quinta-feira, 8 de maio de 2014

A pátria de chuteiras



Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 08/05/2014

Por maiores que sejam os protestos dos insatisfeitos — pesquisa recente mostrou que a maioria da população gostaria que o dinheiro gasto com os estádios fosse destinado a finalidades mais sociais —, prevalecerá a máxima do jornalista Nelson Rodrigues

Ninguém mais tem dúvidas de que haverá Copa de Mundo. Fracassou o movimento de rua que tentou inviabilizar o evento. Nas 12 cidades sedes, o que haverá daqui pra frente serão protestos contra o governo por dar mais prioridade ao evento do que ao que acontece “da porta pra fora da casa” dos brasileiros. A expressão foi adotada pela presidente Dilma Rousseff para explicar o mau humor da maioria da população em relação aos transportes, à saúde, à educação e à segurança. “Da porta pra dentro”, segundo Dilma, vai tudo bem, obrigado, do microondas ao carro novo. Com exceção da inflação, é claro.

Ontem, o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, anunciou os 23 convocados para a Seleção Brasileira que nos representará nos jogos. O treinador manteve a base do grupo que conquistou a Copa das Confederações de 2013. O time teve boa aceitação, com exceção de dois nomes, o zagueiro Henrique, ex-jogador do Palmeiras que atualmente joga pelo Napoli, da Itália, uma espécie de “peixe” do Felipão, como diria o deputado Romário (PSB-RJ), e o veterano goleiro Júlio Cesar, que vacilou na última Copa, mas continua sendo ídolo da torcida do Flamengo e goza da confiança do técnico. Somente os atacantes Fred (Fluminense) e Jô (Atlético Mineiro) e os goleiros Jefferson (Botafogo) e Victor (Atlético Mineiro) jogam por aqui. Os demais jogadores brilham nos gramados estrangeiros, do Canadá à Ucrânia.

Para Felipão, o jogo mais importante da Copa do Mundo está marcado para 12 de junho, na abertura dos jogos, contra a Croácia. Será no polêmico Itaquerão, em São Paulo, que está sendo concluído a toque de caixa. A Seleção Brasileira já passou sufoco com os croatas, que são guerreiros e foram derrotados por apenas 1 x 0 na África do Sul. Se o time jogar mal na abertura, estará no sal, sob pressão tremenda da torcida, uma experiência inédita para os atuais jogadores e o próprio técnico. A última vez que o Brasil disputou o título mundial em casa foi naquele fatídico Brasil x Uruguai, na Copa de 1950, no qual perdemos a Copa nos últimos minutos do jogo. Se tudo der certo, veremos a Seleção jogar no novo Maracanã, no dia 13 de junho, para redimir o goleiro Barbosa, seus companheiros e o orgulho nacional.

Por maiores que sejam os protestos dos insatisfeitos — pesquisa recente mostrou que a maioria da população gostaria que o dinheiro gasto com os estádios fosse destinado a finalidades mais sociais —, prevalecerá a máxima do jornalista Nelson Rodrigues: “A Seleção é a pátria de chuteiras”. A segurança para as equipes e os torcedores será pesada e, se for preciso, o Exército tomará conta dos estádios. O que pode estragar a festa são eventuais excessos de manifestantes e/ou dos policiais encarregados de garantir a ordem nas arenas, principalmente, se houver alguma vítima. Mesmo assim, nesses tempos de linchamentos e de banalização da violência, somente uma minoria dará bola para isso, no caso de o Brasil sair do Maracanã com o caneco na mão. Se perder, é outra história…

A estrela de Chinaglia
O plenário da Câmara dos Deputados elegeu ontem o deputado Arlindo Chinaglia (SP) como primeiro-vice-presidente da Casa. Líder do governo, o parlamentar atropelou o deputado fluminense Luiz Sérgio na reunião da bancada do PT que o indicou, com apoio do Palácio do Planalto e da Executiva Nacional da legenda. A votação revelou, porém, uma profunda divisão na bancada, pois o placar foi 44 a 38. Luiz Sérgio representava o grupo de parlamentares do chamado “Volta, Lula”.

O cargo estava vago desde 16 de abril, quando o deputado André Vargas (sem partido-PR) renunciou para se defender das denúncias de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Com a eleição, Chinaglia passa a ser forte candidato à Presidência da Casa em 2015, pois há um acordo com o PMDB para que os dois partidos se revezem no comando da Câmara.

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