Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 12/08/2014
Enquanto Dilma Rousseff joga fora a vassoura que chegou a empunhar no
começo do governo para a faxina na equipe que herdou de Lula, a oposição sacode o tapete que
encobre os negócios da Petrobras
A presidente Dilma Rousseff quer pôr uma pá de cal sobre o caso
Pasadena, escândalo que ameaça apear do cargo a presidente da Petrobras,
sua amiga Graça Fortes, em razão de os diretores da empresa à época
estarem sendo responsabilizados por prejuízos causados à estatal. No
domingo, tentou interditar o debate sobre o tema nas eleições e blindar a
cúpula da empresa. “Não se pode misturar eleição com a maior empresa de
petróleo do país. Utilizar qualquer factoide político para comprometer
uma grande empresa e sua direção é muito perigoso”, disse.
Vai ser difícil evitar o assunto na campanha. Curioso nessa história
toda é que a própria presidente Dilma Rousseff tirou esse gênio da
garrafa, ao denunciar que a aprovação da compra da refinaria de
Pasadena, no Texas (EUA), por US$ 1,2 bilhão, foi feita sem que o
Conselho de Administração da Petrobras, que à época presidia, tivesse
conhecimento de cláusulas consideradas lesivas à estatal. Ao tirar o
corpo fora, Dilma jogou o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró e o
ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli aos leões da oposição.
Em fevereiro de 2006, o conselho aprovou a aquisição de 50% de Pasadena,
por US$ 360 milhões. O valor é muito superior ao pago um ano antes pela
belga Astra Oil pela compra da refinaria: US$ 42,5 milhões. Depois, a
Petrobras foi obrigada, por decisão de uma corte de arbitragem, a
comprar 100% da unidade, antes compartilhada com a empresa belga. Ao
fim, aponta o TCU, o negócio custou à Petrobras US$ 1,2 bilhão. A
suspeita de superfaturamento se tornou alvo de investigações da Polícia
Federal (PF) e do Ministério Público Federal.
Há duas versões para o gesto de Dilma Rousseff, que transformou uma
notícia de jornal — de que era presidente do conselho da estatal à época
— na maior crise política já enfrentada pela empresa. São faces da
mesma moeda. A primeira é de que Dilma já saberia que as investigações
sobre a operação poderiam resultar também na incriminação dos antigos
membros do conselho e, por isso, teria chutado o pau da barraca para
salvar a própria pele. O Palácio do Planalto trabalhou muito para evitar
que o TCU responsabilizasse os membros do conselho na semana passada.
Vassouradas
A outra versão é
de que o gesto foi um recado aos militantes do PT que articulavam o
movimento “Volta, Lula”, alguns dos quais envolvidos na Operação
Lava-Jato, outro escândalo que ronda a empresa, como o deputado André
Vargas, ex-vice-presidente da Câmara. Esse caso acaba de ser turbinado
pelo depoimento de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, à
revista Veja. Ela resolveu colaborar com as investigações. Um dos
principais envolvidos no escândalo de lavagem de dinheiro, recebimento
de propina e superfaturamento de contratos da estatal é o ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto Costa, que ameaça virar um “homem-bomba”.
Hoje, a presidente Dilma faz o que pode e o que não pode para salvar
Graça Fortes de um pedido de demissão, já que a presidente da Petrobras
está sendo engolida pela crise. A pedido do Ministério Público Federal
no Distrito Federal, a Polícia Federal até já abriu inquérito para
investigar se a presidente da Petrobras omitiu informações durante
depoimentos prestados ao Congresso sobre a compra da refinaria de
Pasadena e a existência de contratos entre a estatal e uma empresa do
marido dela.
Em depoimento à CPI do Senado em abril, Graça negou que Colin Foster
tenha negócios com a Petrobras. Ela esteve no Congresso para responder a
questionamentos sobre a compra da planta de Pasadena. Soube-se agora
que os depoimentos de Graça, de Gabrielli e de Cerveró foram facilitados
por integrantes da CPI, que teriam fornecido com antecedência aos três
depoentes as perguntas que fariam, supostamente com as respectivas
respostas.
Enquanto Dilma Rousseff joga fora a vassoura que chegou a empunhar no
começo do governo para a surpreendente faxina na equipe que herdou do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição sacode o tapete que
encobre os negócios da Petrobras. O candidato do PSDB, Aécio Neves,
cobra apuração sobre o esquema de propina montado por Alberto Youssef:
“Vamos aguardar que as investigações ocorram e que, se as denúncias
forem comprovadas, haja punição exemplar”. Eduardo Campos defende a
criação de uma “força-tarefa para (…)que instituições, como a Polícia
Federal, a Justiça e o Ministério Público, investiguem tudo para
esclarecer o que vem acontecendo na Petrobras”.
Será petróleo o que suja as mãos de Gabrieli e Lula?
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