terça-feira, 19 de outubro de 2010

Repetir e simplificar

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos


É meio inevitável o maniqueísmo dos candidatos à Presidência da República neste segundo turno das eleições. Tanto Dilma Rousseff (PT) quanto José Serra (PSDB) disputam o voto de um universo de 8% de indecisos e sabe-se lá quantos eleitores vacilantes, que viram a casaca a cada debate ou programa eleitoral. Há, sem dúvida, aqueles que estão assaltados pelas dúvidas do que seria melhor para o Brasil e querem aprofundar os debates, mas não é para essa parcela que os candidatos estão falando.

A petista e o tucano estão à caça dos votos do eleitor mais "despolitizado", que não gosta ou é indiferente à política, mas que considera o voto uma obrigação - o que é de fato, embora seja possível justificar a abstenção. Para atingir esses eleitores perdidos no meio da multidão, o caminho escolhido é simplificar as propostas e repeti-las à exaustão. Os marqueteiros gostam de reduzir os debates às palavras-chave e ideias-força.

O problema é que essa estratégia - repetir e simplificar - acaba resultando nas mistificações, nas fórmulas fáceis e em falsos antagonismos que dividem a sociedade brasileira em temas nos quais a tolerância e a convivência sempre foram a marca registrada de nossa identidade nacional. O debate religioso sobre o aborto, que supostamente opõe bons e maus cristãos (sem falar nos ateus), e o discurso "pobres contra os ricos", que está se traduzindo num corte étnico do tipo negros e pardos contra brancos, são exemplos do que acontece. Repetir e simplificar apenas não resolve os complexos problemas do país.

Devagar

A cúpula do PT não quer marola na campanha até a eleição. Avalia que basta sustentar as posições atuais para vencer o pleito, uma vez que Dilma, segundo a última pesquisa Datafolha, ainda mantém seis pontos de vantagem em relação ao tucano José Serra. Dilma pretende insistir nas comparações entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso, criticar a gestão de Serra como governador de São Paulo e carimbá-lo como privatista por causa de sua atuação como ministro do Planejamento de FHC.

Cama de gato

O PT não gostou da pesquisa qualitativa encomendada pela Rede TV! para avaliar o debate entre Dilma e Serra. O grupo de 27 eleitores convidados para a análise no início dos debates se dividia assim: 23 indecisos, dois dispostos a votar em Serra e outros dois em Dilma. Ao fim do debate, o tucano tinha 14 votos, a petista contava outros seis, e sete eleitores permaneciam indecisos. O resultado da pesquisa foi parar no programa eleitoral de tevê. De Serra, é claro.

Extraordinária

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski, convocou sessões extraordinárias da Corte para amanhã e a quarta-feira seguinte, 27 de outubro. Quer limpar a pauta em relação aos fichas sujas.

O que será?

O programa de Dilma Rousseff, que será divulgado nesta semana, afasta a possibilidade de ingerência na mídia, mas propõe a expansão da democracia política, econômica e social. Como já vivemos numa democracia de massas, embora de caráter liberal, o significado desse entendimento certamente demandará muita polêmica. Por exemplo, qual a relação entre a democracia econômica e a propriedade privada?

Roupa suja

O pau quebrou ontem na reunião dos governistas de São Paulo que discutiu o que fazer no segundo turno. O senador Aloizio Mercadante (PT), candidato derrotado ao governo paulista, e o pagodeiro Netinho (PCdoB), ao lado do vice Michel Temer (PMDB), e do deputado Paulinho da Força (PDT), debateram muito mais a derrota do primeiro turno do que a retomada da campanha de Dilma. O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), preocupado com o rumo da prosa, questionou a conversa de derrotados. Vitoriosa mesmo, na mesa do encontro, só a ex-prefeita petista de São Paulo Marta Suplicy que se elegeu ao Senado.

E aí?

O tempo está fechando para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por causa da política cambial. O governo não consegue segurar a queda do dólar e a valorização do real dificulta as exportações. Resultado: invasão de produtos chineses e a perda crescente de competitividade da indústria nacional. Hoje e amanhã tem reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central.

Juros

A expectativa é que o Banco Central, apesar da enxurrada de dólares atraída pelos títulos públicos, mantenha a taxa básica de juros. Hoje, é de 10,75% ao ano

Na telinha / Estão programados mais dois debates entre Dilma Rousseff e José Serra, um na TV Record (dia 25) e outro na TV Globo (dia 29). No comando da campanha de Dilma, em razão de seu desempenho no debate da Rede TV!, no domingo, cresce a pressão para queela cancele o debate da Record e compareça apenas ao da TV Globo, na véspera da eleição. Dilma, porém, quer ir aos dois.

Gabinetes / Começou a corrida aos gabinetes dos senadores que não se reelegeram. Os mais cobiçados, pela localização, são os de Heráclito Fortes (DEM-PI), próximo ao Restaurante do Senado; de Antônio Carlos Magalhães Junior (DEM-BA), junto à Presidência; e de Aloizio Mercadante (PT-SP), com uma saída independente para os fundos do Congresso. O senador eleito Eunício de Oliveira (PMDB-CE), no alto de seus 2,6 milhões de votos, quer o de ACM Junior.

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