Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo |
Correio Braziliense - 22/06/2013 |
Intitulada Ouvir o clamor que vem das ruas, a nota do Conselho
Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) —
reunido em Brasília desde o dia 19 — prestou, ontem, solidariedade e
apoio às manifestações que acontecem em todo o país. "Desde que
pacíficas", ressalvam os religiosos. O alto clero brasileiro, em outras
ocasiões, reagiu de forma diferenciada, como na Marcha da Família com
Deus pela Liberdade, que ajudou a desestabilizar o governo de João
Goulart e deu sustentação social ao golpe de Estado de 1964.
Considerando as instituições tradicionais do país, foi o mais importante pronunciamento até agora. Antecipou, inclusive, à presidente Dilma Rousseff, que recebeu o presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida, ontem à tarde. "Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade." "Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude", brada o documento. O gigante Os bispos destacam que os brasileiros não estão dormindo em "berço esplêndido". E que o direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. Mas criticam a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento da liberdade de ir e vir, de pensar e de agir diferente, "que devem ser repudiados com veemência". O clero Além do cardeal Raymundo Damasceno Assis, subscrevem a nota dom José Belisário da Silva, arcebispo de São Luís e vice-presidente da CNBB; e dom Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, que comandam os preparativos da visita. E o papa? O posicionamento dos bispos ocorre numa hora crítica para a Igreja Católica do Brasil, que se prepara para receber no Rio de Janeiro, em julho, o papa Francisco e milhões de jovens brasileiros e estrangeiros que participarão da Jornada Mundial da Juventude. O evento está confirmado e a vinda do chefe católico não deixa de ser uma preocupação a mais para o Palácio do Planalto e o governador Sérgio Cabral (PMDB). Preocupação Responsável pela articulação com movimentos sociais, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, admitiu ontem que o governo está preocupado com a possibilidade de distúrbios durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. "Teremos de estar preparados para a Jornada ocorrer, inclusive, em um clima em que esteja ocorrendo manifestações no país", disse. Retirada O Movimento Passe Livre (MPL), que iniciou a mobilização contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo que culminou nas manifestações realizadas em todo o país, anunciou ontem que não vai mais convocar protestos. Na quinta-feira, o MPL abandonou a manifestação porque o PSTU e o PSol foram hostilizados por manifestantes. Aécio Outro presidenciável que estava na muda e se posicionou foi o senador mineiro Aécio Neves, presidente do PSDB, que distribuiu nota de solidariedade aos manifestantes. "Há um evidente e justo clamor que une a sociedade por mudanças estruturais na gestão do setor público e é inevitável ver, na raiz dessa insatisfação, uma aguda crítica à corrupção e à impunidade que persistem na base do sistema político, impedindo transformações e agredindo diariamente os brasileiros", disparou. Marina A presidenciável Marina Silva, que era cobrada por não aderir às manifestações, ontem, deixou muito clara sua posição: "Ninguém deveria estar surpreso, sabíamos que iria ocorrer. A internet ajuda a mudar tudo, a cultura, os negócios, as comunicações. Por que só a política não seria afetada?", escreveu em sua coluna de ontem na Folha de S.Paulo. "As pessoas não querem ser meras espectadoras, lugar em que foram colocadas pelos partidos que detêm o monopólio da política. Querem ser protagonistas, reconectar-se com a potência transformadora do ato político", disse. Da viúva O Governo do Distrito Federal avalia que a Copa das Confederações injetou na economia da capital federal cerca de R$ 22 milhões. Mas os custos do evento, porém, foram de quase R$ 42 milhões Telhado Reunião de emergência entre o Comitê Organizador da Copa 2014 e a CBF discutiu o impacto das manifestações no humor dos cartolas mundo afora. José Maria Marin e Marco Polo estão com medo de o Brasil perder a Copa de 2014, o que parecia inimaginável até então. Vários países já estão de olho no evento. Colaborou Leandro Kleber |
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