quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Debaixo de chuva

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
Reeleito no primeiro turno, o governador Sérgio Cabral enfrenta o momento mais difícil de seu governo, que ainda enterra como indigentes vítimas das chuvas na Região Serrana do estado por falta de condições para prévia identificação. Enquanto o Rio de Janeiro conta os seus mortos, Cabral tenta mobilizar recursos e agilizar o socorro aos flagelados, alguns ainda isolados.

Na manhã de hoje, haverá a primeira manifestação de protesto por causa das mortes na Região Serrana às portas do Palácio Guanabara. Será encabeçada por familiares e amigos das vítimas da tragédia. Ao contrário do que acontece na Baixada Fluminense, onde as enchentes ocorrem em áreas de antigos pântanos ocupadas nas décadas de 1960 e 1970, Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis são municípios de classe média, com mais qualidade de vida. Tradicionalmente, devido ao clima de montanha, são frequentados pela elite carioca, que lá mantém casas e sítios de veraneio. O impacto emocional do que ocorreu junto aos moradores da capital é tremendo.

A cidade do Rio, construída entre o mar e a montanha, reúne na GeoRio, ligada à Secretaria de Obras da Prefeitura, os maiores especialistas em contenção de encostas do país. O governo estadual, porém, nunca contou com uma estrutura semelhante. As prefeituras do interior muito menos. As tragédias de Angra dos Reis e do Morro do Bumba, que também chocaram o país, não foram o bastante para alterar essa situação. Talvez a manifestação de hoje, que promete tingir de vermelho a Rua Pinheiro Machado, sirva para obrigar o governo estadual a tratar do problema de maneira permanente e planejada.

Brutus

Irritado com as críticas que vem recebendo, o governador Sérgio Cabral contestou ontem que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) tenha avisado com a devida antecedência às prefeituras da Região Serrana sobre as fortes chuvas. Deu o chega pra lá na presença dos ministros da Defesa, Nelson Jobim; da Saúde, Alexandre Padilha; e da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. A entrevista foi encerrada às pressas e os ministros evitaram comentar o assunto.

Previdência

O pequeno município de Areal, que também foi atingido pelas chuvas, registrou grandes prejuízos, mas nenhum caso de morte. Virou exemplo de prevenção de catástrofes. O prefeito Laerte Calil usou um serviço de carro de som para alertar os moradores das áreas de risco de que as águas do rio que corta a cidade iria subir. Foi destaque na BBC de Londres.

Solidariedade

A propósito, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, mergulhou. É o grande ausente no movimento de solidariedade dos cariocas aos municípios atingidos pelas chuvas, o que certamente reduz a eficiência desse esforço na capital. Está mais empenhado nos preparativos do carnaval.

Prejuízos

A economia da Região Serrana, que tem a melhor agricultura do estado e muitas indústrias, entrou em colapso. Pesquisa feita com 287 empresas do polo de moda de Nova Friburgo revela que 62,2% foram afetadas em diferentes graus. A Firjan estima os prejuízos em mais de R$ 153 milhões

Liderança

O Palácio do Planalto mobilizou-se para localizar o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que estava em Paris. A missão era tranquilizá-lo sobre a eventual saída do cargo. A presidente Dilma Rousseff só vai decidir o seu destino depois da eleição da nova Mesa da Câmara. Líder do governo no Senado, Romero Juca (PMDB-RR) está na mesma situação.

Assume

A ministra Cármen Lúcia assume a presidência interina do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 31 de janeiro, quando acaba o recesso do Judiciário. Ao voltar a se reunir, a Corte decidirá se a eleição para senador no Pará continuará valendo. Jader Barbalho (PMDB-PA) e Paulo Rocha (PT-PA) obtiveram mais de 50% dos votos no estado, mas foram enquadrados na Lei da Ficha Limpa. Os ministros decidirão se o mandato será de Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e de Marinor Brito (PSOL-PA), que ficaram em 3º e 4º lugar, respectivamente, ou se convocam nova eleição para o Senado.

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