacional é de 32%, o que é considerado mortal para qualquer candidato pelos marqueteiros. A opção de Dilma no estado seria uma aproximação com o candidato do PMDB, Paulo Skaf, que tem 21% da preferência. O ex-prefeito Gilberto Kassab, outro aliado, com 4% dos votos, já deriva para a oposição.
Surpreendentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em meio à onda de greves e protestos violentos, tem 44% das intenções de voto e venceria no primeiro turno. Isso é improvável, mas já não se pode dizer que é impossível. A radicalização do movimento sindical no setor público, como na greve do Metrô, parece beneficiar o tucano, que joga duro com o movimento paredista e capitaliza a insatisfação da grande massa de usuários prejudicada pelo vandalismo e a perturbação da vida urbana.
O padrinho da candidatura de Skaf em São Paulo é o vice-presidente Michel Temer, que espera ver o outrora poderoso PMDB de Ulysses Guimarães e Orestes Quércia renascer das cinzas, como Fênix. A lógica para o Palácio do Planalto seria o PT retirar a candidatura de Padilha e apoiar Skaf, numa chapa que poderia ter o ex-ministro na vice e o senador Eduardo Suplicy como candidato a mais um mandato. Mas isso é tratado como uma capitulação pela seção paulista da legenda, que conta com lideranças eleitoralmente robustas, como a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, sem falar no ex-presidente Lula.
Em tempo
O Ibope divulgou nova pesquisa de intenção de voto para Presidente da República, realizada de 4 a 7 de junho, na qual Dilma Rousseff (PT) teria 38% das intenções de voto contra 22% de Aécio Neves (PSDB) na simulação do primeiro turno. Eduardo Campos (PSB) aparece em terceiro lugar com 13%. A pesquisa fez recrudescer as críticas à atuação do governo de parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que agora fala publicamente contra a gestão econômica. A expectativa de continuidade da atual política econômica começa a ser vista como um fator de negativo na estratégia de reeleição, mas a presidente Dilma Rousseff resiste às mudanças na equipe. Os candidatos de oposição, principalmente Aécio Neves, ganham cada vez mais apoio no meio empresarial por causa disso .
O Ibope divulgou nova pesquisa de intenção de voto para Presidente da República, realizada de 4 a 7 de junho, na qual Dilma Rousseff (PT) teria 38% das intenções de voto contra 22% de Aécio Neves (PSDB) na simulação do primeiro turno. Eduardo Campos (PSB) aparece em terceiro lugar com 13%. A pesquisa fez recrudescer as críticas à atuação do governo de parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que agora fala publicamente contra a gestão econômica. A expectativa de continuidade da atual política econômica começa a ser vista como um fator de negativo na estratégia de reeleição, mas a presidente Dilma Rousseff resiste às mudanças na equipe. Os candidatos de oposição, principalmente Aécio Neves, ganham cada vez mais apoio no meio empresarial por causa disso .
Com a mão
A presidente Dilma aproveitou a Copa do Mundo para um pronunciamento ontem em cadeia nacional de televisão no qual fez ampla propaganda de seu governo, a pretexto de saudar as seleções que participam dos jogos. Em tom triunfalista, rebateu os que criticam seu governo. Dilma procurou neutralizar os desgastes que vêm sofrendo por causa dos protestos contra a Copa no Brasil, o que contribuiu para sua queda nas pesquisas.
A presidente Dilma aproveitou a Copa do Mundo para um pronunciamento ontem em cadeia nacional de televisão no qual fez ampla propaganda de seu governo, a pretexto de saudar as seleções que participam dos jogos. Em tom triunfalista, rebateu os que criticam seu governo. Dilma procurou neutralizar os desgastes que vêm sofrendo por causa dos protestos contra a Copa no Brasil, o que contribuiu para sua queda nas pesquisas.
