Costuma-se explicar as diferenças entre uma
guerra de posições e uma guerra de movimentos comparando-se a Primeira
com a Segunda Guerra Mundial, na qual os alemães surpreenderam a Europa
com a velocidade e poder de fogo de suas blitzkriegs (guerra-relâmpago)
contra as velhas fortificações dos Aliados, como a Linha Maginot, que
fora construída pelos franceses na década de 1930 para proteger suas
fronteiras com a Alemanha e a Itália. Aqui no Brasil, um bom exemplo é a
Guerra dos Farrapos (1835-1845), na qual os republicamos gaúchos
desafiaram a Corte Imperial.
O escritor gaúcho Tabajaras Ruas, no
romance Os Varões assinalados, descreve a longa guerra de cavalarias, na
qual os farrapos só foram derrotados depois que o gênio militar de Luís
Alves de Lima e Silva, então Barão de Caxias, mudou a estratégia das
tropas federais, que até então se baseava na supremacia da artilharia e
da infantaria. Ao trazer para o seu lado o general farrapo Bento Manoel
com sua cavalaria, Caxias derrotou as tropas de Bento Gonçalves, o líder
dos revolucionários da República de Piratini. Não foi à toa que somente
as tropas gaúchas conseguiram derrotar os jagunços de Antônio
Conselheiro na quarta campanha da Guerra de Canudos.
Os
conceitos de guerra de posições e guerra de movimentos também são
empregados na análise política. Deve-se isso ao marxista italiano
Antônio Gramsci, ao mostrar que as tentativas de imitar os
revolucionários russos, que tomaram o poder de assalto em 1917,
resultariam em fracasso na Itália e em outros países do Ocidente com
estruturas sociais mais complexas. Grosso modo, porém, podemos usar os
conceitos nas análises eleitorais.
As vitórias de Jânio Quadros, em
1960; de Collor de Mello, em 1989; e de Luiz Inácio Lula da Silva, em
2002, são casos típicos de campanhas com características de guerras de
movimentos. Já a reeleição do presidente Lula, em 2006; e da presidente
Dilma Rousseff, em 2010, se caracterizariam mais como guerras de
posições, nas quais uma grande parcela do eleitorado, que até então
oscilava de um lado a outro nas eleições, já estava posicionada no
pleito: a população pobre beneficiada pelo programa Bolsa Família e
outras políticas de transferência de renda. Trata-se de 13,5 milhões de
famílias.
Grande coalizão
Estamos às vésperas de mais uma eleição com características aparentes de
guerra de posições. Preparam-se para o confronto uma ampla coalizão de
governo, que controla a União e a maioria dos governos estaduais,
representada pela presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer
(PMDB), com apoio do ex-presidente Lula. E oposições encasteladas no Sul
e Sudeste (principalmente São Paulo, Minas e Paraná), cujo candidato, o
ex-governador e senador mineiro Aécio Neves (PSDB), é apoiado pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardozo; e no Nordeste, sobretudo
Pernambuco, cujo governador, Eduardo Campos (PSB), é candidato e tem o
apoio da ex-senadora Marina Silva.
Com essa disposição de forças, a
disputa só deverá se resolver no segundo turno. A presidente Dilma
Rousseff vai à guerra, pois, em duas frentes de batalha, com uma postura
mais ofensiva do que defensiva, uma vez que o PT pretende não somente
reelegê-la, mas conquistar os governados de São Paulo, Minas e Paraná.
Sem falar de Pernambuco, onde não tem candidato próprio, mas apoia um
aliado. Ou seja, pretende cercar e aniquilar a oposição.
Redes sociais
Ocorre, porém, que a estratégia de guerra de posições que orienta a
campanha oficial pode não ser o bastante para vencer as eleições,
principalmente no segundo turno. Há uma terceira frente de batalha,
irregular, com características de guerra de movimentos, ou seja, Dilma
enfrenta um tipo de nova oposição, à margem das esferas de poder e dos
partidos, que emergiu das redes sociais em junho do ano passado e
permanece viva nos grandes centros urbanos do país.
Desta vez, não é a
grande massa de pobres excluídos, nem a classe média empobrecida o
imponderável na eleição, mas um contingente de 50 milhões de jovens
entre 15 e 29 anos, a maioria pobre, dos quais 10 milhões não estudam
nem trabalham. São descolados em sua maioria dos partidos políticos, mas
servem de base social para essa nova oposição. Ninguém sabe para onde o
contingente de eleitores que emerge dessa juventude pretende ir. É um
campo de disputa tanto para Dilma e como para os dois candidatos de
oposição, que buscam um discurso em sintonia com esses novos atores e a
adesão eleitoral de seus líderes.
Enquanto
se discute o passado e o presente, esses jovens querem antecipar o
próprio futuro, o que é sempre a forma de traduzir os sonhos de uma
geração. Ocorre que ele está comprometido por fragilidades fiscais,
deficiências de infraestrutura, falta de investimentos, educação
deficiente, dificuldades de acesso à cultura e ao lazer e a oferta de
empregos mal-remunerados ou que exigem alta qualificação, daí tanta
insatisfação.
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Caro Azedo, vc como sempre brilhante nas suas analogias e, esta, devo concordar com vc tbem, pois assim como o governo atual, como as classes politicas nao assimilaram as vozes das ruas, na estrategia politica esqueceram disto tbem, e vc lembra muito bem estes brasileiros que certamente farao diferenca nas proximas eleicoes. Com a internet, redes sociais fica tudo mais transparente apesar do governo do PT pretender a todo instante cercear a liberdade de imprensa. Se tivessemos uma terceira via, ou seja, alguem novo, certamente seria eleito, mas com estes candidatos postos ai, sera eleito o que mais proximo ficar destes brasileiros esquecidos...Aqui nos Estados Unidos, nada se da fora das redes sociais e o Obama ganhou as eleicoes justamente por ter ouvido essas vozes...Faco parte aqui da Organizing for Action Obama.com trata-se de uma organizacao nos 50 Estados Americanos tratando dos mais diversos assuntos e levando sugestoes para a casa branca, estando-assim o presidente conectado nao so com o que esta acontecendo nas comunidades diariamente, mas sintonizado com seus eleitores. Finalizando, parabenizo vc mais uma vez por lembrar deste importante batalhao, sem o qual ninguem ganhara mais eleicoes. Um forte abraco.
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