Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 22/02/2015
Cresce o estresse dos executivos que passaram Natal, ano-novo e carnaval na cadeia. Seus advogados negociam acordos de leniência das empresas e ameaçam recorrer a novas delações premiadas.
Ricardo Pessoa, presidente da UTC, ameaça falar |
Existem lugares onde o tempo congela no seu centro. Bilhões e bilhões deles: são os buracos negros. O físico Albert Einstein, com sua teoria da relatividade, mostrou que, quanto maior for a gravidade, mais lentamente o tempo passará. E nada tem mais gravidade do que um buraco negro. Quanto mais perto se chegasse de um, mais devagar se envelheceria, por exemplo.
Mas os buracos negros são lugares perigosos, não dá para ficar muito perto de sua gravidade monstro. Ao mergulhar num deles, a força que puxaria a cabeça de um homem seria milhões de vezes maior do que a que atrai os seus pés. Ele seria esquartejado. Mesmo um super-homem, se chegasse inteiro ao centro do buraco negro, o tempo lá fora se esgotaria para ele. E sua vida acabaria. Não teria para onde voltar.
A Operação Lava-Jato pode ser comparada a um buraco negro. Para os executivos e operadores que estão presos em Curitiba, parece que o tempo parou e que a vida aqui fora deixou de existir. Mas não só pra eles: a economia brasileira começa a sentir os efeitos da crise na Petrobras, com quebra de empresas e demissões em massa de trabalhadores do cluster petroquímico e metal-mecânico ligado à companhia.
Os Poderes da República também começam a gravitar no eixo do escândalo da Petrobras. E parece que a presidente da República, Dilma Rousseff, que pensa que pode tudo, agora resolveu desafiar a sua força de atração. Bem ao estilo petista, Dilma culpou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por tudo o que está acontecendo. Dica do marqueteiro João Santana.
Não importa que a roubalheira na Petrobras tenha ganhado escala inimaginável de bilhões de dólares durante o governo Lula. Nessa época, quando foi presidente do Conselho de Administração da estatal, e no seu próprio governo, se tivesse levado adiante a faxina do começo do primeiro mandato, Dilma poderia ter passado tudo a limpo.
A presidente da República disse que, se os casos suspeitos tivessem sido investigados durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o esquema descoberto pela Operação Lava-Jato não ocorreria: “Se, em 1996 e 1997, tivessem investigado e tivessem punido naquele momento, nós não teríamos o caso desse funcionário que ficou quase 20 anos praticando atos de corrupção”. Dilma resolveu arrastar os tucanos para o buraco negro da Operação Lava-Jato.
Além de levar uma “invertida” de FHC, a petista endossa a delação premiada de Pedro Barusco, o ex-executivo da Petrobras que acusou o PT de receber propina para a campanha eleitoral da legenda. Segundo ele, o ex-diretor de Serviços Renato Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, seriam os principais operadores do esquema. Portanto, para a campanha presidencial de 2010 cair no buraco negro, não custa nada.
Chantagens
Transformar a Lava Jato num Fla-Flu com FHC pode ser uma causa vã. Dilma quer se apropriar dos louros das investigações: “Hoje nós demos um passo, e para esse passo devemos olhar e valorizar. Não tem ‘engavetador da República’, não tem controle da Polícia Federal (…) E isso significa que o que está havendo no Brasil é o processo de investigação como nunca foi feito antes”. Para a opinião pública, é uma espécie de “me engana que eu gosto”.
Engajou-se o governo — o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a Advocacia-Geral da União(AGU) e a Controladoria-Geral da União(CGU) — numa operação com o Tribunal de Contas da União (TCU) para isentar as empreiteiras envolvidas no escândalo da responsabilidade pelos “malfeitos” investigados pela Lava-Jato, circunscrevendo o caso às pessoas físicas. O Palácio do Planalto tenta ainda mitigar os danos de imagem causados a Dilma pelo escândalo, abafar a crise na Petrobras e livrar o PT das consequências legais.
Cresce, porém, o estresse dos executivos que passaram Natal, ano-novo e carnaval na cadeia. Seus advogados negociam acordos de leniência das empresas e ameaçam recorrer a novas delações premiadas. As pressões e as chantagens sobre o Palácio do Planalto — e sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — só aumentam. Recrudesce o esforço dos advogados para afastar o juiz federal Sérgio Moro do caso e anular o processo para evitar que seus clientes sejam condenados.
Trata-se, porém, de um buraco negro. O Ministério Público Federal entrou com cinco ações na Justiça Federal para cobrar R$ 4,47 bilhões de ressarcimento das empresas Camargo Corrêa, Sanko, Mendes Júnior, OAS, Galvão Engenharia, Engevix e seus executivos.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito contra políticos envolvidos na Lava-Jato até 3 de março. O ministro Teori Zavascki, relator do caso no STF, quebrará o sigilo sobre o nome dos envolvidos.
Na quinta-feira, a nova CPI da Petrobras será instalada na Câmara, e a bancada do PMDB reivindica a relatoria, numa queda de braço com o PT. Ameaça indicar para o cargo o deputado Osmar Serraglio (PR), aquele da CPI dos Correios, cujo relatório resultou no processo do mensalão.
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