Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 13/08/2014
A economia está devagar quase parando. Há um cheiro de estelionato
eleitoral no ar. É uma situação irreversível a curto prazo
Pura ironia. O maior pessimista sobre os rumos do país é o Banco
Central, cujo Boletim Focus, que ausculta os humores do mercado, prevê
que o Brasil deve crescer abaixo da média da última década, com inflação
superior à meta de 4,5% e juros acima de 10% nos próximos quatro anos.
Detalhe: esse cenário vem acompanhado da previsão de que o novo governo
promoverá um tarifaço médio de 7% nos preços controlados (combustíveis,
passagens e contas de luz) e elevará ainda mais os juros, de 11% para
12%, para controlar a inflação.
Como refutar os agentes econômicos que fazem previsões desfavoráveis ao
governo com números como esses? Como fazer uma campanha de reeleição
prometendo mundos e fundos no próximo mandato nesse cenário? Essa é a
pergunta que os marqueteiros da presidente Dilma Rousseff terão que
responder nos 12 minutos de rádio e televisão do programa eleitoral do
PT, a partir do próximo dia 19.
Essas previsões são a síntese das projeções para a economia de cerca
de 100 analistas de instituições do setor público e privado. Têm
credibilidade muito maior do que a do ministro da Fazenda, Guido
Mantega, cujas projeções, nos últimos anos, foram sempre mirabolantes em
matéria de crescimento econômico. Há cerca de 12 anos — ou seja, desde o
governo Lula — o Banco Central traça esses cenários quadrienais.
Há uma grande contradição entre o que diz a presidente Dilma Rousseff e o
que se fala nos bastidores da área econômica do governo, onde já se
admite que a meta de contenção dos gastos públicos deste ano não será
cumprida. O governo faz ginástica na boca do caixa para mascarar as
contas do Tesouro, a chamada contabilidade criativa, o que gera ainda
mais pessimismo dos agentes econômicos.
A economia está devagar quase parando. Há um cheiro de estelionato
eleitoral no ar. É uma situação irreversível a curto prazo, segundo o
Banco Central admite nas entrelinhas das análises. Há 11 meses, as
previsões de crescimento sofrem amputações sucessivas. O PIB previsto no
Orçamento da União no início do ano era de 2,5%, caiu para 1,6% em maio
e deve chegar a dezembro em 0,81%. O consolo, em relação à baixa
atividade econômica, é a inflação, que deve ficar abaixo o teto de 6,5%.
A meta de 4,5% virou miragem.
Nem tudo são espinhos. A sorte é que a oferta de alimentos melhorou e
apresenta um cenário positivo até o fim do ano. Gerou uma deflação por
três meses seguidos no IGP-DI e no IGP-M, ambos da Fundação Getulio
Vargas, e um índice de inflação de apenas 0,01% no IPCA de julho, que
surpreendeu o mercado. Da mesma forma, o índice de variação de cesta
básica do Dieese apontou uma deflação, em julho, em todas as capitais
pesquisadas. Em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo
Horizonte, por exemplo, a queda foi de, respectivamente, 7,16%, 2,60%,
3,85% e 3,59%. Esse cenário estancou a queda da presidente Dilma
Rousseff nas pesquisas, mas não pôs fim ao mau humor, principalmente da
classe média.
Campanha
Ontem, em Anápolis (GO), a
presidente Dilma Rousseff fez veemente defesa do transporte ferroviário
como forma de reduzir custos de logística e aumentar a competitividade
dos produtos nacionais. Ao visitar trecho da Ferrovia Norte-Sul, disse
que o empreendimento funcionará como um “espinha de peixe”, integrando
vários modais de transporte em uma região central para o tráfego de
mercadorias.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recomendou à Valec
Engenharia o início dos testes no trecho entre Porto Nacional e Gurupi,
ambos no Tocantins, com a substituição de dormentes de madeira e a
reposição de peças roubadas. Ou seja, houve sucateamento desse trecho já
concluído.
A Ferrovia Norte-Sul teve início há 27 anos, no
governo Sarney. Segundo Dilma, só a partir do governo Lula as obras
começaram a avançar. Doze anos depois, portanto, a ferrovia ainda não
ficou pronta. Já não dá pra culpar a oposição.
Caro Azedo, como sempre seus comentários são preciso e esclarecedores. Mas a respeito do transporte ferroviário, e disto eu entendo, é simples saber se é prioridade: basta perguntar á Presidenta quantos km de ferrovia o governo dela ( se quiser pode somar com o do Lula também) conseguiu construir?
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