Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 24/12/2014
Dilma conseguiu negociar com
os principais partidos da base na bacia das almas. A Operação Lava-Jato
pôs de joelhos os caciques das legendas aliadas
A
presidente Dilma Rousseff, após um almoço com aliados no Palácio da
Alvorada, ontem, acelerou a formação dos ministérios, que terão forte
presença de políticos do baixo clero da base aliada. A maior surpresa
foi a indicação de Jaques Wagner (PT), governador da Bahia, a principal
estrela política da nova equipe, para o Ministério da Defesa no lugar do
embaixador Celso Amorim.
Cotado para o Ministério das
Comunicações e para as Relações Institucionais, Wagner foi consultado
sobre essa possibilidade por Dilma. Para surpresa dos aliados na Bahia,
que pleiteavam o Ministério da Integração Nacional, ele preferiu o
comando das Forças Armadas, cargo que nunca fora ocupado por um petista.
Além
da Defesa, o PT deve ocupar o Ministério das Comunicações, que será
chefiado pelo deputado Ricardo Berzoini. O petista poderá ganhar o
controle das verbas de publicidade do governo, esvaziando a poderosa
Secretaria de Comunicação Social, que passaria a funcionar apenas como
assessoria de imprensa. A cúpula do PT não abriu mão da pasta,
considerada estratégica para neutralizar os grandes meios de comunicação
do país.
Outro petista a ocupar uma posição-chave no governo
será o deputado Pepe Vargas (RS), que está em vias de ser confirmado na
Secretaria de Relações Institucionais, no lugar de Berzoini. Ele foi
ministro do Desenvolvimento Agrário no primeiro mandato de Dilma e faz
parte do grupo de gaúchos da confiança dela.
Também surpreendeu o
deslocamento de última hora do ministro do Esporte, Aldo Rebelo
(PCdoB), para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que não é
área de especialidade dele. Seu atual secretário executivo, Luís
Fernandes, cientista político e professor da PUC-RJ e da UFRJ, velho
companheiro desde os tempos da UNE, porém, já ocupou esse cargo no MCT e
deve acompanhá-lo.
Com apenas 10 deputados e internamente
dividido — uma ala da legenda queria a deputada Luciana Santos
(PCdoB-PE), ex-prefeita de Olinda, no Ministério da Cultura —, Aldo
acabou enfraquecido para permanecer no posto atual, disputado por
partidos maiores por causa das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. O
Esporte acabou no colo do deputado George Hilton (MG), do PRB.
De joelhos
A
negociação com o PMDB foi praticamente fechada. O pomo da discórdia
era a indicação do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN),
para o Ministério da Previdência. Citado na delação premiada do
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, Alves jogou a toalha no
almoço de ontem e pediu para sair da lista de indicações da legenda. O
PMDB, porém, ficará com seis ministérios.
Kátia Abreu na
Agricultura foi uma escolha pessoal da presidente Dilma Rousseff que o
PMDB do Senado assumiu como parte de sua cota. O líder do governo no
Senado, Eduardo Braga, vai para Minas e Energia. Era uma espécie de
reserva de mercado do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que encerrou a
carreira política. O atual ministro, Edison Lobão (PMDB-MA), foi
fulminado pela Operação Lava-Jato. A Secretaria de Portos será destinada
ao deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) como compensação pela perda do
Ministério da Previdência.
Eliseu Padilha assumirá a Secretaria
de Aviação Civil, no lugar de Moreira Franco, ambos aliados do
vice-presidente Michel Temer. Helder Barbalho, filho do senador Jader
barbalho (PMDB-PA), assumirá o Ministério da Pesca. Vinicius Lages,
indicado por Renan Calheiros, continua no Ministério do Turismo, com o
compromisso de ceder a vaga para Henrique Alves, caso nada seja com
provado contra ele na Operação Lava-Jato.
O ex-governador Cid
Gomes, depois de muito relutar, aceitou a pasta da Educação, para a qual
tentou emplacar o irmão, Ciro Gomes, ambos do Pros. Como estava
previsto, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) aceitou ir
para o Ministério das Cidades. Aguinaldo Ribeiro, que ocupava o posto,
será o representante do PP na Integração. O suplente da senadora Marta
Suplicy (PT-SP), Antônio Carlos Rodrigues, do PR, deve ser convidado
para o Ministério dos Transportes.
Dilma conseguiu negociar com
os principais partidos da base na bacia das almas. A Operação Lava-Jato
pôs de joelhos os caciques das legendas aliadas. Mesmo com a
constrangedora resposta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
de que não daria informações sobre o envolvimento de políticos no
escândalo. O simples fato de a presidente da República ter afirmado
publicamente que consultaria o Ministério Público sobre a situação dos
aliados deixou os aliados na retranca.
Esse é o ministério que o país merece. Infelizmente!
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