quinta-feira, 12 de junho de 2014
Do jeito que o PMDB gosta
Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 10/06/2014
Dilma Rousseff quer o tempo de televisão do PMDB, mas também quer ser menos dependente da legenda no Congresso. Para isso, precisa mudar a correlação de forças no Senado e na Câmara, o que significa debilitar o PMDB eleitoralmente
O PMDB faz sua convenção nacional hoje, dividido como sempre. Uma ala majoritária apoia o governo e outra deriva para a oposição. A seção mais poderosa da legenda, o Rio de Janeiro, que trabalha a dobradinha “Aezão”, entrou com tudo na campanha do senador Aécio Neves, o pré-candidato do PSDB. Outra, liderada pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), vai de Eduardo Campos, do PSB. Quem mais se fortalece com a divisão, porém, é o vice-presidente da República, Michel Temer, que comanda o grupo majoritário e confirmará seu nome na chapa. Hoje, devido à queda nas pesquisas, a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição é refém do apoio formal do PMDB. Se isso lhe for negado, como querem os dissidentes, o “Volta, Lula”, que é uma espécie de brasa adormecida, renascerá das cinzas. Basta um sopro para virar um fogaréu.
Não deixa de ser uma grande ironia. Michel Temer foi muito hostilizado pela turma que cerca a presidente Dilma Rousseff, que nunca incorporou o aliado ao seu estado-maior. Pelo contrário, manteve-o sempre à margem do centro de decisões. Toda vez que o circo pegou fogo no Congresso, porém, foi a ele que o Palácio do Planalto teve de recorrer para estabilizar a base governista. É uma situação recorrente desde a campanha do impeachment de Collor: ninguém governa sem o apoio do PMDB. Quando o PMDB está dividido, entretanto, cresce a força de Michel Temer como fiador da aliança com o PT. Há outros caciques governistas com luz própria na legenda, a começar pelo ex-presidente José Sarney, mas o vice-presidente da República é hábil e paciente, sabe navegar em meio aos espinhéis nas águas turvas da legenda.
Isso significa que a presidente Dilma se deixou seduzir pelo PMDB? Não, é um casamento de conveniências, no qual o maior interesse é o tempo de televisão da legenda. A cúpula do PMDB sabe disso, mas vê na queda das pesquisas a oportunidade de exigir compromissos que até agora não conseguiu arrancar do PT. O caso mais emblemático é o do Ceará, onde o senador Eunício de Oliveira é candidato ao governo e ameaçava se baldear para a oposição. Dilma tem compromisso com o governador Cid Gomes (Pros) e o irmão dele Ciro, que se recusam a apoiar o aliado do PMDB. É uma situação complexa, que se repete em menor ou maior grau em outros estados. Bom cabrito, Eunício não esperneia como Jorge Picciani, que comanda o PMDB fluminense e já desembarcou da canoa governista. Mas quem o conhece sabe que tem sangue nos olhos, não vai deixar barato se o PT apoiar outro candidato no seu estado.
Dilma Rousseff quer o tempo de televisão do PMDB, mas também quer ser menos dependente da legenda no Congresso. Para isso, precisa mudar a correlação de forças no Senado e na Câmara, o que significa debilitar o PMDB eleitoralmente. Onde isso está sendo feito pelo avanço do PT, a reação dos caciques locais já está em curso e deve se expressar por meio da resistência à coligação, durante a convenção. Pode não ter peso inviabilizar o apoio formal à Dilma, mas, eleitoralmente, o estrago será grande. As dissidências estão a abrir caminho para a “cristianização” da petista caso a eleição vá para o segundo turno.
Vai ter Copa
A imagem do Brasil no exterior vai de mau a pior por causa dos protestos contra a Copa do Mundo, da violência e das greves em serviços essenciais. Apesar da intensa campanha de marketing dos patrocinadores do evento, o noticiário sobre o Brasil é muito negativo. O Palácio do Planalto perdeu a batalha no front externo, mas isso não significa que tenha perdido a guerra. Tudo dependerá do desempenho dos organizadores dos jogos e da eficiência do esquema de segurança para proteger os torcedores estrangeiros. No plano interno, porém, a maioria dos torcedores gosta do técnico Felipão e do time que escalou e começa a reagir contra os que protestam.
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