Do jeito que o PMDB gosta
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 10/06/2014
Dilma Rousseff quer o tempo de televisão do PMDB, mas também quer ser menos dependente da legenda no Congresso. Para isso, precisa mudar a correlação de forças no Senado e na Câmara, o que significa debilitar o PMDB eleitoralmente
O PMDB faz sua convenção nacional hoje, dividido como sempre. Uma ala majoritária apoia o governo e outra deriva para a oposição. A seção mais poderosa da legenda, o Rio de Janeiro, que trabalha a dobradinha “Aezão”, entrou com tudo na campanha do senador Aécio Neves, o pré-candidato do PSDB. Outra, liderada pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), vai de Eduardo Campos, do PSB. Quem mais se fortalece com a divisão, porém, é o vice-presidente da República, Michel Temer, que comanda o grupo majoritário e confirmará seu nome na chapa. Hoje, devido à queda nas pesquisas, a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição é refém do apoio formal do PMDB. Se isso lhe for negado, como querem os dissidentes, o “Volta, Lula”, que é uma espécie de brasa adormecida, renascerá das cinzas. Basta um sopro para virar um fogaréu.
Não deixa de ser uma grande ironia. Michel Temer foi muito hostilizado pela turma que cerca a presidente Dilma Rousseff, que nunca incorporou o aliado ao seu estado-maior. Pelo contrário, manteve-o sempre à margem do centro de decisões. Toda vez que o circo pegou fogo no Congresso, porém, foi a ele que o Palácio do Planalto teve de recorrer para estabilizar a base governista. É uma situação recorrente desde a campanha do impeachment de Collor: ninguém governa sem o apoio do PMDB. Quando o PMDB está dividido, entretanto, cresce a força de Michel Temer como fiador da aliança com o PT. Há outros caciques governistas com luz própria na legenda, a começar pelo ex-presidente José Sarney, mas o vice-presidente da República é hábil e paciente, sabe navegar em meio aos espinhéis nas águas turvas da legenda.
Isso significa que a presidente Dilma se deixou seduzir pelo PMDB? Não, é um casamento de conveniências, no qual o maior interesse é o tempo de televisão da legenda. A cúpula do PMDB sabe disso, mas vê na queda das pesquisas a oportunidade de exigir compromissos que até agora não conseguiu arrancar do PT. O caso mais emblemático é o do Ceará, onde o senador Eunício de Oliveira é candidato ao governo e ameaçava se baldear para a oposição. Dilma tem compromisso com o governador Cid Gomes (Pros) e o irmão dele Ciro, que se recusam a apoiar o aliado do PMDB. É uma situação complexa, que se repete em menor ou maior grau em outros estados. Bom cabrito, Eunício não esperneia como Jorge Picciani, que comanda o PMDB fluminense e já desembarcou da canoa governista. Mas quem o conhece sabe que tem sangue nos olhos, não vai deixar barato se o PT apoiar outro candidato no seu estado.
Dilma Rousseff quer o tempo de televisão do PMDB, mas também quer ser menos dependente da legenda no Congresso. Para isso, precisa mudar a correlação de forças no Senado e na Câmara, o que significa debilitar o PMDB eleitoralmente. Onde isso está sendo feito pelo avanço do PT, a reação dos caciques locais já está em curso e deve se expressar por meio da resistência à coligação, durante a convenção. Pode não ter peso inviabilizar o apoio formal à Dilma, mas, eleitoralmente, o estrago será grande. As dissidências estão a abrir caminho para a “cristianização” da petista caso a eleição vá para o segundo turno.
Vai ter Copa
A imagem do Brasil no exterior vai de mau a pior por causa dos protestos contra a Copa do Mundo, da violência e das greves em serviços essenciais. Apesar da intensa campanha de marketing dos patrocinadores do evento, o noticiário sobre o Brasil é muito negativo. O Palácio do Planalto perdeu a batalha no front externo, mas isso não significa que tenha perdido a guerra. Tudo dependerá do desempenho dos organizadores dos jogos e da eficiência do esquema de segurança para proteger os torcedores estrangeiros. No plano interno, porém, a maioria dos torcedores gosta do técnico Felipão e do time que escalou e começa a reagir contra os que protestam.