Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 18/052014
Ou
o governo gasta menos e foca, ou tira mais do bolso do contribuinte,
cujas prioridades não são sequer consideradas. Estão aí os gastos da
Copa
O jogo é jogado. O PT optou pela tática de disseminar o medo de mudança
entre os eleitores porque essa é a lei do menor esforço para conservação
do poder. Como se sabe, porém, o temor em relação ao futuro alimenta o
status quo. É uma velha tática do conservadorismo, que o transformismo
petista abduziu depois de quase 12 anos de poder. O problema é que o
governo não conseguiu dar conta das obras de infraestrutura
indispensáveis à retomada do crescimento, o que provocou generalizada
insatisfação do setor produtivo, e enfrenta ampla insatisfação da
população em relação aos serviços prestados pelo Estado, principalmente
nas áreas de transportes, segurança, saúde e educação.
Como não há tempo para resolver essas demandas, o Palácio do Planalto procura desqualificar a oposição. É do jogo. O cerne da estratégia do medo é acusar os pré-candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) de propor o desemprego e o arrocho nos salários para reduzir a taxa de inflação. "Um desempregozinho", como disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aproveitando-se do senso comum do trabalhador assalariado, cuja psicologia conhece bem, pois foi metalúrgico e líder sindical. É óbvio que qualquer assalariado prefere garantir o emprego, mesmo com a perda de poder aquisitivo, do que ter estabilidade de preços sem salário para receber no fim do mês.
Essa lógica, porém, não resolve a equação estabilidade com crescimento, que é única maneira de garantir os empregos e os salários, simultaneamente, bem como gerar investimentos em infraestrutura e melhorar a qualidade dos serviços públicos. No longo prazo, a inflação continuará ascendente, porque se torna inercial, e aí os empregos começam a ir para o espaço com os salários. A fórmula para resolver esse problema, na situação atual, é uma taxa de juros que mire os 4,5% do centro da meta; um superavit primário que reduza a dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e uma taxa de câmbio que garanta o equilíbrio das contas externas. Fora disso, nada impede que tudo possa piorar na economia.
Voluntarismo
Ocorre que a presidente Dilma Rousseff resolveu jogar esse "tripé" pela
janela ao concluir que garantiria mais capacidade de investimento do
Estado e maior produtividade da economia reduzindo a taxa de juros a
fórceps. Como crescer com inflação baixa não era apenas uma questão de
vontade política, a "nova matriz" não emplacou: os juros voltaram a
subir, a economia avança a passos de cágado e a economia começa a dar
sinais de que não conseguirá, pela inércia, manter o atual nível de
emprego.
Há mais exemplos de como o voluntarismo fez a presidente Dilma Rousseff
tropeçar nas próprias pernas: o Brasil poderia ter mais 10 mil
quilômetros de ferrovias, mas somente conseguiu dar sequência à
construção de 3 mil quilômetros da Transnordestina e da Norte-Sul.
Motivo: o modelo de concessão adotado é considerado uma roubada pelas
empresas interessadas no setor, que fogem das licitações. É mais ou
menos o que aconteceu com as estradas, até que governo decidiu recuar.
Construir ferrovias, porém, demora mais e custa mais.
Outro exemplo de que nem tudo depende de um ato de vontade: o truco nas empresas do setor elétrico, que o governo quebrou ao jogar as tarifas para baixo, sem garantir as margens de lucro necessárias aos investimentos e à própria operação. Agora, transfere recursos do Tesouro para garantir o funcionamento do sistema com a promessa de recuperá-los em 2015, quando, inevitavelmente, haverá um choque tarifário. A mesma coisa acontece com a Petrobras: o governo segura o preço dos combustíveis para manter a inflação na órbita dos 6,5% do teto da meta, mesmo que o preço disso seja a absurda desvalorização da empresa e o comprometimento de seus investimentos. É uma espécie de estelionato eleitoral.
Deixemos de lado os escândalos envolvendo ex-diretores da empresa, que há meses ocupam as páginas dos jornais. Para crescer 4% ao ano — e assim garantir o emprego e a renda familiar —, o Brasil precisa de taxas de investimento de 22% a 24% do PIB, mas a sua poupança está entre 14% e16%. De onde sairá esse dinheiro? Ora, só há duas maneiras: ou o governo gasta menos e foca, ou tira mais do bolso do contribuinte, cujas prioridades não são sequer consideradas. Estão aí os gastos da Copa.
PS: vou curtir 20 dias de férias, volto à coluna em 10 de junho.
"A fórmula para resolver esse problema, na situação atual, é uma taxa de juros que mire os 4,5% do centro da meta; um superavit primário que reduza a dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e uma taxa de câmbio que garanta o equilíbrio das contas externas. Fora disso, nada impede que tudo possa piorar na economia."
ResponderExcluirMeu caro, essa é apenas uma das alternativas, a mais ortodoxa possível. Não se precisa focar apenas no centro da meta de inflação (4,5%), nem jogar a SELIC pro espaço. O governo pode, por exemplo, estabelecer controle de capitais especulativos. A taxa de câmbio se desvaloriza "naturalmente" e as contas externas podem ser reequilibradas. Se insistir na redução da demanda para conter inflação, pode aumentar o depósito compulsório dos bancos junto ao BACEN, sem elevar a taxa de juros oficial
Quando uma empresa privada está em grandes dificuldades financeiras vai vivendo um dia de cada vez, vai “remediando” as contas, procura manter-se viva e ativa e “reza” para que o dia seguinte seja melhor. Uma coisa que não faz é admitir que está “quebrando”, pega um empréstimo aqui, faz um refinanciamento ali, e assim vai levando. A realidade das coisas seus credores, seus funcionários, seus agentes financeiros só descobrirão após a desgraça sacramentada, após o encerramento das atividades da empresa, mas aí, vai-se fazer o que não é? Aí é salve-se quem puder ou quem chegar primeiro e “recolher” o salvado da tragédia!
ResponderExcluirAssim está esse país não se iludam, pois os absurdos realmente devem aparecer depois das eleições caso este governo (como espero) não se reeleja. O próximo presidente terá uma das missões mais difíceis que alguém já teve... Lidar com os petistas derrotados, e tentar colocar a economia nos eixos, o que em quatro anos será impossível.
Espero que tenhamos aprendido a lição!
A. Guilherme