domingo, 29 de janeiro de 2012

Mãos da pesada

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 29/01/2012
A presidente Dilma Rousseff comanda o país com um olho na execução do Orçamento da União e o outro nos investimentos das empresas estatais e dos fundos de pensão. Nada mais natural diante da constatação de que o Brasil precisa caminhar com as próprias pernas — e pela própria cabeça — para atravessar a crise mundial sem ser arrastado para dentro dela.

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O seu governo gasta mais com custeio da máquina pública do que com investimentos: essas despesas encerraram o ano passado em R$ 140,2 bilhões, alta de 13% em relação a 2010; já os investimentos federais, que englobam as obras públicas e a compra de equipamentos, tiveram alta de apenas 0,8%, somando R$ 47,5 bilhões.

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Porém, isso garante à presidente Dilma um poder enorme do ponto de vista da relação com os agentes econômicos, principalmente as grandes empresas que prestam serviços ou dependem de financiamentos e da intermediação do Executivo para fazer negócios. Críticos do governo acreditam que a presidente Dilma adotou o capitalismo de Estado como modelo de desenvolvimento, como ocorre na China e na Rússia, com a diferença de que o Brasil é um país mais democrático.

Ordem unida

O poder de intervenção do governo na economia está muito focado no gasto público e no setor produtivo. Economista, a presidente Dilma sabe o que está fazendo. Derrubou o ex-presidente da Vale Roger Agnelli, demitiu o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli, restabeleceu o controle acionário sobre a NET (a TV Globo agora é sócia minoritária) e acaba de mudar todo o escalão intermediário do Banco do Brasil. Também está realinhando as relações do governo com as grandes empresas que têm negócios com o Estado, como acontece com as companhias de telecomunicação, energia elétrica, mineração e petroleiras.

É ou não é?

O que é capitalismo de Estado? Grosso modo, é a fusão das ações do governo com os interesses dos grandes grupos econômicos e financeiros. Na prática, no conturbado século 20, foi uma via autoritária de industrialização para os países do Leste Europeu e do chamado Terceiro Mundo que lograram esse objetivo, como o Brasil. Muito estudado pelos marxistas, aqui o capitalismo de Estado teve o seu auge durante o governo do general Ernesto Geisel. Pode ser uma beleza para a esquerda, quando se está no poder, ou uma desgraça, em caso contrário. Para liberais e social-democratas, era palavrão, mas, com a crise mundial, o modelo voltou a ser discutido por eles.

Quanto custa?

As mãos do governo na economia são mesmo da pesada. Os brasileiros pagaram R$ 969,907 bilhões em impostos federais e contribuições previdenciárias no ano passado. Houve um acréscimo de R$ 163,2 bilhões em relação aos R$ 805,7 bilhões recolhidos em 2010. Descontada a inflação de 6,5% (IPCA), o aumento real foi de 10,1%, para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que deve ficar abaixo de 3%. Essa foi a maior arrecadação já registrada.

Leão

Os setores da economia que mais pagam impostos são: entidades financeiras, com R$ 116,699 bilhões (+12,19%); comércio atacadista, com R$ 46,731 bilhões (+10,98%) indústria automotiva, com R$ 36,92 bilhões (11,61%); e comércio varejista, com R$ 23,372 bilhões (20,89%). A mordida mais forte do leão foi o Imposto de Renda, que aumentou a arrecadação em R$ 249,818 bilhões

Amizade//

Novidades na visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba na terça-feira: a Camex autorizou uma parcela de financiamento do BNDES às exportações brasileiras para o país de Fidel Castro no valor de US$ 230 milhões. Quanto aos dissidentes cubanos, tudo será como antes.

Holocausto

Judeu, o governador da Bahia, Jaques Wagner, promove hoje, em Salvador, a principal solenidade de comemoração do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Organizada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) e pela Sociedade Israelita da Bahia (SIB), terá a presença da presidente Dilma Rousseff e do embaixador de Israel, Rafael Eldad.

Sarrafo/ A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, aumentou o coro das críticas à operação policial na desocupação da área do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Defende os direitos humanos dos que foram retirados de suas casas, mas nega que o governo federal pretenda questionar na Justiça a atuação das autoridades paulistas no episódio. "Isso tudo é um absurdo", disse.

Expectativas/ A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulga amanhã o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) de janeiro. A pesquisa, feita entre 12 e 16 de janeiro, revela as perspectivas dos consumidores sobre inflação, situação financeira, desemprego, endividamento, renda pessoal e compras de bens de maior valor.

Hanseníase/ Hoje é o Dia Mundial de Luta contra a Hanseníase. Brasília receberá R$ 100 mil para ampliar as ações contra a enfermidade. O Distrito Federal possui um coeficiente de detecção de 6,81 por 100 mil habitantes. Somente em 2011, foram detectados 175 casos novos.

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