quarta-feira, 7 de maio de 2014

Um bordo negativo

Nas Entrelinhas:Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 07052014

 Hoje, na sessão do Congresso, a CPI mista deve ser instalada. O governo não foi capaz de manter coesa a sua base e o PT, contrário à investigação conjunta, acabou isolado 

A presidente Dilma Rousseff tenta avançar contra a corrente como aquele velejador que não tem alternativa a não ser prosseguir no bordo negativo — que o afasta do destino — para se distanciar dos perigos da costa. Desde o fim de semana passado, quando tentou sepultar o “Volta, Lula” no encontro do PT, trabalha uma agenda negativa, que vai da CPI da Petrobras, cuja instalação virou uma novela, aos indicadores de emprego da pesquisa Pnad Contínua, que a cúpula do IBGE havia cancelado e, agora, voltou atrás. Essa agenda inclui ainda números desfavoráveis na saúde pública, apesar do Mais Médicos; problemas no setor elétrico e indicadores econômicos que abalam a credibilidade do governo junto aos investidores; e críticas generalizadas aos preparativos da Copa do Mundo, dentro e fora do país, além das ameaças de recidivas do “Volta, Lula”.
 
Ontem, Dilma se reuniu com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RN), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), numa tentativa de domar a instalação da CPI Mista da Petrobras, que o governo tentava evitar, restringindo-a ao Senado, no qual a base governista é mais segura. Faltou combinar com o líder da bancada do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que não foi chamado para a reunião e já disse que quer participar das investigações. Por mais que o governo consiga domar a CPI, esse é um jogo no qual se tem sempre mais a perder do que ganhar. Para a oposição, a lengalenga é até boa.
 
Hoje, na sessão do Congresso, a CPI mista deve ser instalada. O governo não foi capaz de manter coesa a sua base e o PT, contrário à investigação conjunta, acabou isolado. O posicionamento de Henrique Eduardo Alves liquidou o assunto: “A Câmara quer participar desde o primeiro momento. É a participação correta, democrática, transparente do Senado e da Câmara. Acho que o senador Renan Calheiros está certo em marcar a sessão do Congresso e pedir que os líderes indiquem os membros”, disse. O presidente da Câmara também descartou a possibilidade de a CPMI investigar outros temas além da Petrobras, como as denúncias de corrupção nas obras do metrô de São Paulo, como querem os governistas. 

Comparações
A estratégia do Palácio do Planalto para sair da defensiva é antecipar a polarização eleitoral e fazer um confronto entre os indicadores econômicos e sociais dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, procurando mostrar o comando de Dilma Rousseff como continuidade do projeto petista. Essa retórica ajuda a conter o “Volta, Lula” e arma o discurso partidário contra os adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), mas não mexe ainda com a cabeça do eleitor e tem a fragilidade de revelar uma curva decrescente quando os números chegam à gestão atual. 

Foi o que aconteceu na reunião da presidente da República com 20 de seus ministros na segunda-feira, ocasião em que o ministro Marcelo Neri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, fez uma leitura “por dentro” dos indicadores sociais e proclamou que “o resultado para os brasileiros é bem diferente do resultado para os economistas”.
 
Neri, que foi efetivado no cargo, mostrou como positivo um paradoxo: “Nestes 11 anos, a desigualdade cai e continua caindo. A renda média continua subindo”, disse, destacando que a variação da renda teve crescimento médio, segundo ele, de 3,5% desde 2005, ou seja, muito superior ao Produto Interno Bruto. Ocorre que não existe almoço grátis, como a renda sobe mais do que a produção nacional, a inflação se encarrega de corrigir essa defasagem, comendo uma parte dos salários. Outro paradoxo é a relação entre o acesso da população aos bens, que cresceu a uma taxa de 320% nos últimos anos e os serviços, que se expandiram apenas em 48%. Vem daí a insatisfação popular com o transporte público, a saúde, a educação e a segurança.

O general da Copa
O general de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, 62 anos, que estava há dois anos e oito meses no Comando Militar da Amazônia, assumirá na próxima terça-feira o Comando de Operações Terrestres. Sua primeira missão será a segurança da Copa do Mundo. “Temos forças de contingência para atuar em casos de emergência e forças de segurança para pontos estratégicos.”

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