quarta-feira, 18 de junho de 2014

Alianças esgarçadas

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 18/06/2014

Dilma Rousseff enfrenta o desafio de administrar os conflitos com o PMDB em âmbito regional. Na cúpula de sua campanha, porém, prevalece a tese de que o mais importante foi obtido com Michel Temer na vice : o tempo de televisão do aliado.

Caso o cenário eleitoral se mantenha durante a Copa do Mundo tal qual estava ao começarem os jogos, as disputas regionais formarão um grande xadrez político para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, principalmente, porque a média das pesquisas de intenção de voto reforça a expectativa de segundo turno. “A presidente Dilma Rousseff caiu, entre março e junho, 4 pontos percentuais, passando de 41,5% para 36,4%. Aécio Neves (PSDB) cresceu 7,3% e Eduardo Campos (PSB), 2,9 pontos”, ressalta o cientista político Murillo de Aragão, confrontando levantamentos dos diversos institutos de pesquisa. No mesmo período, “a soma dos adversários de Dilma passou de 22,5% para 34,9%”.

Nas simulações de segundo turno contra Aécio, Dilma caiu de 47% para 41,9%, entre março e abril. Aécio passou de 20% para 34,6%, ou seja, apresentou um crescimento de 14,6 pontos percentuais. Com isso, segundo Aragão, a vantagem da presidente sobre seu principal oponente diminuiu de 27 pontos para 7,3. Dilma também viu sua vantagem contra Eduardo Campos cair de forma significativa. Em março, a média das pesquisas indicava a presidente com 47% das intenções de voto contra 16% de Eduardo. Em junho, Dilma aparece com 41,8% e o candidato do PSB, 29,6%. Ou seja, passou de 31 pontos para 12,2 pontos.
  
A situação eleitoral se complicou para a presidente Dilma Rousseff, mas não a ponto de inviabilizar a sua reeleição, ainda que o “Volta, Lula” continue sendo um “espectro fantasmagórico” no Palácio do Planalto. O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, desde a convenção do PT em São Paulo, assumiu o protagonismo da campanha petista, ofuscando a presidente no debate eleitoral com o PSDB.


Além dos desgastes decorrentes da alta da inflação e das deficiências dos serviços prestados à população na saúde, nos transportes e na segurança pública, principalmente, Dilma Rousseff enfrenta o desafio de administrar os conflitos com o PMDB em âmbito regional. Na cúpula de sua campanha, porém, prevalece a tese de que o mais importante na relação com o aliado já foi obtido com a manutenção de Michel Temer na vice da chapa da reeleição: o tempo de televisão. Essa vantagem estratégica compensaria as dificuldades criadas nos estados pelos caciques peemedebistas com os quais o PT está em confronto. O chamado palanque eletrônico dispensaria a presença física desses aliados rebeldes na campanha.

Problemas regionais

Essa lógica comandou a decisão de Dilma no sentido de jogar fora do barco de sua reeleição o senador Eunício de Oliveira (PMDB), candidato favorito ao governo do Ceará. O PT esperou a convenção do PMDB sacramentar a coligação formal para fechar o acordo com o Pros do governador Cid Gomes e do ex-ministro Ciro Gomes. Os dois aliados deixaram o PSB para apoiar a reeleição de Dilma, que honrou o compromisso com a dupla de políticos cearenses. Eunício, diante da decisão, busca uma chapa com o ex-senador tucano Tasso Jereissati, que concorrerá ao Senado. É meio caminho para apoiar Aécio Neves.

Outros estados, como o Rio de Janeiro, fazem parte da lista em que há palanque duplo: Amapá, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina e Paraná. No Rio, o governador Luiz Fernando Pezão e o ex-governador Sérgio Cabral, candidato ao Senado, estão na campanha de Dilma, mas a direção regional comandada pelo ex-deputado Jorge Picciani já embarcou na campanha de Aécio Neves porque o PT manteve a candidatura de Lindbergh Farias, que é o quarto nas pesquisas.

Em São Paulo, o candidato da legenda, Paulo Skaf, hoje o principal adversário do governador Geraldo Alckmin (PSDB), já mandou recado de que não pretende ceder o palanque à Dilma. Na Bahia, o PMDB apoia a candidatura de Paulo Souto (DEM) contra o petista Rui Costa. No Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB) confronta o governador, Tarso Genro, que concorre à reeleição. Também há polarização entre PMDB e PT em Goiás, onde Iris Rezende (PMDB) enfrenta Antônio Gomide (PT); e em Mato Grosso do Sul, com a disputa entre Nelson Trad Filho (PMDB) e Delcídio Amaral (PT). No Acre, Bahia e Piauí, o PMDB está engajado na campanha de Aécio Neves (PSDB); em Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Roraima, os caciques do PMDB apoiam a candidatura de Eduardo Campos (PSB).

A aliança só está estabilizada no Distrito Federal e em Minas Gerais, onde o PMDB apoia as candidaturas do governador Agnelo Queiroz e do ex-ministro Fernando Pimentel, respectivamente, e nos estados de Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraíba, Sergipe e Tocantins, nos quais o PT pretende apoiar o PMDB.

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