Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo Correio Braziliense - 03/03/2014 O senso comum de que o PMDB é governista e apenas faz chantagem favorece a presidente Dilma perante a opinião pública, mas encobre o fato de que os conflitos eleitorais entre a legenda e o PT se agravaram |
O Palácio do Planalto entrou em recesso de carnaval festejando as duas notícias mais relevantes da semana: o ano de 2013 fechou com um Produto Interno Bruto (PIB) de 2,3% em 2013 e a reviravolta no julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que absolveu oito condenados, entre os quais três dirigentes petistas, do crime de formação de quadrilha. São resultados que por si só não garantem vida fácil para a presidente Dilma Rousseff na campanha de reeleição, mas são importantes para a construção de um discurso com objetivo de mitigar os desgastes provocados tanto pelo baixo crescimento econômico como pelo envolvimento do PT no escândalo do mensalão. O resultado do PIB, por exemplo, permite dizer que o Brasil enfrentou a crise mundial com mais competência do que outros países, como fez o novo ministro-chefe da Comunicação Social, Thomas Traumann, ao rebater as críticas do Financial Times, que sugeriu a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o argumento de que crescemos mais do que a Inglaterra no ano passado. A revisão da condenação por formação de quadrilha reforça a velha tese do PT, de autoria do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, hoje advogado no processo, de que não houve compra de votos no Congresso, apenas caixa dois de campanha. O escândalo pôs na cadeia o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e os ex-deputados José Genoino e João Paulo Cunha. De Pirro Nada disso, porém, livra a presidente Dilma Rousseff das responsabilidades futuras. O resultado do PIB trouxe um certo alívio quanto às pressões dos empresários a favor do “Volta, Lula”, mas a inflação continua alta, o governo foi obrigado a contingenciar investimentos, o Banco Central elevou os juros a 10,75% e a balança comercial é um desastre. No curto prazo, de nada adianta o baluartismo: a recuperação dos Estados Unidos e da Europa causa a fuga de investimentos para os países desenvolvidos. A decisão do STF abre caminho para a derrubada imediata da condenação de João Paulo Cunha por lavagem de dinheiro e, provavelmente, para um pedido de revisão de todo o processo criminal, ou seja, a anulação do julgamento anterior, principalmente se o ministro Joaquim Barbosa antecipar a aposentadoria e o governo indicar mais um ministro alinhado ao Palácio do Planalto. Essa, porém, é uma agenda negativa. Pode ser uma vitória de Pirro, com impacto eleitoral negativo. Trair e coçar Mas o maior problema da quarta-feira de cinzas, sem dúvida, será a tensa relação com o PMDB, que endurece o jogo nas negociações da reforma ministerial. O senso comum de que o partido é governista e apenas faz chantagem favorece a presidente Dilma perante a opinião pública, mas encobre o fato de que os conflitos eleitorais entre a legenda e o PT se agravaram. Tanto que Dilma não foi citada sequer uma vez, nem pelo vice-presidente Michel Temer, no programa de televisão do PMDB. A legenda aliada está em disputa eleitoral com o PT em estados importantes — Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará, Mato Grosso, Tocantins e Amazonas. Na antevéspera do carnaval, a presidente Dilma Rousseff conversou com o vice Michel Temer sobre os palanques estaduais de PT e PMDB. Aposta-se num palanque duplo no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Ceará, no Paraná e no Rio Grande do Sul. É aí que mora o perigo. Como diz o ditado popular, para trair e coçar é só começar. |
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