Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo |
Correio Braziliense - 21/06/2013 |
As manifestações de ontem, em mais de 100 cidades brasileiras, mesmo com o recuo em relação aos aumentos das passagens em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outros municípios, atingiram um novo patamar simbólico, em Brasília, com o cerco dos manifestantes ao Palácio do Planalto. É a primeira vez que direcionam seus protestos para o poder central. Ninguém consegue avaliar o que vai acontecer com o movimento, mas, ontem, houve bom senso dos manifestantes ao não tentar invadir a sede do Executivo. O Exército estava pronto para reprimir qualquer tentativa. Já no Itamaraty, elementos encapuzados tentaram invadir e incendiar o prédio projetado por Oscar Niemeyer. A presidente Dilma Rousseff, que hoje deveria estar em Salvador para um encontro com os governadores do Nordeste, cancelou o evento por sugestão do próprio anfitrião, o governador Jaques Wagner. E também a importante viagem que faria ao Japão. A presidente trabalhou o dia inteiro no Palácio do Planalto e, à tarde, acompanhou de perto o movimento. O vazamento de relatórios secretos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), surpreendido pelas manifestações, porém, revela um certo clima de "barata voa" entre os ministros da Casa. O general José Elito, responsável pela segurança da presidente Dilma Rousseff, foi para a frigideira. Só um assessor graduado da Presidência poderia vazar o documento, numa hora em que o aparato de segurança nunca foi tão necessário. Tensão no Rio O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (foto), do PMDB, acreditava que poderia esvaziar o Movimento Passe Livre com a redução das passagens. Ontem, a cidade registrou a maior manifestação do país, com uma inédita ocupação da Avenida Presidente Vargas, o que não ocorria desde o comício de encerramento da campanha das Diretas Já, em 1984. Os conflitos mais graves com manifestantes ocorreram justamente nas imediações da Prefeitura do Rio, cuja prédio é jocosamente apelidado de "Piranhão" pelos cariocas. "Desce, Paes, desce", gritavam os manifestantes, que tentaram invadir o edifício e foram reprimidos pela tropa de choque da PM. Emenda De autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), a proposta de emenda à Constituição (PEC) que propõe a inclusão do transporte como direito social, voltou a tramitar depois dos protestos do Movimento Passe Livre (MPL). O relator, Beto Albuquerque (PSB-RS), apresentou parecer favorável, e o assunto entrou na pauta de votação da próxima reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Direitos A Constituição garante os seguintes direitos: educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade, proteção à infância e assistência aos desamparados. Causas O Anonymous disputa com o Movimento Passe Livre a liderança dos protestos, que viraram uma Babel de grupos organizados nas redes sociais. Postou no YouTube um vídeo-manifesto, visto por mais 1 milhão de pessoas, intitulado As cinco causas: não votação da PEC 37; saída imediata de Renan Calheiros da presidência do Senado Federal; investigação de irregularidades nas obras da Copa; aprovação de lei no Congresso que transforme a corrupção em crime hediondo; e fim do foro privilegiado para autoridades. Prejuízo O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, calcula em R$ 175 milhões as perdas do orçamento municipal com a redução de tarifas. Um pouco mais do que deixou de arrecadar ao isentar os motoristas da inspeção veicular obrigatória, que rendia aos cofres da administração R$ 150 milhões Não foi O deputado José Antonio Reguffe, do PDT-DF, está sendo cobrado por aliados por não ter comparecido às manifestações. Preferiu fazer um discurso na Câmara de apoio ao movimento. "É sensacional, desde que entrei na política, é a melhor coisa que já vi. Mas precisa carrear essa força toda para algo, como, por exemplo, obrigar o Congresso a votar a reforma política", afirmou. Reguffe defende candidaturas avulsas sem filiação partidária, a revogabilidade de mandatos, a instituição do voto facultativo e o limite de uma única reeleição para cargos legislativos. Não deu Cerca de 200 militantes petistas, além do MST e da CUT, compareceram ao protesto na Avenida Paulista, seguindo orientação do presidente do PT, Rui Falcão. Ele conclamou sindicalistas e estudantes ligados à legenda a participarem do movimento. Foram, porém, hostilizados pelos manifestantes. O PSTU e o PSol também. Fazenda O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, divulgou nota desmentindo que tenha sugerido o nome do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é criticado por causa da situação da economia. No mercado, cresce a avaliação de que alguma coisa terá que ser feita para restabelecer a confiança na equipe econômica. Anistia A seção brasileira da Anistia Internacional encaminhou hoje cartas ao embaixador da Turquia no Brasil, Durmus Ersin Erçin, e ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, protestando contra as violações de direitos humanos naquele país, em decorrência da violência policial contra manifestantes. |
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